Não é uma tarefa simples manter a atenção de vinte crianças entre dois e três anos de idade. Mas, em uma tarde de segunda-feira, um público infantil senta-se em linha reta em um pequeno quintal de concreto da creche pública Tia Dora na Providência. Um balde cheio de terra, trazido por Elisângela Almeida Oliveira, é a atração dos olhares das crianças.
Elisângela é coordenadora e fundadora da Horta Inteligente, uma ONG comunitária cujo objetivo é levar educação ambiental para crianças. Além do balde, ela trouxe alguns potes pintados feitos de antigas garrafas PET e sementes de feijão branco. Quando solicitadas, cada criança pode pegar uma pá e colocar um pouco de terra e um grão de feijão em seus potes. Com orgulho e com o pote, elas retornam para seus lugares e esperam até que seja hora de regar suas plantas.
“Aqui na Providência, as crianças não têm muito contato com a natureza”, explica Elisângela. “Não existe muito espaço público verde. É a primeira vez que algumas crianças daqui colocam suas mãos na terra e brincam com o barro. Elas não sabem sobre o que elas comem, de onde suas comidas vêm, e elas não comem muitos legumes e frutas. Para seus pais, é muito caro”.
Apesar de ser moradora da Providência, a infância de Elisângela foi diferente. Antes de vir para o Rio com sua mãe e quatro irmãos, Elisângela morou em Vitória da Conquista, na Bahia. A falta de infraestrutura e perspectiva os trouxeram para a cidade, mas Elisângela ainda lembra o quanto ela era feliz ao ver uma melancia crescendo em seu jardim quando ela era mais nova.
Dito isto, a Horta Inteligente é mais do que cultivar frutas e legumes. Quando Elisângela começou a ONG há dois anos, ela na verdade tinha algo diferente em mente. Enquanto era uma bolsista da Agência Redes para a Juventude, ela planejou começar um projeto comunitário de reciclagem. Porém, ela percebeu o quão difícil era mudar hábitos já fixados dos adultos. “Isso levará trinta anos”, disseram para ela. “Então, eu tive a ideia de criar um projeto de jardinagem para crianças e dentro da metodologia ensiná-los a não jogar lixo nas ruas”.
Desde então, Elisângela estabeleceu um ciclo do projeto educacional de até dois meses. Dentro desse período, ela combina aulas de pinturas em potes, cozimento de legumes, jardinagem e reciclagem. No final, tanto as crianças como seus pais são questionados sobre o quanto gostaram do projeto e como foi o impacto.
“Eu realmente amo crianças. Elas me inspiram, porque elas absorvem tudo”, Elisângela explica. “Quando você diz a elas algo, como por exemplo, que elas não deveriam jogar lixo na rua, elas ficam com isso na cabeça. E quando elas veem seus pais fazendo isso, elas falam para eles não fazerem. Elas são muito inteligentes.”
Mais de 400 crianças passaram pelo treinamento na Horta Inteligente nos dois primeiros anos. Algumas delas obtiveram o processo educativo dentro da creche, outras participaram de oficinas que a Horta Inteligente oferece durante feiras ou no pequeno jardim da Centenária Igreja Metodista na Gamboa. Antes de ser transformado em um jardim comunitário, a área estava abandonada e cheia de lixo. Através de um mutirão, eles limparam o espaço e abriram para o público.
Todos os fundos para a Horta Inteligente atualmente vêm da venda do programa educacional para escolas privadas e mudas em feiras como Ekobé, próximo a Praça Mauá. Elas utilizam a rede social Atados para se conectar com voluntários de fora.
Atualmente, o programa é liderado por voluntários, Elisângela gerencia-o junto com sua parceira Lorena, uma engenheira ambiental de Niterói. Entretanto, Elisângela considera a possibilidade da Horta Inteligente se desenvolver em uma carreira. Com somente 20 e Lorena com 24 anos, as duas e o projeto delas estão cheios de potencial: “Nós ainda somos jovens e muitas pessoas não acreditam na gente”, elas dizem. “‘Como vocês irão conseguir fazer isso?’, nos perguntam. Mas, eu digo, ‘Claro que conseguiremos!'”.