‘Favela Íntima’: Retratos da Vida Particular das Favelas e Seus Moradores [IMAGENS]

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Para o projeto “Favela Íntima”, o fotógrafo Antoine Horenbeek foi convidado a pernoitar nas casas de indivíduos e famílias que moram em algumas das muitas favelas do Rio de Janeiro: Morro do Timbau, Vila do João, Asa Branca, Cerro Corá, Guararapes e Santo Amaro. O projeto durou três meses, de outubro a dezembro de 2018. Conheça a motivação por trás do projeto e explore suas fotografias abaixo.

A intimidade, por definição, é oposta ao que é público. É compartilhada com apenas algumas pessoas—um parceiro, um membro da família ou um amigo próximo—e é um caminho para os nossos recessos mais profundos. De fato, fotografar a intimidade parece contraditório e quase intrusivo. Então, a intimidade ainda é “íntima” quando é capturada na câmera e exposta ao público?

Captar um vislumbre de espaços e momentos íntimos é o que eu esperava fazer ao passar a noite com algumas famílias que moram nas favelas do Rio de Janeiro. Tirei fotos dos momentos especiais que eles concordaram em compartilhar: momentos simples, fragmentos do dia a dia, retratos e lugares íntimos.

No Brasil, o termo “comunidade” é freqüentemente sinônimo de “favela”. Ao mesmo tempo, a noção de comunidade anda de mãos dadas com a da intimidade. Isso é evidenciado pelos espaços criados por moradores das favelas do Rio de Janeiro ao construir suas casas em primeiro instante para atender a uma das necessidades humanas mais básicas: abrigo. Suas casas os oferece seu pedaço de chão e a flexibilidade de controlar pelo menos este espaço, enquanto protegendo do mundo ao redor—muito além do mau tempo—de injustiças sociais e econômicas e decisões políticas que os excluem e os estimulam a criar e se organizar de maneiras alternativas nesta cidade.

As favelas—intimamente ligadas ao resto da cidade—assumem a forma de bolhas íntimas. Laços estreitos são tecidos pelas pessoas que moram lá. Moradores forjam e mantêm fortes relações com seus vizinhos. Nas favelas, uma lógica coletiva, de troca de ideias e recursos são frequentemente muito mais importantes do que no resto da cidade. Dois tipos de intimidade aparecem nessas fotografias: a intimidade familiar, que nasce e une os membros do lar, e a intimidade comunal, um tipo de presença que liga todos os lares e se estende pelas ruas estreitas e animadas.

Essas fotografias revelam partes da intimidade da própria favela—oferecendo uma janela para a vida cotidiana. Elas esperam demonstrar que é possível capturar a intimidade sem se opor (ou interrompê-la). Fotografar a intimidade permite que o público faça parte do círculo menor, mais apertado e mais restritivo de pessoas que geralmente compartilham momentos vividos pela pessoa ou assunto fotografado. É uma troca entre o sujeito fotografado e o espectador, e o momento é feito para durar para sempre ao passar pela lente do fotógrafo. Não se engane, essas fotografias não pretendem retratar “a realidade das favelas”, pois isso seria impossível. Existem tantas realidades quanto moradores. Essas representações de partes frequentemente desconhecidas de nossas cidades, em vez disso, ajudarão a humanizar as favelas para nós e para o resto da cidade da qual elas são, sem dúvida, uma parte fundamental.


Gabrielle, Maria Luísa e Carolina durante uma celebração familiar na Vila do João, uma das favelas da Maré—um complexo de favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Uma rua na Vila do João. A Maré é um dos maiores complexos de favelas do Rio de Janeiro.

Carlos Alberto, conhecido como Bezerra, em sua cozinha na Asa Branca. Ele foi um dos primeiros moradores desta favela, conhecida por sua atmosfera tranquila e agradável na Zona Oeste da cidade, e durante anos se dedica ao desenvolvimento de sua comunidade. Durante seu tempo como presidente da Associação de Moradores, os membros da comunidade construíram seu próprio sistema de esgoto, pressionaram as autoridades da cidade a pavimentar ruas e entradas e trabalharam para promover a segurança.

Pátios interiores na Vila do João, Maré.

Ricardo, um pintor e artista amado em sua comunidade, retratado em seu estúdio em casa, no Cerro Corá, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Ele é um membro do grupo Cerro Corá Moradores em Movimento e, ansioso para conhecer a história de sua comunidade, se juntou com outros membros da associação e organizaram o projeto do museu “Memórias do Cerro Corá” para relatar a origem da favela, que antigamente era o local de uma antiga fazenda gerenciada por escravos.

O quarto de Ricardo na pequena favela de Cerro Corá.

Bezerra, em um corredor interno do circuito de casas que ele divide com outros membros de sua família na Asa Branca.

Jovens jogando videogame em um beco tranquilo no Cerro Corá.

Matheus, à beira do adormecimento no Morro do Timbau, Maré.

Ricardo em um restaurante de rua e bar no Cerro Corá.

Um beco no Cerro Corá, uma pequena favela localizada no sopé da famosa estátua do Cristo Redentor. Cerro Corá está intimamente ligado à favela vizinha Guararapes.

Aqui, um churrasco é compartilhado por uma família para celebrar um aniversário na laje de uma casa na Maré.

Matheus, jovem estudante de artes cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), na casa que divide com um colega no Morro do Timbau, Maré. Ele é o criador de uma performance que simboliza a vida e a morte da vereadora Marielle Franco, assassinada em 14 de março de 2018. A política e ativista dos direitos humanos também era da Maré.

O andar superior do estúdio caseiro do morador do Cerro Corá e artista Ricardo. Nas favelas, é comum construir andares adicionais para acomodar membros da família ou expandir a casa de alguém. A duração do processo de construção pode levar vários anos, dependendo dos meios financeiros do proprietário em qualquer momento. As casas em construção, por vezes, parecem improvisadas, mas, na realidade, é o processo de construção que simplesmente ficou interrompido e será retomado mais tarde.

Jovens jogando videogame em um beco da favela Cerro Corá.

Maria, no terraço de sua casa, onde mora sozinha com sua filha Monalisa, de 21 anos. Nascida no interior de Minas Gerais, Maria se mudou para o Rio de Janeiro aos dezesseis anos para uma vida melhor. Depois de altos e baixos, ela mora na comunidade de Santo Amaro, uma pequena favela localizada na Zona Sul do Rio. Ela agora é grata por viver na “Cidade Maravilhosa“.

Veja todas as fotos da ‘Favela Íntima’ de Antoine Horenbeek abaixo (ou clique aqui):