Esta semana marca o segundo Julho Negro, evento iniciado há um ano, quando ativistas do Black Lives Matter visitaram famílias vítimas de violência policial no Rio de Janeiro. A série de eventos que acontecem esta semana chamam a atenção para violações de direitos humanos, especificamente a violência contra jovens negros das favelas do Rio de Janeiro. Terça-feira à noite testemunhou um protesto histórico lembrando a chacina da Candelária de 1993, organizado pela Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, uma rede de apoio para mães e famílias que perderam entes queridos para a violência policial. Foi o momento de reunir e unificar uma série de movimentos organizados sob a rede, denunciar o doloroso episódio da Candelária e enfrentar a Polícia Militar, o racismo e a violência policial nas favelas do Rio de Janeiro em geral.
A chacina da Candelária aconteceu na noite de 23 de julho de 1993, nos degraus da histórica Igreja da Candelária, no Centro do Rio de Janeiro. Oito jovens sem-teto foram mortos e dezenas feridos por um grupo de nove homens, vários dos quais policiais. Três policiais foram condenados por longas sentenças; no entanto, nenhum deles cumpriu a pena.
Pessoas e movimentos reuniram-se na terça-feira às 17h para lembrar esta atrocidade e cantaram todos juntos, “nunca mais”. Banners que exibiam nomes e fotos de vítimas assassinadas pela Polícia Militar e falsos cadáveres foram exibidos em frente à Igreja da Candelária. Gizele Martins, moradora da Maré e ativista do Movimento das Favelas do Rio, apresentou o Julho Negro e explicou o propósito do encontro. José Luiz Faria, pai do Pequeno Maicon, um menino de dois anos morto em 1996 por uma bala perdida durante uma incursão da Polícia Militar em sua comunidade, contou sua história traumática questionando a utilidade dessas invasões, descrevendo os diferentes sistemas implantados para “limpar” várias favelas (como as Unidades de Polícia Pacificadora) e denunciando a violência e injustiça. Ele também criticou o Ministério Público, o “principal órgão responsável por esses eventos”, segundo ele. Mônica Cunha, membro da Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência e co-fundadora do Movimento Moleque, um dos movimentos da Rede, denunciou o racismo viciosamente e disse que todos esses assassinatos e violência são essencialmente um produto do racismo, nada mais, e têm que parar.
Em seguida, os diferentes movimentos se juntaram e marcharam da Igreja da Candelária para a Estação Central, carregando banners e falsos corpos mortos, cantando e falando através do megafone. Funcionários da Prefeitura supervisionavam a marcha. Slogans e músicas incluíam: “Tem que acabar! Eu quero o fim da Polícia Militar!”, “A próxima vítima pode ser você”, “Candelária nunca mais”, e “Para o fim do racismo e genocídio do povo preto”.
Fransérgio Goulart, historiador e membro do Fórum Social de Manguinhos, leu mensagens de apoio dos ativistas da Black Lives Matter nos Estados Unidos, que participaram da primeira edição do Julho Negro no ano passado. Quando chegaram à Estação Central, houve mais palestras e os nomes, as datas de morte de pessoas assassinadas na Candelária e uma série de favelas foram listadas com o grito de “Presente!” em cada nome. Este foi um evento altamente emocional: a maioria das pessoas presentes perdeu pelo menos um membro da família devido a intervenções policiais nas favelas.