Conheça a ONG com a Solução para Limpar a Baía de Guanabara [IMAGENS]

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No extremo norte de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, fica o bairro de Tinguá, lar de aproximadamente 5.000 pessoas, que possui cursos d’água que desembocam na Baía de Guanabara, e sendo o início da Reserva Biológica do Tinguá. Em frente à parada de ônibus do bairro fica a Onda Verde, uma ONG socioambiental dedicada a proteger as paisagens do entorno, promover a responsabilidade ambiental individual e unir a comunidade. Fundada em 1994, a organização tem uma longa história dedicada a educação de moradores locais sobre sustentabilidade e a promoção de programas educacionais para pessoas de todas as idades.

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Entender a importância da Onda Verde, de acordo com o fundador e gestor Helio Vanderlei, nascido e criado em Nova Iguaçu, requer algum conhecimento do legado do Império Português. Não muito depois que os portugueses chegaram ao Brasil, uma parcela significativa das florestas das encostas em torno do Rio de Janeiro foi destruída para dar lugar às plantações de café. Com o tempo, entretanto, os portugueses perceberam que muitas das nascentes e cursos de água que abasteciam a cidade haviam secado, e que o desmatamento havia sido a causa. Em 1882, Dom Pedro II regulamentou o reflorestamento na legislação, o que levou décadas, mas foi estabelecido o primeiro reconhecimento público da necessidade de proteger ecossistemas nativos para manter um suprimento de água. A maioria da população em Tinguá hoje é descendente dos trabalhadores e escravos que foram originalmente responsáveis por esse esforço de reflorestamento, e o sistema de abastecimento de água que eles construíram, inicialmente para o Rio, agora fornece 170 milhões de litros por dia aos 787.000 moradores de Nova Iguaçu.

Programas Ambientais

A Onda Verde é uma extensão moderna daqueles esforços em prol da sustentabilidade. Um projeto em andamento que espelha a era colonial é o Projeto Floresta Rio D’Ouro. A região do Rio D’Ouro é a principal contribuinte para a Bacia Hidrográfica do Rio Guandu, responsável por aproximadamente 80% da água que fundamentalmente abastece a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Terra reflorestada protege o solo da erosão e evita que as chuvas causem compactação do solo em grande densidade. Também fornece sombra que ajuda a regular a temperatura, o que é vital para a frágil biodiversidade do ecossistema ribeirinho. Como o técnico em reflorestamento Carlos Alfena explicou na margem do Rio D’Ouro: “A vegetação está crescendo…O trabalho de reflorestação é superimportante para a manutenção da vida do rio”.

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Uma estrada define os limites da zona de reflorestamento. À esquerda: área remanescente desmatada; à direita: a mesma área após dois anos e meio de reflorestamento.

Uma equipe de onze homens de Tinguá trabalhou regularmente no projeto na Reserva Biológica Federal (ReBio) do Tinguá nos últimos anos, removendo espécies invasoras e plantando árvores nativas. O processo leva três anos: dois para o plantio, e um para manutenção e proteção. Eles já plantaram 329.000 sementes, e sua equipe está nos últimos 6 meses do terceiro e último ano do projeto. O programa também incorporou atividades de treinamento no Laboratório de Ecologia e Restauração de Áreas Degradadas (LERAD), a fim de incentivar a pesquisa científica e fornecer apoio técnico ao projeto.

A visão da equipe para a terra envolve mais do que apenas reflorestamento–eles concordam que uma reserva biológica não é a melhor forma de conservação. A ReBio não permite o turismo, que poderia servir ao duplo propósito de angariar fundos e dar às pessoas uma razão para apoiar o meio ambiente, através da apreciação de sua beleza e gerando um ganho de renda além da conservação. “Para mim, devia ser um Parque Nacional”, disse Guilherme de Assis Rodrigues, um técnico em reflorestamento do Projeto Floresta Rio D’Ouro. “Se você vai ao Parque da Tijuca, existem pelo menos 40 pessoas trabalhando. Agora, a ReBio Tinguá tem duas”.

Educação Ambiental

Além dos programas de trabalho de campo, a Onda Verde tem uma variedade de programas educacionais que buscam cultivar a responsabilidade ambiental. Na maioria dos meses, seu Centro de Educação Ambiental (CEA) recebe produtores rurais toda semana para sessões de informação sobre práticas sustentáveis, ou oportunidades de financiamento em troca da adoção de determinados projetos ambientais. Na segunda-feira, 11 de julho, o foco foi uma iniciativa sustentável que começou originalmente no Paraná na década de 80. Essa iniciativa pretende fornecer a cada produtor rural inscrito até R$10.000 em financiamentos governamentais em troca de uma série de tarefas agrícolas específicas; especificamente, o programa tem como objetivo plantar coletivamente 1,7 milhões de sementes, criar 100 viveiros de sementes, e fomentar tomadas de decisões comunitárias entre os produtores rurais para fortalecer os laços comunitários, tudo ao longo de um período de cinco anos.

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A Onda Verde tem no total três instalações: o Centro de Pesquisa da Mata Atlântica, que abriga os quatro laboratórios, o Centro de Educação Ambiental (CEA), e o Centro de Educação Ecológica e Economia Criativa (CEEEC), que possui camas e um espaço de trabalho para voluntários e visitantes.

