Esta matéria faz parte da série do projeto antirracista do RioOnWatch. Conheça o nosso projeto que trouxe conteúdos midiáticos semanais ao longo de 2021: Enraizando o Antirracismo nas Favelas.
Em alguns casos, é olhando para trás que se avança.
À primeira vista, pode parecer raro entender ancestralidade como tecnologia, mas essa sempre foi a realidade do povo preto. Desde antes do sequestro em África, da escravização e da diáspora, conhecimento, história e ciência são produzidos, vivenciados e ensinados em comunidade. Família preta ensina, através do passado, a instrumentalizar o presente, garantindo que haja um futuro. Família preta é sankofa. Sankofa é um adinkra africano, ou seja, faz parte de um conjunto de símbolos ideográficos dos povos Akan, usados na arquitetura, nas roupas e nos objetos, representando conceitos ou aforismos. Sankofa é um posicionamento estratégico e filosófico para que nós não percamos nossas raízes. É representado por um pássaro africano que voa para frente, tendo ao mesmo tempo a cabeça voltada para trás e carregando no seu bico um ovo: o futuro. Segundo a filosofia Akan, podemos ler esse adinkra como o retorno ao passado, para ressignificar o presente. Uma verdadeira tecnologia ancestral do povo negro.
Nunca é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficou atrás.
Todos os valores e modos de produzir a vida que os nossos ancestrais nos deixaram como legado, desde a escrita, a oralidade e os rituais, até o manuseio das ervas e os processos de cura, são considerados tecnologia ancestral, métodos de vida e de subsistência. Relembrando as tecnologias que recebi de minha avó sobre a gestão do tempo e sobre saúde física e mental, no podcast, Olhar para o Passado É Tecnologia Ancestral: Como a Memória Fortalece o Futuro de Mulheres Pretas?, entrevisto Ludmyla Oliveira, cria da Zona Oeste, educadora financeira e ativista, fundadora do Crioula Criativa, que se reinventou como empreendedora e hoje trabalha disseminando o conceito de bordado ancestral, para fortalecer o futuro de outras mulheres pretas.
“Saberes ancestrais não são somente escrituras. Nós como população afro diaspórica, na verdade, não ficamos muito com as escrituras, mas o que a gente consegue trabalhar de forma comunitária é o que a gente recebe das nossas mães e das nossas avós. É construir uma sociedade com valores que a gente acredita, com valores que são possíveis e com valores que são inegociáveis para que a gente possa construir um futuro melhor não só para nós, mas para toda uma comunidade.” — Ludmyla Oliveira
Sobre a autora: Gabriela Anastacia é jornalista, mãe e empreendedora, não necessariamente nessa ordem.
Sobre a artista: Natalia de Souza Flores é cria da Zona Norte e integrante das Brabas Crew. Formada em Design Gráfico pela Unigranrio em 2017, trabalha como designer desde 2015. Lançou a revista em quadrinhos coletiva ‘Tá no Gibi’, em 2017 na Bienal do Livro. Sua temática principal é afro usando elementos cyberpunk, wica e indígena.
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