Em um artigo recente intitulado “Undervaluation of Informal Sector Innovations: Making a Case for Revisiting Methodology” (Desvalorização das Inovações do Setor Informal: Argumento para Revisão da Metodologia) publicado na revista acadêmica African Journal of Science, Technology, Innovation and Development (Revista Africana de Ciências, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento), Fayaz Ahmad Sheikh do Centro de Estudos de Ciência Política da Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Delhi, Índia, discute a marginalização e desvalorização das inovações do setor informal na literatura acadêmica dominante. Fayaz pede uma nova perspectiva para estudos futuros, distanciando o foco dos tropos econômicos ocidentais tradicionais de valor de troca, escalabilidade, e comercialização em larga escala.
Deve-se notar que já há algum tempo, qualquer produção acadêmica sobre o setor informal—uma intensa força na economia global caracterizada por empregos não registrados, nem regulados e frequentemente improvisados—deveria ser considerado um avanço bem-vindo. A natureza do mercado de trabalho informal infelizmente tem sido pouco estudado, apesar das estimativas de que dois a cada três trabalhadores no mundo serão empregados informalmente em 2020, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD).
Fayaz Ahmad Sheikh reconhece esse fenômeno e traça suas origens à Europa do século XIII, onde a aristocracia intelectual criou uma “indústria do conhecimento objetivo” usando seu capital econômico e político. Pode-se inferir que qualquer forma de trabalho ou conhecimento marginalizado, por estar fora dessas estruturas de elite, foi considerada indigna de estudos legítimos. Ele argumenta que uma confluência de religião, gênero e casta também desempenhou um papel prejudicial em várias partes do mundo através dos anos, negligenciando a importância do conhecimento e da inovação informal.
A análise de Fayaz discute o trabalho de um florescente campo de produção acadêmica, que emergiu de pesquisadores do Sul Global, que foca em quatro áreas distintas de conhecimento informal: (1) inovações de base comunitária/setor informal, (2) inovações de agricultores/apropriação de conhecimento e leis de propriedade intelectual, (3) tecnologias sociais, e (4) inovações sustentáveis de base comunitária.
Esses estudos observam que o setor informal tem características distintas em diferentes continentes e períodos de tempo. Notavelmente, a chave das inovações informais é o grau de “localdade” da identificação do problema, recursos disponíveis e interações de conhecimento. Essas inovações não são desenvolvidas para atender aos requisitos do mercado como conhecemos na economia tradicional, mas muito pelo contrário—elas são “para solucionar os problemas que os mercados possam ter deixado de solucionar”. Contrariando a lógica comum de que cidades e áreas urbanas geram inovação e crescimento, os estudos apontam que a maioria das inovações do setor informal emergem de ambientes rurais, geralmente com autoconsumo como maior demanda. Mas a motivação de autoconsumo local não significa que a criatividade seja perdida, já que muitas inovações informais não são projetadas tendo a maximização de valor em mente. Elas são repletas de escolhas de designs irreverentes e “anti-racionais”.
Outra característica citada, que se destaca, inclui a natureza “não codificada” do conhecimento informal; a natureza informal da educação recebida pela maioria dos empreendedores informais; e o maior nível de autonomia e liberdade experimentada por trabalhadores informais. Ironicamente, essas são duas características principais do ambiente de trabalho dito como ideal por estudantes de business do século XXI, que os trabalhadores de tantas empresas “inovadoras” no setor formal se esforçam para alcançar.
Fayaz Ahmad Sheikh conclui que, para avaliar verdadeiramente o valor da inovação no setor informal, é necessária uma mudança completa de paradigma—partindo da estrutura predominante que limita o “valor” a apenas o valor econômico e a inovação criada por meio da comercialização em larga escala. Estudos, em vez disso, devem ser elaborados com uma abordagem de pesquisa participativa ativa, co-criados com inovadores informais e conectados às suas realidades locais. Deixar de compreender as inovações promovidas pela economia informal à partir da lógica do mercado deve ajudar a revelar uma maior apreciação do conhecimento subjacente e da criatividade desse sempre presente e crescente setor.