Professor da Universidade de Columbia nos EUA Pressiona Prefeito quanto a Habitação Acessível

Mark Wigley, diretor da faculdade de Arquitetura da Universidade de Columbia, em Nova York, defendeu, repetidamente, uma proposta de habitação mais acessível para o Rio de Janeiro, em um debate com o Prefeito Eduardo Paes organizado pela Universidade de Columbia, no Teatro Ipanema no dia 28 de outubro. Cerca de 100 convidados da Universidade de Columbia e do gabinete do prefeito participaram do evento, que foi fechado ao público, mas com transmissão ao vivo on-line para uma audiência internacional.

Wigley abriu o evento com uma apresentação intitulada “Generosidade por Design”, enfatizando a necessidade de criar e promover generosidade nos bairros das grandes cidades. O prefeito usou o debate organizado pelo novo Centro Global da Universidade de Columbia, no Rio de Janeiro, para apresentar seu projeto Porto Maravilha de revitalização da área portuária. Ele também falou sobre os desafios de sediar as Olimpíadas e a Copa do Mundo dentro de um período de dois anos, e sua visão de uma nova forma de representação democrática, que aproveita o poder das mídias sociais e tecnologia.

A crítica central de Wigley a Paes é que ele não está priorizando a habitação acessível em seus planos de renovação da cidade. “Moradia acessível é a chave para reduzir a linha óbvia entre aqueles que têm e aqueles que não têm”, afirmou Wigley, que disse também ter imaginado uma zona portuária integrada com habitação mista que ligasse a primeira favela do Brasil, a Providência, com o porto. Durante sua apresentação, o prefeito foi enfático em dizer que nenhum dinheiro público seria gasto com a reforma do porto, e que o projeto seria totalmente financiado pelo setor privado. Wigley sugeriu que o prefeito reconsidere esta abordagem e gaste o dinheiro público especificamente para implementação de um projeto de habitação acessível.

O prefeito lembrou do anúncio feito no dia 19 de setembro que 2.200 unidades habitacionais seriam construídas na área do porto, através do programa federal de habitação Minha Casa Minha Vida, mas queixou-se de que as unidades habitacionais acessíveis sempre acabam sendo compradas dos moradores pobres pelos ‘meninos ricos’: “E nem adianta vir com leis dizendo que eles não podem vender, porque eles vendem assim mesmo”, disse ele . Os participantes do programa Minha Casa Minha Vida são legalmente obrigados a não venderem sua propriedade por um período de 20 anos. Apesar disso, Paes disse que “todo mundo vende”. Ele reconheceu que seu Assessor Especial para Questões Urbanas, Washington Fajardo, “diz que há caminhos para controlarmos isso… mas eu não vi ainda as soluções”. Wigley e Paes também debateram sobre o papel das favelas na sociedade carioca.

Ambos concordaram que as favelas são parte da solução dos problemas da cidade, mas Wigley sugeriu que Paes poderia aprender mais buscando por soluções dentro das próprias favelas. “A favela é melhor concebida, mais urbana e mais formal do que a cidade formal”, disse ele, alegando que as favelas são o lugar onde a “inteligência da cidade” está concentrada. “Você tem que ser mais inteligente para construir uma sociedade nas ladeiras de um morro, do que para comprar uma casa em um condomínio fechado”, disse ele.

Como parte do debate, Wigley e Paes responderam, através de vídeo on-line, a perguntas pré-selecionadas de outros Centros Globais da Universidade de Columbia em todo o mundo. Uma dessas questões, levantada pelo Centro Global em Mumbai, perguntou como abordar soluções quando favelas estão localizadas em ‘áreas nobres’. “A ideia de que as favelas ocupam área nobre é uma abordagem criminal”, disse Wigley, enfatizando o seu direito de estar lá e o direito à cidade. O prefeito lamentou dizendo que levar serviços e infra-estrutura para favelas nessas áreas leva a gentrificação, como ocorreu no Vidigal e Chapéu Mangueira, e disse que é uma luta criar habitação mista no Rio de Janeiro. “Às vezes eu desejo ser Fidel Castro para poder forçar as pessoas a não vender sua casa e viver lá para sempre”, brincou ele com a platéia.

A habilidade oratória de Paes defendendo o trabalho da sua administração estava clara. No entanto, a imagem do Rio e do trabalho da prefeitura que Paes descreveu para uma audiência internacional contradiz a experiência de muitos ‘na vida real’. Falta de participação, remoções forçadas, obras públicas paralisadas ou abandonadas e serviços básicos de má qualidade são todos problemas recorrentes das intervenções feitas pela atual administração nas favelas, que têm sido historicamente, e ainda são a única resposta da prefeitura para habitação a preços acessíveis.

Embora Paes tenha concordado que a melhor abordagem para as favelas é trazer os serviços públicos básicos para o local, ele não fez nenhuma menção de âmbito específico de programa ou prazos; um forte contraste com o seu TED talk em abril de 2012 em que ele se comprometeu a trazer melhorias para todos as favelas do Rio de Janeiro até 2020. O programa a que ele estava se referindo no TED talk, o Morar Carioca, está paralisado há meses com financiamento reduzido para a fase de planejamento participativo.

O debate foi o primeiro organizado pelo novo Centro Global da Universidade de Columbia, no Rio de Janeiro, a mais recente colaboração entre a prefeitura e a prestigiosa instituição nova-iorquina. Paes e Wigley se conheceram em 2009, quando Paes convidou Wigley para lançar outra iniciativa da Universidade de Columbia, o Studio-X Rio, um laboratório de planejamento urbano situado na Praça Tiradentes, que, entre outras iniciativas, está envolvido em trabalhos de consultoria com o Gabinete do Prefeito.