SOS Jardim Gramacho Mobiliza Moradores e Cooperativas de Reciclagem do Antigo Aterro Sanitário #RedeFavelaSustentável [PERFIL]

Perfil da Rede de Favela Sustentável*

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Iniciativa: SOS Jardim Gramacho
Contato: Facebook | Email
Ano de Fundação: 2015
Comunidade: Jardim Gramacho (Baixada Fluminense)
Missão: Mobilizar e conscientizar moradores, incentivando a reciclagem
Eventos Públicos: SOS Jardim Gramacho organiza um protesto público anual no aniversário do fechamento do aterro sanitário de Jardim Gramacho (3 de junho)
Como Contribuir: Participar nos eventos, ser voluntário e doar para a iniciativa e para as cooperativas de reciclagem

O SOS Jardim Gramacho é um movimento social dirigido por moradores para moradores. Fundado em janeiro de 2015, o projeto busca melhorar a qualidade de vida da comunidade do Jardim Gramacho, localizado na Baixada Fluminense, combatendo a “cultura de resíduos” que permite que consequências da criação e da coleta desestruturadas de resíduos sejam ignoradas. A iniciativa concentra-se em sensibilizar moradores para os benefícios da triagem de resíduos e colabora com cooperativas de reciclagem, empresas e outros movimentos sociais na Baixada para promover o aprendizado contínuo e apoiar oportunidades de geração de renda para os catadores de materiais recicláveis. “A gente sempre brigou pela melhoria do bairro, depois do fechamento [do aterro sanitário]. A promessa era que se tornasse um bairro moderno, teria escolas, praças, saneamento básico. Só que isso nunca aconteceu”, diz Jovelita Miranda, uma das organizadoras da SOS Jardim Gramacho.

Construído na década de 1970, e ganhando notoriedade mundial através da sua representação no documentário Lixo Extraordinário (indicado ao Oscar em 2011 e disponível aqui), o aterro de Jardim Gramacho era anteriormente o maior aterro de lixo da América Latina e um dos maiores aterros ao ar livre do mundo. Os catadores confiavam no enorme aterro para obter renda, subsistindo da coleta informal de materiais recicláveis para viver e prover suas famílias. Após o fechamento do aterro, a Prefeitura de Duque de Caxias concedeu uma compensação aos coletores cadastrados de materiais recicláveis, mas muitos ficaram de fora do acordo.

A prefeitura planejava transformar o bairro de Jardim Gramacho, mas o dinheiro nunca chegou. Quando as autoridades da prefeitura implementaram um sistema de coleta de materiais recicláveis na área circundante, apenas alguns bairros foram contemplados no projeto—Jardim Gramacho foi deixado de fora. “Jardim Gramacho não foi incluído na coleta seletiva porque a área que foi projetada para a coleta é uma área rica, é um ‘lixo rico’—lixo que certamente dá mais dinheiro do que o lixo de uma área mais pobre. Essa área [o bairro vizinho Vila São Luís] não é área uma favela, mas sim [no Jardim Gramacho] é considerada área de favela”, explica Jovelita.

Sem se intimidar, Jovelita e amigos seguiram em frente. “A gente então continuou a conversar com os moradores para criarmos o projeto. Eu fiz um cadastro onde a pessoa coloca o nome, endereço, telefone e levamos para o centro de triagem. Também criamos um grupo no WhatsApp onde a gente começou a inserir as pessoas que estavam fazendo parte e que vinham aderindo ao projeto. E a gente continua fazendo esse trabalho de pessoa em pessoa, inserindo essas pessoas no grupo, e aí a gente fica ligada com elas e a gente vai monitorando, elas também monitoram. Isso ajudou a dinamizar.” O centro de triagem inclui três cooperativas de reciclagem que estavam entre as que foram deixadas de fora do projeto original de coleta de reciclagem da prefeitura de Duque de Caxias. Atualmente, o centro fornece subsistência a 21 famílias.

