No dia 16 de março, em parceria com a Comunidades Catalisadoras, estudantes de mestrado em arquitetura e urbanismo do Instituto Pratt de Brooklyn, Nova Iorque–que integram os Programas por Planejamento e Desenvolvimento Sustentável, Planejamento Urbano e Regional, e Sistemas Ambientais Sustentáveis–liderados pelo professor Leonel Ponce, conduziram uma oficina no Studio-X Rio apresentando infraestruturas justas e sustentáveis na cidade de Nova Iorque que podem inspirar ações no Rio de Janeiro.
Seguindo uma semana de trocas com líderes de sete favelas, o evento uniu os estudantes do Instituto Pratt com os membros das comunidades, ativistas, jornalistas e acadêmicos para discutirem desafios enfrentados pelas comunidades do Rio e Nova Iorque. A oficina examinou o planejamento e a implementação de projetos de infraestrutura em Nova Iorque e analisou os diversos fatores econômicos, físicos, sociais, políticos e ambientais que impactam a implementação de infraestruturas em ambas as cidades. Um dos objetivos da pesquisa e discussão realizadas pelos estudantes do Instituto foi descobrir e estudar estruturas alternativas de desenvolvimento acessíveis, justas e sustentáveis.
Os estudantes de Brooklyn apresentaram estudos de caso voltados a solucionar desafios ligados à infraestrutura de esgoto, sistemas de energia, agricultura, hortas comunitárias, água, saneamento e gestão de resíduos sólidos. Os estudos de caso incluiram Billion Oyster Project (Projeto Um Bilhão de Ostras), Brooklyn Grange (Lavoura do Brooklyn), Gardens Rising (Jardins em Ascensão), Here Comes Solar (Aqui Vem a Energia Solar), Hudson Yards (Área Hudson), Newtown Creek Wastewater Treatment Plant (Estação de Tratamento de Águas Residuais de Newtown Creek), Park Slope Food Coop (Cooperativa de Alimentos Parque Slope), e Stone Barns Center for Food and Agriculture (Centro para Alimento e Agricultura Stone Barns). A apresentação completa está disponível aqui (verifique novamente, em breve, o arquivo atualizado com as referências):
Nova Iorque e Rio podem parecer estar em mundos diferentes quando se analisam suas infraestruturas. No entanto, em se tratando da história das hortas comunitárias em Nova Iorque, os estudantes do Instituto Pratt revelaram um histórico de ocupações e resistências populares. Durante a crise financeira nos anos 1970, pessoas começaram a ocupar terrenos públicos vazios e abandonados, ao sudeste de Manhattan, plantando “bombas de semente” até que o governo estadual, anos depois, reconheceu e apoiou o crescente movimento de hortas comunitárias.
Outros assuntos destacados foram a gestão de lixo e de esgoto. Nas devidas proporções, o esgoto é um problema tanto para o Rio quanto para Nova Iorque. Nova Iorque possui um sistema de galerias de esgoto e, durante a estação chuvosa, o sistema fica, geralmente, sobrecarregado, levando a água da chuva e o esgoto não tratado para o corpo d’água mais próximo, resultando na contaminação da água. Apenas 70% da população do Rio está conectada a um sistema de saneamento formal e apenas metade de seu esgoto é tratado. A falta de captação de esgoto e o lixo não tratado causam uma variedade de problemas de saúde e ambientais, tais como a proliferação de mosquitos e ratos e a poluição da Baía de Guanabara.
Comunidades das duas cidades tentam direcionar seus respectivos problemas com esgoto. Em Nova Iorque, os problemas de transbordamento das galerias de esgoto passaram a ser tratados com infraestrutura verde e hortas comunitárias. No Rio, a favela Vale Encantado implementou um biodigestor que trata o esgoto com um biossistema. Biossistemas são sistemas sustentáveis de esgoto que transformam lixo em recursos. Eles convertem lixo orgânico em biogás através da digestão anaeróbica. O biogás produzido pode ser usado para aquecimento e geração de eletricidade. O líquido produzido pelo biodigestor é levado até um sistema de plantas com longas raízes que purificam a água. Em seguida, esta água purificada retorna à floresta sem tratamento químico.
Após as apresentações dos alunos do Instituto Pratt, foi aberta uma sessão de perguntas e respostas com pesquisadores locais e líderes comunitários, com direito a comentários, preocupações, ideias, desafios e dúvidas. A discussão marcou a importância da organização contínua da comunidade local, a influência das mídias sociais, do financiamento coletivo e das mudanças nas narrativas dominantes. Um ponto observado foi a necessidade de mudança na forma como pensamos o lixo. Existe a ideia de que o lixo pode simplesmente ser jogado fora, mas nada realmente desaparece ou vai embora. Esta retórica de descarte em conversas sobre o lixo é também frequentemente usada contra pessoas negras e pobres e, no contexto do Rio, contra pessoas que moram em favelas. Estes moradores não são descartáveis e, talvez, infraestruturas sustentáveis em favelas, como o biossistema no Vale Encantado, possam ajudar a mudar essa imagem.