No terceiro dia do segundo anual Julho Negro, o Fórum de Juventudes do Rio de Janeiro organizou um debate público sobre “Masculinidades e as Opressões do Machismo“. Foi a primeira vez que o sexismo foi debatido durante a série de eventos que aconteceram esta semana.
A discussão com aproximadamente sessenta participantes ocorreu no Instituto Brasileiro de Análise Econômica e Social (Ibase). Em poucos minutos, a sala estava tão lotada que vários tiveram que sentar no chão.
Marcus Nascimento do Instituto Fernandes Figueira de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente da Fiocruz, apresentou uma breve introdução sobre o machismo onipresente no Brasil. Ele se concentrou nas múltiplas formas diárias e muitas vezes sutis de sexismo que a maioria dos homens perpetua e experimenta, como os pais que mostram carinho para seus filhos apenas até uma certa idade. Quando seus filhos envelhecem, sua educação emocional difere muito das suas filhas. Além disso, quando os homens se encontram, eles devem se dar um tapa nas costas em vez de trocarem abraços, como as mulheres fazem quando se encontram. “Temos que desnaturalizar a violência”, disse ele. “Ninguém nasceu violento.”
Os oradores seguintes André Sobrinho da Fiocruz e Carlos Humberto da Diáspora Black refletiram sobre o privilégio masculino e a necessidade de começar com si mesmo em vez de culpar os outros. Carlos trouxe um pequeno espelho e pediu a todos os presentes para darem uma olhada em si mesmo e compartilhar sua própria história pessoal de machismo. A sugestão foi bem-vinda pelo público, sendo apelidada de “Machistas Anônimos”.
Exemplos de machismo mencionados pelos participantes variaram de “roubar” um beijo sem pedir, até continuar dormindo enquanto a mulher cuida do recém-nascido todas as noites. Outros falaram de chamar um baixo desempenho desportivo de “gay” ou escolher “profissões masculinas” em vez de “carreiras femininas”. Muitos contaram histórias de sua infância, quando eram melhor tratados do que suas irmãs, nunca pedidos para lavar a louça e dados condições melhores de ensino. Este tratamento preferencial em um estágio inicial foi uma experiência que muitos dos participantes compartilharam.
No entanto, as causas mais profundas continuaram à discutir. Carlos lembrou que “muitas das histórias começam com ‘minha mãe’. Assim é a mulher de novo que está sendo culpada, agora pelo próprio machismo”. Em resposta, uma mãe que estava presente pediu para outras mulheres pensarem no que elas mesmas fazem para perpetuar o machismo, e pararem de reproduzir uma cultura machista.
Outra mulher questionou o sofrimento que uma cultura machista gera para os homens: “O que acontece com os homens que não podem satisfazer as exigências da masculinidade? Muitas vezes, nem aprenderam a chorar”.
Em sua declaração final, André concluiu: “Lutar para perder seu próprio privilégio é realmente difícil”.