O espaço do centro de triagem é alugado. A prefeitura pagou o aluguel e salários mínimos aos trabalhadores por um ano, mas o financiamento foi encerrado no final da administração do Prefeito Alexandre Cardoso em 2016. “Eles [da prefeitura] não estavam muito bem estruturados porque esse é um trabalho que exige investimento, divulgação, o trabalho de conscientização das pessoas, trabalho feito de porta em porta. Então, a gente, como moradores, procurou dar um suporte na conversação, também através de parcerias com movimentos maiores e mais fortes, como o Fórum Grita Baixada e a Casa Fluminense”, lembra Jovelita.

“Funciona assim: as pessoas que estão cadastradas fazem a separação do material em casa mesmo—essa é a conscientização que a gente faz. As pessoas separam os materiais recicláveis dos materiais orgânicos, que são colocados no lixo comum. Em seguida, o caminhão deles [do centro de triagem] passa e recolhe o material reciclável. Antes da coleta seletiva, as pessoas misturavam tudo, material reciclável com lixo orgânico. A prefeitura recolhe e leva para esses pontos estratégicos onde o lixo é prensado e depois tratado para depois ser enterrado.”

Desde o primeiro ano de apoio financeiro, a prefeitura forneceu apenas caminhões e gasolina necessários para a coleta de lixo, apoio com os documentos e licenças necessários e vários materiais. O aluguel do espaço e a renda dos trabalhadores são gerados integralmente pelas cooperativas, que lucram com o material de reciclagem, atingindo uma média de quatro a cinco toneladas por dia. Segundo a diretora de uma das cooperativas, o apoio da SOS Jardim Gramacho é crucial para garantir que a coleta e a renda dos catadores de materiais recicláveis continuem fluindo. “Estamos cientes de que o SOS [Jardim Gramacho] nos traz força. Jovelita é como uma madrinha nossa”, diz ela.

No entanto, Jovelita observa que as cooperativas do centro de triagem muitas vezes lutam para arcar com seus custos e ainda conseguem conceder apenas salários mínimos aos trabalhadores. É difícil manter o espaço sem o apoio da prefeitura ou de parceiros externos: o aluguel é caro e, em alguns dias, não há resíduo suficiente para coletar. Se essas cooperativas pudessem possuir o espaço onde operam, como prometido originalmente pela prefeitura quando o aterro de Jardim Gramacho foi fechado, diz Jovelita, muitas dessas questões poderiam ser evitadas.

Infelizmente, essa promessa não foi cumprida. As conversas de 2011 a 2013 entre a prefeitura, as cooperativas e os coletores de materiais recicláveis sobre a criação de centros de reciclagem para fornecer subsistência adicional não tiveram resposta. Enquanto a lei estadual do Rio de Janeiro autoriza o governo a financiar e apoiar cooperativas de reciclagem, Jovelita e seus colegas de trabalho criticam a falta de ação por parte das autoridades em uma área que se tornou simbólica quanto a promessas não cumpridas nas periferias do Rio de Janeiro.

É exatamente essa presença pública que Jovelita considera crucial para o bem-estar de sua comunidade e a continuidade da coleta seletiva no bairro. “O trabalho mais difícil foi começar, trazer a coleta seletiva para o bairro, fazer que os moradores tenham consciência. Eles já têm consciência porque, com o movimento, nós já fizemos manifestações três vezes, onde saímos nas ruas para divulgar nosso trabalho. Também temos uma página no Facebook que é bem acompanhada. Então, a população de Jardim Gramacho já tem consciência, mas não há como avançar se não houver ninguém para nos apoiar. Então, o que falta e o que esperamos é que nossos governantes façam a parte deles para ter continuidade [da coleta de recicláveis].” Esse é o papel do SOS Jardim Gramacho como um movimento: chamar a atenção para essas questões, pressionar pelos serviços necessários e lançar luz sobre a negligência das autoridades até receberem o devido atendimento e apoio.

*SOS Jardim Gramacho é um dos mais de 100 projetos comunitários mapeados pela Comunidades Catalisadoras (ComCat)—a organização que publica o RioOnWatch—como parte do nosso programa paralelo ‘Rede Favela Sustentável‘ lançado em 2017 para reconhecer, apoiar, fortalecer e expandir as qualidades sustentáveis e movimentos comunitários inerentes às favelas do Rio de Janeiro. Siga a Rede Favela Sustentável no Facebook. Leia outros perfis dos projetos da Rede Favela Sustentável aqui.