O CEEEC é a manifestação física da sustentabilidade ambiental da Onda Verde–todo o telhado é levemente inclinado para recolher água de chuva, que é coletada e abastece quatro tanques. Dois tanques tratam a água para que ela possa ser utilizada em chuveiros e pias, e os outros dois são usados para eletrodomésticos, como máquina de lavar roupa. O telhado também possui nove painéis solares, uma turbina eólica, e um aquecedor solar de água, que alimenta duas baterias que mantêm o funcionamento da casa. A maioria dos interruptores de luz possuem sensores e todas as torneiras possuem temporizador, tornando-se impossível desperdiçar recursos. Restos de comida e outros dejetos humanos são processados em um biodigestor sanitário, que recicla nutrientes e 100% da água tratada. Biodigestores são uma tecnologia eficiente e de baixo custo que estão sendo implementados para o reaproveitamento de resíduos alimentares ou mesmo esgoto em algumas favelas do Rio nos últimos anos. Finalmente, a própria casa foi construída através da reutilização de oito contêineres de 12 metros.

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Engajamento da comunidade

A Onda Verde atende todos os tipos de pessoas para promover seus ideais. Eles recebem visitas de campo de escolas primárias e secundárias de Nova Iguaçu, onde divertem e ensinam as crianças a usarem as instalações. Todos os anos, eles realizam o Festival de Educação Ambiental, que geralmente envolve até 800 crianças de escolas participando de atividades durante dois dias, incluindo arte com materiais recicláveis, uma feira de ciências de projetos ambientais, prêmios educacionais, um mercado agrícola e mais.

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Quando a cozinha não está sendo usada na preparação de eventos, o espaço é transformado em um restaurante-escola com o objetivo de ajudar as mulheres da comunidade que já têm seus próprios restaurantes, mas que nunca tiveram a oportunidade de ter aulas de culinária. Anualmente, o restaurante também é transformado em uma incubadora para jovens chefes de cozinha interessados em ter seus próprios restaurantes.

Do outro lado do corredor está a biblioteca, que tem um papel especialmente importante, uma vez que Tinguá não possui uma biblioteca pública. As mães Dulcinéria Rosa, Ama dos Santos e Fribuma Goulart têm se encontrado lá, duas vezes na semana nos últimos nove meses, para passar algum tempo juntas e costurar. Ao passo que elas aproveitam o espaço, elas também valorizam o efeito que a biblioteca tem sobre suas crianças. “Nesta localidade, a Onda Verde foi muito importante porque estávamos privados de criatividade”, disse Dulcinéia. “As crianças podem acessar a internet,  usar a biblioteca e aqui tem tudo que precisam para estudar”. 

Um dos mais recentes programas em andamento é o grupo de mulheres Meninas Criativas. Quatorze mulheres de vinte e poucos anos encontram-se quase que diariamente para realizar diversas atividades, que fundamentalmente as empoderam e melhoram sua auto-estima. Elas estudam francês, fotografia, teatro, ecologia, entre outros. Todas as participantes disseram que ao longo do programa estão vivendo um positivo crescimento pessoal. Elas afirmam que melhoraram seus relacionamentos, consciência social e a habilidade de resistir à discriminação. Esses foram apenas alguns exemplos citados por elas. “Eu comecei a olhar para mim mesma”, disse Lorena, que vem do Centro de Nova Iguaçu para a Onda Verde. “Agora eu entendo mais sobre direitos, sobre ser uma mulher, estudante e sobre sustentabilidade”.

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Outros desafios

A presença da Onda Verde em Tinguá não se consolidou sem luta. A aceitação do ambientalismo, conceitualmente, ainda está em andamento. Por exemplo, na viagem de volta do projeto Rio D’Ouro, havia uma pequena vertente de morro completamente devastada, não muito longe da estrada. O gestor da ONG, Helio Vanderlei, não soube explicar o porquê, mas ainda mais importante, ele explicou que mesmo que houvesse intervenção, o mesmo aconteceria em outro local a duas horas dali.

O laboratório de qualidade da água da Onda Verde, oficialmente Laboratório de Análises Físico-Químicas, se orgulha de possuir mais tecnologia que todos os outros do estado–mas, ainda assim, permanece fechado por seis meses. Hélio Vanderlei citou muitos motivos para não haver nenhum investidor patrocinando o laboratório atualmente, referindo-se principalmente à crise financeira que ocorre em grande parte do Brasil, mas fundamentalmente ele lamentou que “a pesquisa [ambiental] não é uma prioridade no Brasil. Toda universidade norte-americana possui laboratórios, na Holanda eles têm laboratórios. A pesquisa científica é fundamental nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, não é nada”.

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Muitos dos afluentes que desaguam na Baía de Guanabara nascem perto de Tinguá; poluição em qualquer parte destes rios compromete o resto dos corpos d’água e canais, portanto a proteção ambiental é algo difícil de gerir. Embora a Onda Verde trabalhe arduamente para combater a degradação desde a fonte, é impossível ter sucesso sem colaboração. No entanto, o governo do Rio optou por gerenciar os resultados da poluição, ao invés do problema de fato, criando ecobarreiras para capturar o lixo, mas fazendo pouco para gerir o constante fluxo de esgoto bruto que a Baía recebe.

Hélio Vanderlei também fala com pesar sobre o fato de que, agora, as organizações comunitárias sentem a responsabilidade de compensar o fracasso do legado Olímpico, expressando que as promessas do governo sempre “foram uma fantasia”. O metrô ainda não chega até Nova Iguaçu, a Baía de Guanabara ainda está notoriamente poluída e centenas de milhares de crianças de Nova Iguaçu ainda não têm qualquer tipo de centro cultural ou esportivo.

Apesar destes contratempos, a Onda Verde realizou e realiza coisas incríveis. Em sua essência, ela transforma Tinguá e todos os seus habitantes em algo maior que a soma de suas partes, provendo um espaço para os membros da comunidade melhorarem praticamente todos os aspectos de suas vidas. Uma visita às suas instalações ou eventos é um tempo bem empregado, e qualquer contribuição terá um bom destino.

Confira as nossas fotos do trabalho da Onda Verde (ou clique aqui para o álbum Flickr):