Amor pelo samba

Um retrato de Josimar Viana, por Henrique Ribeiro, ambos participantes do curso de Jornalismo da ComCat e novos autores do favela.info.

Foi na quadra da escola de samba Império Serrano que conheci o carioca Josimar, morador do bairro de Madureira. Com apenas 21 anos, o passista da escola de samba Império Serrano coleciona histórias sobre o carnaval e sobre a busca constante de ajuda para os moradores da comunidade onde vive e trabalha como líder comunitário. Religioso e apegado à família, o jovem diz que se tivesse o poder de mudar alguma nas comunidades ele começaria acabando com o preconceito.

Você trabalha como líder comunitário há três anos na comunidade onde vive. De onde surgiu o interesse para essa questão?

Tudo começou com meu pai trabalhando como eletricista comunitário no morro São José da Pedra, em Madureira. Graças a esse trabalho, chamaram-no para ser vice-presidente da associação de moradores de São José da Pedra. Depois a comunidade ao lado da que somos crias estava precisando de um presidente. Ele me colocou como vice da chapa dele.

Então você segue os passos do seu pai?

Sim. Com muito orgulho!

Você se sentiu pressionado a isso ou fez porque você quis?

Porque eu quis.

Você gosta do que faz? Ou se tivesse a oportunidade de trabalhar em outra área com um salário melhor você iria?

Eu trabalho com isso porque eu gosto, mas se aparecer alguma coisa com uma boa remuneração eu aceitaria sim.

Que tipo de emprego você busca?

Eu sou formado em produção de eventos. Gostaria de trabalhar nessa área.

Como você sabe, eu sou de Bangu e lá nós temos a escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Você gosta da nossa escola ou tem alguma rivalidade por ser do Império Serrano?

Na verdade, eu gosto da bateria da Mocidade, mas da escola eu realmente não gosto porque tem rivalidade sim.

Império Serrano é sua escola do coração?

Sim. Desde criança. Em segundo lugar fica a Portela e em terceiro a Mangueira.

Como foi essa aproximação com o samba e o carnaval?

Desde pequeno eu gostei de samba, sempre acompanhei minha avó, meus tios que iam aos ensaios da Portela e do Império Serrano.

Você desfila todo ano pela escola de samba?

Com certeza, mas esse ano fui viajar.

Você começa a se preparar para o carnaval desde o inicio do ano junto com a escola?

Sim, desde que a escola começa a se preparar. Vou à academia para me preparar e arrasar na avenida.

Conte um pouco de como é a sensação ao entrar na Sapucaí para brigar pelo título.

É uma emoção muito grande. É uma coisa que você se prepara o ano todo. Acaba naquele dia, porém meses depois volta.

Com quem você mora e como é sua relação com eles?

Moro com meus pais e minha sobrinha. Graças a Deus nossa relação é ótima.

Eles também gostam de samba, carnaval?

Não. O único que gosta de samba sou eu porque todos são evangélicos.

Você tem religião?

Sim. Sou evangélico, mas não sou aquele evangélico. Só vou à igreja às vezes.

Você vai à igreja porque gosta ou porque é pressionado pelos pais?

Hoje eu realmente vou porque gosto, sinto vontade de ir. Antigamente eu sentia muita pressão. Quando conhecemos a verdadeira palavra, de pouco em pouco seguimos adiante.

Muitas pessoas deixam de pular o carnaval. No caso dos evangélicos, eles vão para as ruas para evangelizar as pessoas. Você deixaria de desfilar na sua escola de samba do coração para evangelizar as pessoas na rua durante o carnaval?

Claro que não! Com certeza que não! Duvido que eu deixasse de pular meu carnaval.

Como você se sente fazendo parte de uma escola de samba sabendo que vocês se preparam o ano todo para esse evento e quando chega na hora dos desfiles, a maioria dos moradores das comunidades não pode pagar um valor tão alto pelo ingresso.

Eu acho injusto mesmo, cada escola deveria ter uma cota grande de ingressos para distribuir nas comunidades. Ou até mesmo que fosse cobrado um valor simbólico. Por exemplo, no setor um o ingresso mais barato que você compra sai por R$70,00, quando chega às mãos de cambistas chega a R$ 100,00 ou até mesmo R$ 120,00.

O que você mudaria nas escolas de samba?

Daria mais amor à escola e à comunidade.

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