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De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 156.454.011 eleitores—dentro e fora do país—estavam aptos a votar nestas eleições, sendo 74.044.065 homens, 82.373.164 mulheres, 37.646 pessoas com nome social, além de 1.271.381 eleitores com alguma deficiência.
Deste total, compareceram no dia 2 de outubro para votar no 1º turno 123.682.372 eleitores. Foram 118.229.719 votos válidos e 32.770.982 abstenções—votos brancos e nulos. A votação aconteceu em 5.570 municípios brasileiros e em 181 cidades localizadas no exterior.
As eleições para governador e presidente poderem ocorrer em dois turnos, mas a de deputados estaduais, federais e senadores acontece em um único turno. Por isso o resultado do primeiro turno define a cara da política do país.
Se por um lado, o novo Congresso eleito em 2 de outubro representa uma enxurrada da extrema-direita, por outro, a entrada de uma diversidade de candidatos representando numerosas bandeiras e movimentos representa as sementes que se espalharam e brotaram como consequência.
Pela primeira vez, duas mulheres trans foram eleitas deputadas federais: Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG). Além delas, as assembleias legislativas de Sergipe e do Rio de Janeiro elegeram pela primeira vez mulheres trans: Linda Brasil (PSOL-SE) e Dani Balbi (PCdoB-RJ).
As eleições de 2022 também abriram perspectivas para outras mulheres trans que, apesar de não eleitas, ganharam destaque e votações expressivas. Roybeyoncé Lima (PSOL-PE), atualmente vereadora de Recife, é um exemplo. Apesar de ser a quarta candidatura mais votada na capital do Pernambuco, com mais de 80.000 votos, não conseguiu se eleger devido ao quociente eleitoral. Ou seja, sua coligação partidária não obteve a quantidade mínima de votos exigida para garantir a ela uma vaga na Câmara dos Deputados. Além dela, Benny Briolly (PSOL-RJ), atualmente vereadora de Niterói, ficou 329 votos distante de uma vaga na ALERJ.
No estado do Rio, Talíria Petrone (PSOL-RJ), uma das principais vozes negras da resistência e luta por direitos do parlamento, foi reeleita em uma votação expressiva com 198.548. Foi a terceira deputada federal mais votada do Rio de Janeiro e a mais votada da bancada do partido. Na esfera estadual, Renata Souza (PSOL-RJ) foi a terceira mais votada para a ALERJ em todo o estado e a mais votada no Complexo da Maré, segundo O Cidadão.
Guilherme Boulos (PSOL-SP), coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Teto (MTST), foi eleito com 1.001.453 votos, sendo o deputado federal mais votado em São Paulo. Ele superou Eduardo Bolsonaro (PL), filho do Presidente Jair Bolsonaro, com uma diferença de 259.752 votos na disputa a deputado federal pelo estado de São Paulo: o maior colégio eleitoral do país com 34.667.793 eleitores aptos a votar.
Aliás, o partido de Erika Hilton, Benny, Talíria, Boulos e de Marielle Franco aumentou de tamanho: eram oito, agora são doze deputados federais eleitos. Proporcionalmente, a bancada da federação PSOL-Rede foi a que teve maior avanço no Congresso Nacional, passando de uma bancada de 10 deputados para 14 a partir de 2023 (12 do PSOL e 2 da Rede), um aumento de 40%.
Outra mudança instigadora é que, após uma mobilização inédita nas eleições de 2022, o Congresso Nacional terá cinco indígenas eleitos pelo voto do povo: Célia Xakriabá (PSOL-MG), Juliana Cardoso (PT-SP), Paulo Guedes (PT-MG), Silvia Waiãpi (PL-AP), e Sônia Guajajara (PSOL-SP). É o maior número da história do Brasil. Só dois parlamentares indígenas haviam sido eleitos até então: Mário Juruna (PDT-RJ), em 1982, e Joênia Wapichana (Rede-RR), em 2018. No entanto, Joênia não se reelegeu em 2022.
Parte das candidaturas indígenas que concorreram nas eleições de 2022, foram impulsionadas pelo ativismo de povos indígenas e entidades, como a Articulação dos Povos Indígenas (APIB). Foram doze candidaturas para deputado federal e 18 para deputado estadual, em 20 estados.
Sonia Guajajara (PSOL-SP), coordenadora da APIB, e Célia Xakriabá (PSOL-MG) são exemplos de indígenas eleitas, ambas representantes do campo progressista. Venceram com uma campanha com agenda focada no combate ao garimpo ilegal, pela preservação da cultura dos indígenas e do ambiente.
Principalmente, as duas futuras parlamentares lutam pela contenção de projetos como a regulamentação da exploração do solo em terras indígenas e a tese do marco temporal, que considera territórios indígenas apenas os ocupados na promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também fez história nas eleições de 2022. Ao todo, o MST lançou 15 candidaturas próprias que concorreram a cargos de deputados estaduais e federais, em 12 estados brasileiros. Foram eleitos duas candidaturas para o Congresso Nacional: Valmir Assunção (PT-BA) e Marcon (PT-RS), além de quatro deputados estaduais para as Casas legislativas de Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
A Coalizão Negra Por Direitos, que impulsionou o projeto Quilombo Nos Parlamentos, elegeu 26 candidaturas entre deputados federais e estaduais. Ao todo, as mais de 120 candidaturas do projeto, em 24 unidades da federação, obtiveram um total de 4.223.028 votos.
Contudo, foi pouco perto do tamanho do objetivo do Quilombo Nos Parlamentos, de aumentar no Congresso o número de parlamentares negros eleitos comprometidos com a agenda antirracista. A drástica insuficiência de representatividade negra no Congresso Nacional foi mantida.
No total, de candidatos negros, foram eleitos oito deputados federais, dentre eles a Benedita da Silva (PT-RJ) que é cria de favela, o pastor evangélico—não-alinhado ao bolsonarismo—Henrique Vieira (PSOL-RJ) e Erika Hilton (PSOL-SP), e 18 deputados estaduais, além de outras 97 candidaturas que estão como suplentes.
A bancada do PT, partido do ex-presidente Lula, também teve conquistas. Saiu de 56 parlamentares eleitos para 80. Sobretudo, ampliou a bancada de mulheres na Câmara Federal com 18 deputadas federais eleitas. Dentre elas, a primeira indígena na história do partido: Juliana Cardoso, nascida e criada na Zona Leste, periferia de São Paulo.
A composição do novo Congresso e Senado, portanto, mostra como a disputa entre lulismo, bolsonarismo, antipetismo e antibolsonarismo, não se reduz apenas à cadeira da Presidência da República. Havia esperança de eleger um Congresso Nacional mais diverso e comprometido com uma agenda de justiça social, direitos humanos, preservação do meio ambiente e antirracista. Pode parecer que isso não aconteceu ao olharmos a composição do parlamento eleito, com o PL, partido do Presidente Bolsonaro, se tornando o maior partido do Congresso com uma bancada de 99 deputados federais e 8 senadores (dos 27 eleitos nas eleições de 2022). Contudo, para quem busca um Brasil mais solidário, representativo, justo e fraterno, é inegável que a eleição dos candidatos apresentados aqui trouxe também um ar de esperança.