Exposição ‘Memória Climática das Favelas’ Chega a Santa Cruz, Levando ao Público Jovem a História de Cinco Favelas Cariocas Sobre o Clima

Estudantes da Escola Municipal Aldebarã participaram da abertura da Exposição Memória Climática das Favelas, em Santa Cruz. Foto: Bárbara Dias
Estudantes da Escola Municipal Aldebarã participaram da abertura da Exposição Memória Climática das Favelas, em Santa Cruz. Foto: Bárbara Dias

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A exposição Memória Climática das Favelas, organizada pelos museus e projetos de memória integrantes da Rede Favela Sustentável (RFS)*, está em exibição do dia 1º a 31 de março, no Palacete Princesa Isabel, Centro Cultural de Santa Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Organizado pelo Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz (NOPH), o evento de abertura da exposição ocorreu nesta sexta (01) na presença de integrantes do NOPH, de estudantes e professores de ensino fundamental da Escola Municipal Aldebarã, que além de prestigiarem a exposição, participaram também de uma apresentação sobre o processo de construção das rodas de memória climática e de uma apresentação artística de slam, realizado pelo Coletivo Favela Tem Voz

A exposição Memória Climática das Favelas surgiu como um produto final da realização de cinco rodas de memória climática das favelas, realizadas por museus comunitários integrantes da RFS, em 2023, entre eles o Museu da Maré do Complexo da Maré, Museu Sankofa da Rocinha, Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz (NOPH) em Antares, Museu de Favela (MUF) do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo e o Núcleo de Memórias do Vidigal, no Vidigal.

Estudantes da Escola Municipal Aldebarã participaram de atividade antes da abertura da Exposição Memória Climática das Favelas, em Santa Cruz. Foto: Bárbara Dias
Estudantes da Escola Municipal Aldebarã participaram de atividade antes da abertura da Exposição Memória Climática das Favelas, em Santa Cruz. Foto: Bárbara Dias

A exposição é composta por um vasto material de relatos de memórias, narradas por moradores de cinco favelas do Rio de Janeiro, e é apresentada em formato de banners e de uma linha do tempo, que permite a visualização dos acontecimentos marcantes nas histórias das favelas participantes. Além dessas estruturas, a exposição ainda conta com a instalação artística “Poço das Memórias”, criada pela artista plástica Evânia de Paula, do Vidigal. Dentro do poço, encontram-se aproximadamente 100 fotografias históricas das cinco favelas, com as quais os visitantes conseguem interagir.

Jovem intrigada com fala de moradora de Antares, compartilhada no banner da roda de Memória Climática das Favelas realizada na comunidade. Foto: Bárbara Dias
Jovem intrigada com fala de moradora de Antares, compartilhada no banner da roda de Memória Climática das Favelas realizada na comunidade. Foto: Bárbara Dias

Antes da abertura da exposição, cerca de 30 estudantes da Escola Municipal Aldebarã, que fica no território de Antares, participaram de uma apresentação, onde foi exibido o vídeo da exposição, mesclando as trocas das cinco favelas participantes. Leonardo Ribeiro, cria e historiador de Antares, e ex-presidente da Associação de Moradores, e Bruno Almeida, coordenador do Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz (NOPH), fizeram falas sobre o impacto do trabalho realizado nas rodas de conversa, prendendo a atenção dos estudantes.

Perguntado sobre a importância da exposição chegar a Santa Cruz, Leonardo, que organizou a roda de memória climática na sua comunidade de Antares respondeu que:

“Depois de ter passado por duas grandes enchentes aqui em 2017 e 2018, foi muito importante trazer esse trabalho pro bairro de Santa Cruz, porque a gente sempre via muito pela televisão, casos de enchentes e deslizamentos, mas aqui quase não acontecia. Era muito difícil de ver mas, em dois anos seguidos, (tivemos grandes) enchentes aqui… Eu achei interessante mostrar para o bairro e para as comunidades o que acontece quando a gente não faz o nosso trabalho, quando a gente não tem o conhecimento do que está acontecendo, quando a gente não percebe que pequenas mudanças no meu espaço mudam o espaço inteiro. E aí eu apoiei o trabalho, por questões mesmo de passar para o bairro a importância da nossa memória climática, para entender como que acontecia e como que acontece hoje. Esse trabalho de entender e perceber mudanças, é o principal objetivo… Eventos [climáticos] que aconteciam de oito em oito anos estão [hoje] acontecendo de ano em ano. É uma mudança rápida.”

