Moradores de Favela Protestam contra a Violência Policial e os Impactos da Copa do Mundo

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No dia 23 de junho, na véspera do aniversário de um ano da operação policial que matou 10 pessoas na Maré, uma manifestação ocorreu no Chapéu-Mangueira na Zona Sul do Rio. O protesto unia moradores de diversas comunidades sofrendo com as consequências associadas aos eventos que serão realizados no Rio–Copa do Mundo e Olimpíadas–como com a militarização das favelas através das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e as forças armadas, remoções a força, gentrificação e a criminalização da cultura local. A mensagem carregada em cartazes era que “a festa nos estádios não vale as lágrimas na favela”.

Segundo participantes do evento, o programa da UPP não está nem perto de alcançar sua promessa de levar paz e segurança pública para as favelas do Rio. Algumas mães das vítimas da violência policial da UPP estavam presentes no evento, incluindo Ana Paula Gomes de Oliveira, mãe de Jonathan de Oliveira de Lima de 19 anos que foi morto pela UPP de Manguinhos em maio. Ela desabafa: “estou aqui para pedir justiça no nome do meu filho e no nome de todos os jovens que foram mortos. Eu estou aqui para gritar que as favelas não podem ser silenciadas. Estou convencida que juntas, as favelas não serão conquistadas”. Ela e outros demandaram o fim da UPP e da militarização das favelas.


Crianças da comunidade pintaram cruzes que foram compiladas em um caixão preto decorado com manchas de mãos sangrando, um símbolo forte representando as tantas vidas que foram perdidas na “guerra contra o pobre” nas favelas. Outros pintaram na parede camisas da seleção brasileira com nomes de algumas das vítimas do estado, como Cláudia Ferreira que foi arrastada por um carro da polícia militar em março e Amarildo de Souza que foi torturado e morto pela UPP da Rocinha no ano passado, simbolizando o elo entre a Copa do Mundo e essas mortes. Tinha também capoeira, performances de funk e hip hop, incorporando o slogan do protesto, “Mais poesia, menos polícia”.

Membros do movimento feminista, professores, e muitos outros quem veem protestando nas ruas do Rio desde junho do ano passado estavam presentes em um ato de solidariedade com os moradores de favelas. Christina Baroni, do Movimento Feminino Popular, segurava uma foto de André de Lima Cardoso Ferreira, morto pela polícia da UPP no Pavão-Pavãozinho em 2011. Ela diz que a Copa do Mundo não pode mascarar o sofrimento e as mortes de jovens nas favelas e que o os protestos são importantes para unir as pessoas e os diferentes movimentos sociais para exigir justiça.

Manifestantes procuraram denunciar que a brutalidade policial e a violência letal são recorrentes nas favelas onde a UPP está presente, mesmo no meio do clima de comemoração de Copa do Mundo. Domingo a noite, horas antes do protesto de segunda, um tiroteio em várias partes do Complexo do Alemão resultou na morte do oficial de polícia Fabio Gomes da Silva, 30, e dos adolescentes Gabriel Ferreira, 17, e Lucas Lima, 15. Semana passada, Afonso Maurício Linhares de 25 anos estava apitando um jogo de futebol em frente a sua casa quando foi baleado e morto pela polícia da UPP de Manguinhos, ha apenas 6km do local onde o jogo Chile-Espanha estava sendo realizado.

 

No evento de segunda, antes de unir-se a todos com cartazes e faixas e marchar pela praia de Copacabana, por volta de 20 pessoas de diferentes comunidades e organizações deram seus depoimentos e pediram por mudança. Já em Copacabana, eles se uniram com outros manifestantes que estavam organizando o protesto chamado “FIFA, Go Home”, organizado pela Frente Independente Popular, marchando pela FIFA Fan Fest até o Pavão-Pavãozinho, onde o dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira foi morto pela UPP em 22 de abril. Assim como na marcha, os manifestantes protestaram contra as remoções forçadas, colocando cruzes com o nome das comunidades cariocas que atualmente estão sofrendo com os despejos. Juntos, manifestantes pediram o fim das remoções forçadas e o fim da militarização das favelas, e por investimentos em áreas de prioridade como educação, saúde e saneamento. Porém, com a compra de oito novos caveirões, que estarão a disposição para operações policias a partir desta semana, o difundido e crescente apelo por menos militarização parece que ainda não está sendo ouvido.