Agosto de 2016: o mês para o qual a cidade do Rio de Janeiro se preparou durante sete anos tumultuados. Para ajudar nossos leitores a ter conhecimento das maiores notícias e temas do mês passado, fizemos um resumo das histórias que publicamos aqui no RioOnWatch junto com algumas outras leituras obrigatórias que saíram na mídia. Veja todos os nossos resumos mensais aqui.
As Olimpíadas de 2016 no Rio terminaram, mas os efeitos de sete anos de rápidas transformações urbanas permanecem. Os Jogos deixaram para trás legados questionáveis desde projetos como as linhas BRT até a revitalização do Porto, inspirado na renovação em Barcelona antes das Olimpíadas de 1992. O economista Andrew Zimbalist argumenta que as Olimpíadas dificilmente trarão os benefícios econômicos anunciados pelos organizadores e pelos membros da elite do COI. Como Theresa Williamson da Comunidades Catalisadoras (ComCat) afirmou em openDemocracy, os reais legados positivos dos Jogos não foram os esperados.
Ao mesmo tempo em que as Olimpíadas aconteciam, a justiça ordenou a remoção de toda a comunidade do Horto no prazo de 90 dias. Moradores da Vila Autódromo comemoraram sua vitória em permanecer com uma ocupação e protesto em frente ao Parque Olímpico, mas aqueles que foram excluídos pela prefeitura continuam lutando.
Milhares de famílias mudaram-se para habitação pública na Zona Oeste e agora estão sob o controle de milícias. Os membros da comunidade indígena Aldeia Maracanã estão alojados inadequadamente em habitação pública restritiva, enquanto o local de onde foram removidos continua vazio. Ativistas comunitários que arriscam suas vidas foram homenageados na coletiva de imprensa da ONG irlandesa Front Line Defenders (Defensores da Linha de Frente).
Conforme documentado nas mídias sociais por grupos comunitários como Maré Vive, homicídios cometidos pela polícia continuaram durante os Jogos. A violência foi o foco principal dos ativistas nos protestos “Fome de Viver“ e “Jogos da Exclusão“ no dia da abertura dos Jogos. O revezamento da tocha Olímpica atraiu tanto protesto quanto orgulho na Baixada Fluminense, enquanto os moradores de Sepetiba na Zona Oeste exigiam atenção para a sua baía poluída. Apesar das graves questões em jogo, ativistas frequentemente usam o humor para criticar as Olimpíadas.
Jornalistas locais organizaram o primeiro Congresso de Comunicação Comunitária para discutir como a mídia local pode ser mais impactante. Jornalistas comunitários também participaram da Campanha #StopFavelaStigma da ComCat, com dois artigos publicados no RioOnWatch naquele dia escritos por Daiene Mendes do Alemão e Diana Anastácia do Jacarezinho. Também publicamos um artigo mostrando como a favela Asa Branca tem uma pontuação mais alta do que a Vila Olímpica dos Atletas na escala de sustentabilidade LEED-ND (certificação internacional LEED para bairros verdes), e matérias que ressaltaram as qualidades da favela como este fantástico vídeo explicativo sobre as favelas da Vox.
Em geral, as Olimpíadas foram uma ocasião única para contestar os estigmas das favelas, desde o passinho apresentado na Cerimônia de Abertura até as oportunidades de turismo comunitário para influenciar positivamente as percepções dos turistas. Dito isso, o aumento do turismo na trilha Dois Irmãos no Vidigal tem tido algumas consequências negativas para a comunidade.
A moradora da Cidade de Deus Rafaela Silva ganhou a primeira medalha de ouro do Brasil e o seu desfile da vitória trouxe alegria para sua comunidade. Vários outros atletas Olímpicos das favelas do Rio também foram o orgulho dos seus bairros. Um deles treinou na escola de badminton, que foi um dos cinco projetos comunitários inovadores apresentados no Festival Reimagine Rio. Outro dos cinco filmes explora a tradição do jongo, em Madureira.
Nesse mês, destacamos vários outros projetos comunitários criativos, incluindo um trabalho para pintar os muros da Pedra do Sal, preservando a história afro-brasileira perto do Boulevard Olímpico; um evento na Providência que reuniu artistas da favela e do asfalto; e a ONG Onda Verde, em Nova Iguaçu, com um trabalho exemplar ambiental na região. Em Santa Teresa, moradores tomaram a seu cargo o conserto do trilho abandonado do bonde, enquanto o presidente da Associação de Moradores de Pereira da Silva discutiu a sua visão para a sua comunidade.
Depois que ponderamos sobre como os jornalistas poderiam cobrir as Olimpíadas de forma produtiva no site POLITICO, parte da mídia internacional, ainda assim, focou nos Jogos em si, em detrimento dos problemas enfrentados pela cidade, embora, em última instância, tenha havido bastante reflexão cuidadosa e crítica na grande mídia. Publicamos a nossa opinião sobre as melhores e piores reportagens durante as Olimpíadas, e apoiamos um outro artigo de análise da mídia nas Olimpíadas na Columbia Journalism Review. Este artigo e um outro que apoiamos foram citados em uma análise da Columbia Journalism Review das melhores e piores reportagens em agosto.
Aguarde o nosso próximo resumo de artigos em setembro, quando RioOnWatch inicia uma excitante transição rumo a uma plataforma mais focada em soluções. Para mais informações e links de notícias do mês sobre favelas, veja o nosso resumo de notícias das favelas de agosto 2016 em inglês completo aqui. Você pode assinar e receber o Favela Digest diretamente na sua caixa de entrada todos os meses aqui.