Iniciativa: Favela Orgânica
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Ano de Fundação: 2011
Comunidade: Babilônia e Chapéu-Mangueira (Zona Sul)
Missão: Valorizar e compartilhar o ciclo do alimento através do respeito e amor ao que a natureza nos dá.
Eventos Públicos: Favela Orgânica oferece oficinas para adultos e crianças sobre a valorização do alimento e da culinária, plantações de hortas e yôga.
Como Contribuir: Participe dos eventos, torne-se um voluntário ou contribua financeiramente para a iniciativa.
Regina Tchelly sempre quis ser uma cozinheira diferente. Para Regina, que é originária do estado da Paraíba no Nordeste, a consciência sobre o desperdício de alimentos sempre foi um aspecto de sua vida. “Na Paraíba é comum a gente plantar, colher, aproveitar os alimentos. Então, a gente não joga alimentos fora”, descreve Regina.
Em 2001, Regina se mudou para o Morro da Babilônia, na Zona Sul do Rio, e começou a trabalhar como empregada doméstica. Ela percebeu que muitas pessoas no Rio não sabiam administrar seu próprio consumo. “A primeira coisa que me chamou muita atenção aqui no Rio foi a quantidade de desperdício de alimentos que tinha nas feiras livres”, lembra ela.
Sabendo que queria fazer mudanças, em 2011 Regina fez uma aplicação para um apoio de R$10.000,00 da Agência de Redes para a Juventude, uma iniciativa que fornece treinamento e recursos para que jovens desenvolvam iniciativas de impacto comunitárias no Rio de Janeiro. Embora seu projeto tenha sido aprovado nos estágios iniciais, Regina não foi selecionada para receber o recurso.
Regina agora com 37 anos, não desistiu. Menos de um mês depois, ela começou o Favela Orgânica—um projeto que busca reduzir o desperdício e mudar a relação das pessoas com a comida—na sua casa na Babilônia. “Comecei com R$140,00 e seis mães”, descreve Regina. A comunidade apoiou seus esforços e participou de suas oficinas: “Na segunda semana foram dez [mães], na terceira foram quinze, na quarta foram quarenta, e assim o projeto tomou uma dimensão muito grande”.
Hoje, com mais de 500 receitas exclusivas, não é apenas a comunidade do Rio que se alimenta da comida dela. Regina recebe voluntários de outras favelas do Rio, de outras cidades do Brasil e de todo o mundo. Ela ministrou oficinas e palestras no exterior na França, Itália, Argentina e Uruguai, além de participar de eventos como a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20 como parte do Favela como Modelo Sustentável, filme produzido para estrear na conferência em 2012.
Em 2017, Regina lançou seu próprio programa de televisão no Canal Futura, o Amor de Cozinha—que reflete o fato dela ser reconhecida como uma referência mundial para o consumo sustentável.
Apesar do sucesso internacional do projeto, as raízes do Favela Orgânica permanecem firmemente plantadas na Babilônia e na favela vizinha Chapéu Mangueira, no Rio. As oficinas do Favela Orgânica ensinam aos adultos e às crianças métodos criativos de cozinhar para aproveitar a comida em sua totalidade, e fazer compostagem com as peças realmente inutilizáveis. Os participantes da oficina aprendem a usar partes de frutas e vegetais que geralmente são descartadas—como cascas, caules e sementes—em receitas. “A missão é modificar a relação das pessoas com o alimento. Ver que uma casca, um talo, uma semente é comida, e comida de verdade”, diz Regina.
O projeto também inclui encontros com um buffet de pratos feitos com receitas de Regina. Sua inspiração para criar receitas vem de sua convicção em trabalhar com o que ela tem em mãos: “Se eu tenho casca de melancia, vou cuidar dela; se tenho casca de mamão, cuido dela; se tenho da banana, cuido dela. Assim a imaginação vem vindo”.
Às vezes, as pessoas chegam a achar que seus pratos vegetarianos têm gosto de carne. “É muito legal quando as pessoas comem risoto de casca de melancia e pensam que tem frango desfiado, quando é capelete de casca de abóbora as pessoas pensam que tem camarão”, disse Regina, rindo.
Outra parte da missão do Favela Orgânica é preservar e revitalizar o prazer na comida,”É a gente resgatar o que antigamente todo mundo fazia: se reunia pra cozinhar, comer e falar de comida”, disse Regina.
Com essa mentalidade, Regina é consciente de cada parte do ciclo do alimento, desde a produção até o descarte. Toda semana ela recebe, de mercados de agricultores, sobras que seriam descartadas. Ela também compra diretamente de produtores e usa vegetais de hortas comunitárias da Babilônia.
A comida de Regina não é apenas cheia de sabor, mas é saudável. João Batista, de 61 anos, é do Chapéu-Mangueira e começou a trabalhar com o Favela Orgânica há três anos, ministrando cursos sobre o cultivo de hortas. Depois de se aposentar, o Favela Orgânica deu a ele a oportunidade de realizar diferentes atividades para ajudar tanto a si mesmo quanto a comunidade. Trabalhar com o Favela Orgânica ensinou-o a comer mais vegetais e consumir menos sal, açúcar, óleo e gordura. “Eu faço as comidas que aprendi aqui”, disse João. “Isso também é bom para minha saúde”.
No futuro, Regina espera criar uma escola para mostrar às crianças como valorizar mais os alimentos que comem. “É isso que eu queria, que as crianças entrassem com 5 anos [na escola] e só saíssem com 10 entendendo toda a cadeia produtiva do alimento”, disse Regina. “E que cada uma dessas crianças tenha uma horta em casa.”
Por enquanto, Regina pretende continuar com suas oficinas e palestra, nunca esquecendo a comunidade que a ajudou a florescer. “Eu aprendo todos os dias que eu preciso cada vez mais ser humana e entender o que a natureza quer que eu faça por ela”, disse Regina. “É escutar a favela e deixar ela falar.”
*Favela Orgânica é um dos mais de 100 projetos comunitários mapeados pela Comunidades Catalisadoras (ComCat)—a organização que publica o RioOnWatch—como parte do nosso programa paralelo ‘Rede Favela Sustentável‘ lançado em 2017 para reconhecer, apoiar, fortalecer e expandir as qualidades sustentáveis e movimentos comunitários inerentes às favelas do Rio de Janeiro. Siga a Rede Favela Sustentável no Facebook. Leia outros perfis dos projetos da Rede Favela Sustentável aqui.