Leonardo Ribeiro e Bruno Almeida, que participaram das rodas de conversa sobre memória Climática, posam em frente ao banner do território de Antares, em Santa Cruz. Foto: Bárbara Dias
Leonardo Ribeiro e Bruno Almeida, que organizaram as rodas de conversa sobre Memória Climática em Antares, em 2023, posam em frente ao banner do território, em Santa Cruz. Foto: Bárbara Dias

Após esse primeiro momento do evento, os estudantes foram convidados a visitar a exposição, onde puderam conhecer as estruturas da mostra. Alguns interagiram com a linha do tempo, principalmente nos cartazes que continham as memórias climáticas de seu território, Antares. Apesar de novos, se recordavam das enchentes de 2017 e 2018. Outro ponto de interesse dos jovens foi o “Poço das Memórias”, onde eles puderam interagir com as fotografias da instalação artística.

Visitação de jovens estimulados pelo "Poço das Memórias" onde 100 fotos históricas das cinco favelas contempladas na exposição estavam disponíveis para serem manuseadas. Foto: Bárbara Dias.
Visitação de jovens estimulados pelo “Poço das Memórias” onde 100 fotos históricas das cinco favelas contempladas na exposição estavam disponíveis para serem manuseadas. Foto: Bárbara Dias

Após a visitação à exposição, os jovens foram convidados a participar de um slam de poesias, realizado pelo Coletivo Favela Tem Voz, representados pelos artistas NATITUDE, OCotta e ANNASOL, que fizeram uma intervenção poética, encerrando as atividades da abertura oficial da exposição de memória climática no Palacete Princesa Isabel. O coletivo é do bairro de Urucânia, também na Zona Oeste. NATITUDE nos falou que “é muito maravilhoso estar em conexão com a galera jovem, porque eles são o nosso futuro. Então, trazer as nossas ideias nos dá uma sensação de dever cumprido”. OCotta, também do Coletivo Favela Tem Voz, complementou que:

“Eu acredito que a importância da gente estar trazendo a poesia para as escolas e para esses locais, como um local histórico como esse, é que as crianças vão absorver [a história] de uma forma diferente. Às vezes a gente traz um conteúdo de uma forma escrita como essa, [mas] fica complicado da pessoa ler e absorver tudo isso. Mas se trazer na forma de arte, às vezes uma rima traz um peso histórico de anos.”

ANNASOL falou também da experiência de participar da abertura da exposição, trazendo rimas que falam sobre história e sustentabilidade de uma maneira atrativa para os jovens:

 “Muitas vezes, na escola, acaba que o conhecimento é muito quadrado, muito repetitivo e muito massivo. Então, a gente traz de uma forma que eles interagem, eles gritam, eles escutam, eles se reconhecem no que está sendo falado. Muitas vezes o que está sendo dito em aula é relevante… mas em meia hora a gente consegue fazer algo muito mais interativo, que traz a criança, o aluno, para dentro do que a gente está falando.

Estudantes da Escola Municipal Aldebarã acompanham uma intervenção poética do Coletivo Favela tem Voz. Foto: Bárbara Dias
Estudantes da Escola Municipal Aldebarã acompanham uma intervenção poética do Coletivo Favela Tem Voz. Foto: Bárbara Dias

Ao final das atividades, Bruno Almeida, coordenador do NOPH, comentou que foi muito gratificante participar da construção da exposição e de poder levar para o seu bairro:

“Foi um prazer participar das rodas de memória climática, que gerou essa exposição que está aqui, hoje, abrindo em Santa Cruz. [O processo] de visitar e de conhecer outras comunidades e descobrir que tem muitas coisas que nos é comum, no sentido de impacto, de criatividade para resolução de problemas e identidades… A outra parte é a gente poder se ligar com a cidade, com uma outra história, não só uma história política, mas também uma história que fala e dialoga com pessoas, de ‘gente como a gente’… irmandade com outras comunidades e outras favelas, o que nos transforma em um grande coletivo. Trabalhar em rede é isso!”

A exposição Memória Climática das Favelas está em exibição no Palacete Princesa Isabel, Centro Cultural Municipal de Santa Cruz Doutor Antônio Nicolau Jorge, de terça a sábado, das 10h às 15h, até o dia 31 de março, com entrada gratuita. Não perca essa oportunidade de realizar uma imersão nas memórias das favelas que realizaram um trabalho de narrativas de suas histórias, identidades, resistências e afetos a partir dos seus moradores e territórios. E, caso faça parte de uma instituição ou espaço que gostaria de receber a exposição, acesse o documento com orientações para solicitação da exposição Memória Climática nas Favelas.

Não perca o álbum por Bárbara Dias no Flickr:

Exposição Memória Climática da RFS no NOHP, Santa Cruz, 01 de Março de 2024

Sobre a autora e fotógrafa: Bárbara Dias, cria de Bangu, possui licenciatura em Ciências Biológicas, mestrado em Educação Ambiental e atua como professora da rede pública desde 2006. É fotojornalista e trabalha também com fotografia documental. É comunicadora popular formada pelo Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC) e co-fundadora do Coletivo Fotoguerrilha.

*A Rede Favela Sustentável (RFS) e o RioOnWatch são ambos facilitados pela organização sem fins lucrativos, Comunidades Catalisadoras (ComCat).


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