![Rê Tinta, personagem de história em quadrinhos criado por Estevão Ribeiro. Rê Tinta, personagem de história em quadrinhos criado por Estevão Ribeiro.](https://rioonwatch.org.br/wp-content/uploads/2022/10/Re-tinta-personagem-de-historia-em-quadrinhos-criado-por-Estevao-Ribeiro.-e1665514988960.jpg)
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Nesse Dia das Crianças, o RioOnWatch traz uma iniciativa inovadora que está afrobetizando crianças pretas fluminenses e ensinando seus colegas de classe a serem antirracistas. Tudo começou através de quadrinhos, mas está se tornando uma política social, que leva, para os pequenos, livros de autores pretos e rodas de leitura.
A afrobetização é um ato de aliar alfabetização e educação antirracista na primeira infância. O termo, que vem ganhando espaço na última década, tem como princípio que ninguém nasce racista. Por isso, compreende a importância de empoderar crianças, contribuindo com a diminuição dos danos do racismo estrutural.
Representatividade
Pai de gêmeas de seis anos, ambas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e negras, Estevão Ribeiro decidiu agir contra a falta de representatividade para crianças pretas nos quadrinhos e livros infanto-juvenis. A paternidade fez com que Estevão, 43, criasse a Renata Tinta, Rê Tinta para os íntimos, em 2018. Os quadrinhos antirracistas empoderam e afrobetizam crianças e adultos, através de críticas sociais que refletem o racismo estrutural em suas tirinhas. E já viraram dois livros: Rê Tinta: Preta, logo resisto e Rê Tinta e o pé de jamelão.
Nascido e criado em bairros periféricos da capital do Espírito Santo, Estevão mudou-se para outros territórios de vulnerabilidade ao migrar para o Rio de Janeiro. Atualmente morador da periferia de Niterói, já morou no Beltrão, no Fonseca e atualmente mora em Santa Rosa. Em sua obra, além de temas relacionados à raça, Estevão permeia temas como religião, paternidade e maternidade, política e ancestralidade, sob a perspectiva negra. Rê Tinta já conta com quase 15.000 seguidores no Instagram.
“A gente tem o papel de educar também. A gente tem que compartilhar nossos conhecimentos, como os mais velhos compartilhavam com a gente. A gente aprende muito através das histórias. Então, assim como uma pessoa na comunidade conta as histórias, os griôs contam as histórias ocorridas. A gente também está contando para nossa aldeia, que é uma aldeia muito dispersa.” — Estevão Ribeiro
![Rê tinta lembra todas as mães, inclusive as mães de vítimas do Estado Rê tinta lembra todas as mães, inclusive as mães de vítimas do Estado](https://rioonwatch.org.br/wp-content/uploads/2022/10/Re-tinta-lembra-todas-as-maes-inclusive-as-maes-de-vitimas-do-Estado.jpeg)
Trajetória, Obstáculos e Inspiração
Estevão Ribeiro sempre amou desenhar e começou aos 14 anos. Aos 21, publicou seu primeiro quadrinho no Jornal Notícia Agora, do Espírito Santo. Quando se mudou para o Rio de Janeiro, há quase 15 anos, publicou suas tirinhas nos jornais O Dia, Meia Hora e Extra. Em 2008, criou a tirinha Os Passarinhos, publicada no Brasil, na Nicarágua, em Portugal, no Panamá e no Equador.
![Rê tinta sobre o abandono paterno de crianças negras Rê tinta sobre o abandono paterno de crianças negras](https://rioonwatch.org.br/wp-content/uploads/2022/10/Re-tinta-sobre-o-abandono-paterno-de-criancas-negras.jpeg)
Ser um homem negro e pai de duas meninas negras autistas fez com que Estevão pudesse criar uma personagem empoderada, que está educando outras crianças como as filhas dele.
“Sou pai de meninas gêmeas e elas estão no espectro autista. Uma delas tem um pouco mais de dificuldades com a fala, então, há um desafio a mais. Meu desafio maior atualmente é a independência delas. É como trabalhar para que elas tenham as melhores [condições] para que elas se desenvolvam cada vez mais e possam ser pessoas independentes. É nisso que eu luto atualmente. Eu espero obviamente estar criando meninas empoderadas e antirracistas, cientes de seus privilégios.” — Estevão Ribeiro
![Rê tinta criticando a baixa representatividade negra no Oscar Rê tinta criticando a baixa representatividade negra no Oscar](https://rioonwatch.org.br/wp-content/uploads/2022/10/Will-Smith.png)
Os livros que contam as aventuras de Rê Tinta já estão nas mãos de mais de 20.000 crianças da rede pública fluminense, afrobetizando tanto os pequenos pretos quanto as crianças brancas. A história que empodera tantas crianças quase não nasceu, contou Estevão. Porque ele quase desistiu de desenhar.
“Eu comecei a desenhar muito cedo, só que eu parei porque eu encontrava pessoas com muito mais talento do que eu e eu achava que meu talento era para a escrita apenas. Então, eu me dediquei mais à escrita até os 20 anos. Precisei fazer uma biografia minha e eu não tinha registros biográficos. Então, comecei eu mesmo a me desenhar e fazer as coisas. Comecei a trabalhar mais de forma também independente, porque quando você é um escritor de quadrinhos, você sempre depende de um desenhista. E nem todo mundo está à disposição para investir em histórias como você, como criador, não é? Então, a partir daí, esse tipo de demanda acabou criando a minha vontade de desenhar, [e pensei]: vou voltar a desenhar.” — Estevão Ribeiro
Hoje, Estevão compreendeu que acreditar no seu dom foi a resposta certa para o seu caminho e para o de milhares de outras crianças e adultos, pretos e brancos, pelo mundo afora. “As tirinhas produzidas da Rê Tinta já são temas de provas, já estiveram algumas em provas de faculdade, e em livros didáticos. Então, eu acredito que o meu material tem colaborado um pouco com a educação no país”.