Sitiê: De Lixão a Parque Ecológico no Vidigal [IMAGENS]

Parque Sitiê, no Vidigal

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Concreto, equipamento quebrado e vegetação escassa compõem o “Parque Ecológico” oficial do Vidigal. Assim como muitos moradores, Felipe Paiva não ficou impressionado. A sua voz carregava mais do que uma pitada de ironia ao detalhar a construção: “A Prefeitura demoliu algumas construções para limpar esta praça, deixou as árvores ao redor e a chamou de parque ecológico”. Um balanço inacabado enquadrava o cenário com temas ultrapassados de investimentos governamentais irresolutos que definem muitas favelas. Mas Felipe continuou num tom mais positivo: “Lá em baixo, os moradores construíram um parque ecológico de fato”.

Parque ecológico

Após a descida do nosso grupo por uma escadaria feita cuidadosamente com pneus descartados, o contraste entre as duas iniciativas era impressionante. Uma rica composição de plantas e uma ornamentação inteligente nos deram boas-vindas ao Sitiê, um parque ecológico comunitário situado ao longo da encosta do Morro Dois Irmãos. Ao lado do convidativo arco de entrada, folhas brotavam do solo enchendo antigos vasos sanitários de cerâmica; borboletas amarelas voavam levemente de parada em parada; e uma planta em formato de balão com o nome engraçado de saco-de-velho brilhava quase transparente ao sol.

Andares de pneus em meio ao parqueCom uma vista para o oceano de um lado e um morro arborizado do outro, a localização do Sitiê quase parece uma escolha muito fácil para este tipo pitoresco de projeto. Mas, há menos de uma década, poucos teriam imaginado um parque como o Sitiê sendo construído onde ele fica hoje. O que era originalmente parte da Mata Atlântica tinha sido transformado em um depósito de lixo por anos de desperdício e negligência. Vitor, um dos fundadores do Sitiê, nos falou de geladeiras quebradas no meio de um espaço imundo—e do grupo original de cinco moradores que decidiu limpá-lo.

“Fizemos uma lipoaspiração na terra”, disse ele, recordando dias sob o sol quente, rodeado pelos cheiros e texturas do lixo. O pequeno grupo de fundadores vizinhos do local realizou um mutirão. Foi tudo trabalho manual, ele explicou, limpando um volume espantoso de lixo, 12 toneladas no total, movidos pela solidariedade e pelo desejo de um espaço de lazer verde e relaxante. Com o terreno finalmente limpo, o jardim e o reflorestamento foram alcançados através do apoio comunitário e de doações de plantas feitas pelo Jardim Botânico do Rio.

Vasos sanitários de porcelana viram vasos de floresA quantidade de imprensa estrangeira que a conferência Rio+20 trouxe para a cidade e para a questão da sustentabilidade ambiental desencadeou um interesse sem precedentes dos meios de comunicação pelo Sitiê. Embora o reconhecimento seja lisonjeiro, Vitor compartilhou a sua frustração com o resultado daquelas interações. “As pessoas entram com câmeras, tiram três horas do nosso tempo e energia e partem sem oferecer qualquer apoio ou recurso”, disse ele. Quando questionado sobre a ideia de gerar renda pelo projeto, Vitor mostrou-se aberto, mas hesitante. “Não fizemos isto por dinheiro”, disse ele. “Estamos abertos a doações, mas tudo o que eu queria era um bom lugar para tomar uma caipirinha e ouvir música calma”. Ele também ponderou sobre especulações de que o governo interviria para se apropriar de algumas das realizações do Sitiê com a justificativa de integração.

Alimentadores de pássaros feitos com material reciclávelO passado, presente e futuro do Sitiê carregam algumas questões prementes enfrentadas pelo Vidigal e por muitas das outras favelas do Rio. Ao nível mais óbvio, a destruição ambiental e o acúmulo de lixo que tornaram o mutirão necessário estão longe de ser um incidente isolado. Durante a nossa saída, há poucos minutos na descida do morro, Felipe chamou nossa atenção para um vale de lixo que estava se acumulando logo abaixo de onde estávamos. “Este era um rio nos anos 1980”, disse ele, “mas as pessoas continuaram a jogar lixo para dentro dele e, eventualmente, acabou secando”.

Camadas de negligência por parte de moradores desinformados e de um governo ausente alimentaram este problema. Embora existam latas de lixo e garis trabalhando, seus serviços não têm a amplitude necessária para evitar que a situação se agrave. Em dias de chuva, sacos de lixo podem ser vistos deslizando com a enxurrada morro abaixo. “É um lugar imundo”, disse um morador que nos alcançou durante o nosso passeio pelo morro mais cedo naquela manhã, “e só está piorando. As pessoas de fora entram para admirar as partes boas, mas a verdade é que é uma bagunça”.

Vista do Morro do VidigalEssa fala do morador junto à crescente atenção dos meios de comunicação ao Sitiê nos leva para o outro lado da difícil posição em que o Vidigal se encontra. À medida que as impressionantes alturas, vistas costeiras e espaços ecológicos do Vidigal se tornam mais conhecidos e cobiçados, a demanda por moradias aumenta e os preços sobem para além do que muitos moradores são capazes de pagar. Investimentos públicos podem contribuir para este avanço da especulação. A situação demanda bastante atenção e cuidado por ambos os lados da equação: que tanto os moradores como o governo trabalhem em conjunto para melhorar a qualidade de vida no Vidigal e, ao mesmo tempo, procurem mecanismos para manter os preços estáveis e acessíveis.

Garrafas pet são reutilizadas por todo o parqueO Sitiê continua a abordar a primeira parte desta equação, desenvolvendo uma cultura de responsabilidade ambiental através da promoção da participação da comunidade e da pura energia da sua presença. Esta ética está presente nas garrafas usadas para decoração e na escrita na parede que proclama em voz alta: “A natureza depende de você!” As crianças riam e brincavam no meio das plantas e dos sinos de vento durante a nossa visita—crianças para quem o Sitiê oferece suas aulas de jardinagem. Vitor, recordando a resiliência de seu próprio corpo ao lixo e ao calor, afirmou: “Sou imune a acidentes. A terra protege quem quer que se encarregue dela”.

Veja Essa Apresentação de Slides sobre o Adorável Parque do Vidigal (aqui):

Sitiê Eco-Park in Vidigal


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