Esta matéria de Juliana Portella faz parte de uma série de cinco matérias de opinião sobre o impeachment por comunicadores populares publicadas no RioOnWatch.
Ju, como Juliana prefere ser chamada, tem 25 anos, é jornalista, redatora e trabalha com mídias sociais. Professora, Juliana também se dedica a dar aulas para jovens de um pré-vestibular comunitário na anti-penúltima estação de trem do Ramal Japeri: Queimados. Suburbana, mas cidadã do mundo, em meio a tantas andanças, os pés estão fincados numa ideia: construir um mundo mais justo e humano. “O que sou, anda sempre em construção”, ela diz.
O cenário político é delicado. Do que sabemos, a única certeza é: nada teria a dimensão alcançada sem o papel estrutural dos meios de comunicação de massa. Ilude-se quem pensa que à imprensa cabe somente a cobertura dos fatos.
Estamos sempre a refletir sobre o papel das mídias. Mas, para compreendermos o que é classificado como jornalismo, é importante analisar de que forma ele é concebido e o horizonte ideológico que ele significa. Também é super importante refletir sobre o que é notícia, o que é cobertura jornalística e de que forma ela é produzida.
Desde os tempos primórdios a mídia possui posicionamento. A intenção de formação da opinião pública é um dos objetivos mais marcantes da comunicação e todo mundo sabe disso. São frases repetidas à exaustão, invisibilização de todos os lados de um acontecimento, enquadramentos, palavras enunciados que fazem qualquer discurso perder sua neutralidade.
Há tempos estamos assistindo a Rede Globo propagar à atual gestão da Presidenta Dilma Rousseff como um fardo e o”pior governo de todos os tempos”. Uma narrativa convincente e descarada que está mobilizando parte expressiva dos brasileiros a pedirem o impeachment de um governo que foi democraticamente eleito. Um vexame midiático de constranger qualquer profissional. Uma atuação autoritária parceira de um judiciário que passa por cima da constituição.
Matérias proclamam “o governo está encurralado”, e “a Dilma não vai aguentar a pressão”. Até chegaram a se referir à Dilma como “ex-presidente”. Repórteres e comentaristas se revezando para enaltecer protestos de uma elite branca, a fim de jogar sobre os atos um peso decisivo sobre a política do país. O telespectador ficou até sem o filme da sessão da tarde no domingo do impeachment. Durante o programa do Faustão teve cobertura ao vivo das manifestações. Isso é grave!
No seu livro ‘Conceitos de Jornalismo‘, Michael Kunczik aborda questões muito importantes a se pensar nesses últimos dias. A vulnerabilidade do trabalho jornalístico, a obsessão pela notícia nos dias atuais, a cultura profissional dos jornalistas e da organização do trabalho, e a relação com os aspectos sociais que os envolvem. Como o jornalista escreve sobre uma situação ou objeto que por ele é totalmente desconhecido, e como ele escreve quando o objeto é conhecido?
“Um jornalismo objetivo e neutro, distanciando passivamente dos eventos de que trata. O oposto é o jornalismo ativamente comprometido, participativo e socialmente engajado, que promove causas. Na realidade essas duas imagens normativas não se excluem mutuamente. Um jornalista pode sentir-se igualmente comprometido com a reportagem objetiva e neutra e com uma obrigação social…” explica Kunczik.
Na possibilidade de adotar apenas uma das duas condutas apresentadas, a função do jornalista apresentada pelo autor como “defensor” é concebida como o suporte para causas sociais e seus próprios interesses. Este lado da prática jornalística representa, portanto, uma tentativa de mudar a estrutura social na qual se vive. Então, o texto jornalístico, trabalhado de tal maneira, teria mais poder de persuasão sob o leitor?
É evidente que um discurso e um contexto específico atinge efetivamente o público. A grande missão dos meios de comunicação de massa é a formação da opinião pública. O que isso nos diz é que o pau que dá em Chico dá em Francisco. Se o Facebook hoje conta com mais de 1,4 bilhões de usuários no mundo e 80% da população brasileira está conectada, o que estamos esperando?
É lógico pensar também que, após vinte e um anos de regime militar (1964-1985), a imprensa brasileira assumiu um novo papel. Passou a ser compreendida como agente central na construção da cidadania e também da democracia. Num país até então marcado pela repressão da censura, o marco da liberdade, no final dos anos 80, seria justamente um alívio e a reconquista de um direito fundamental, a liberdade de imprensa.
Este fato marcante na história nos faz compreender que a visibilidade é uma condição essencial para a cidadania, porém também nos faz entender como o jornalismo no Brasil é visto socialmente como ferramenta de utilidade pública.
O que fazer então com esse cenário montado, essa farra na produção e veiculação de informações, práticas e atitudes na TV? Se a imprensa pode atuar como partido político, deixem que digam os factóides deles durante o Jornal Nacional à noite, atacaremos com as #REDES durante o dia.