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Na tarde de sábado, 29 de outubro, a poucas horas do segundo turno da eleição presidencial de 2022, enquanto o próprio Lula estava em São Paulo caminhando pela Avenida Paulista com Alckmin e Haddad, moradores da Rocinha se uniram para a “Caminhada Rocinha com Lula”, um ato organizado por lideranças comunitárias, moradores e movimentos sociais da Rocinha. Se concentraram no alto da favela, no Posto de Saúde da Rua Um, e desceram a comunidade pela Estrada da Gávea e Via Ápia até a entrada do Caminho do Boiadeiro.
No dia seguinte, Luis Inácio Lula da Silva (PT) se elegeu com 50,90% dos votos (60.345.999). A Rocinha foi o bairro do Rio que deu a maior votação ao ex-presidente, hoje presidente-eleito, de 78,2%.
Em um carrinho empurrado por um morador, Lula marcava presença na Rua Um através de uma foto impressa em tamanho quase real. Bandeiras vermelhas além de verde-amarelas tremulavam em frente ao Centro Municipal de Saúde Albert Sabin enquanto a multidão de moradores se reunia para participar da caminhada.
Segundo Antonio Xaolin, conhecido como Xaolin da Rocinha, uma das lideranças comunitárias que organizou a caminhada: “o objetivo é convencer os eleitores indecisos e os que não querem votar, a irem votar. Além do voto ser um momento cívico e de brasilidade, é também um momento de vencer essa proposta de autoritarismo. Para a democracia vencer, todo mundo tem que participar. A Rocinha no primeiro turno bateu 70% de votos em Lula e agora, no segundo turno, a gente quer 80%, 90%”.
De acordo com informações do site do O Globo, na 211ª Zona Eleitoral, que abrange os bairros de Gávea, Vidigal, São Conrado, Lagoa, Jardim Botânico e Rocinha, Lula teve votação de 64,08%.
Após a chegada do carro de som, a caminhada teve seu início. Descendo a Estrada da Gávea, uma onda vermelha cortou a favela. Por onde passavam, as pessoas demonstravam apoio: em seus locais de trabalho, moradias ou no trânsito, em motos, ônibus, carros e caminhões, buzinando, fazendo o L de Lula com a mão. Para os presentes, se sentia evidente que a Rocinha estava com Lula.
Dona Angela, moradora da comunidade há 20 anos, saiu no portão para expressar o seu apoio a Lula. Perguntada sobre a importância da caminhada, defendeu o legado de Lula e a importância dele para o povo negro e periférico.
“É importante essa caminhada para as pessoas periféricas como nós negros, que estamos em condição de desigualdade, que passamos fome, na miserabilidade, que tenhamos a consciência de que só Lula vai fazer voltar tudo de novo: a ter cultura, a dar dignidade, a dar prosperidade.” — Dona Angela
Os participantes da caminhada enfatizaram o que o governo de Lula havia feito pela favela. Durante a caminhada, o grupo passou por vários marcos de suas políticas públicas no território: o conjunto habitacional, a Biblioteca Parque da Rocinha, a UPA, a passarela de acesso à comunidade e o complexo esportivo, todos projetos ligados ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Apesar de críticas, os participantes enfatizaram que até os cortes, o PAC trouxe melhorias à Rocinha em habitação, saúde, esporte e lazer.
Durante a caminhada, o grupo passou em frente aos conjuntos habitacionais, onde foram feitas falas que relembraram a época em que Lula foi presidente.
Moradores contrastaram o Lula, que visitou o Complexo do Alemão a convite de lideranças locais, com a campanha de criminalização das favelas gerada pelo candidato a reeleição, Presidente Jair Bolsonaro.
Durante a caminhada, em uma das faixas, lia-se: “Favela merece respeito. Rocinha com Lula 13”. Próximo a esta faixa, estava a deputada recém eleita, Marina do MST, que também participou da caminhada e deu seu depoimento:
“Acho que a faixa fala tudo: o povo das comunidades, das favelas, precisa de respeito! Através de trabalho, emprego, saúde, com fortalecimento do SUS. O respeito às mulheres e crianças, e principalmente a todas as mães que tenham a oportunidade e segurança de colocar os filhos na escola pública e na universidade pública de qualidade. E tendo comida saudável, farta pelo menos três vezes ao dia na mesa, de toda a família todos os dias. Eu acho que aqui está a representação e a demonstração de que o povo precisa conquistar seus direitos no dia-a-dia, na luta organizada… o povo organizado do campo e da cidade, do campo e da favela.”
Se encaminhando para o final, o ato chegou à Via Ápia, um dos acessos principais da Rocinha. Com a rua bastante movimentada, a fala foi tomada por Antônio Firmino, liderança comunitária e um dos fundadores do Museu Sankofa Rocinha, que enfatizou a importância do diálogo com familiares, amigos e vizinhos.
“Amanhã é importante chamar mais uma pessoa e mais uma pessoa para votar no 13. Nesse momento o que vai estar valendo de fato é justamente eleger Luiz Inácio Lula da Silva nosso presidente. Não podemos falhar, amanhã é o dia de darmos continuidade à democracia, e a democracia é 13! Então é 13, é Luiz Inácio Lula da Silva que nós temos que eleger!… É democracia!”
A caminhada passou por baixo da passarela e se encerrou na entrada do Caminho do Boiadeiro. A Caminhada Rocinha com Lula movimentou as ruas, trouxe esperança aos que participaram e registrou um importante momento de luta das favelas pela democracia.
Depois da apuração dos votos, o resultado das eleições no território não foi surpresa para os participantes da caminhada. A Rocinha foi o bairro do Rio que deu a maior votação a Lula, 78,2%. Lula também venceu em outras grandes favelas, como Alemão, Penha, Maré, Cidade de Deus, Rio das Pedras e Gardênia Azul.