Vovó em 24 quadros

“Quando eu era pequena, queria ser juíza. Mas depois mudei de ideia e resolvi fazer um curso técnico. Fui fazer Eletrotécnica na FAETEC. Na verdade, eu nem sabia o que era o curso, o que sabia era fruto de rápidas troca de ideias com os caras da Light que iam à minha rua de vez em quando”.

Para uma jovem cineasta, este enredo está completamente fora dos padrões esperados. Entretanto, ao contrário do que parece, este foi o caminho certo, por mais irônico que seja, para que Yasmin Thayná Neves, 18 anos, conhecesse o audiovisual, que viria a se tornar sua grande paixão.

Aos 17 anos, caminhando até o Top Shopping, Yasmin se depara com um outdoor anunciando o Iguacine, o terceiro festival de cinema de Nova Iguaçu. “Na hora pensei que fosse sacanagem, um evento pra falar mal da televisão, pra passar filme ‘escroto’, mas eu acabei indo, gostei e fui todos os outros dias”, conta ela, que assistiu a todas as sessões do festival.

No evento, a jovem estudante conheceu pessoas do meio cultural e, como ela mesma conta, começou a criar redes. “Uma das pessoas que conheci foi o Miguel Nagle, que apresentou o curta ‘Um Dia De Laura’. Peguei o contato dele e fomos nos falando pela internet”. A partir de então, Yasmin Thayná, que vivia estudando física e redes elétricas na escola, se viu inserida num meio que, praticamente do dia pra noite, transformaria sua vida para sempre.
“Fui fazer um curso com o Miguel em Janeiro de 2010 chamado ‘Do Roteiro à Prática’ e nós fizemos o curta-metragem ‘Ciclo Eterno das Mudáveis Coisas’, onde eu fui diretora de arte ao lado da minha amiga Marina Gomes, que hoje é monitora da Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu”. Tão logo Yasmin conheceu a ELC, candidatou-se a uma vaga no curso de produção de roteiro, cuja concorridíssima seleção a faria enfrentar quatro penosas etapas. “Havia mais de vinte pessoas para seis vagas. A maioria, vendo que não seria fácil passar, resolveu se inscrever pro curso de aanimação, mas eu não! Eu disse que ia passar para roteiro e passei”, relembra feliz.

Sagaz

Concomitante aos seus estudos cinematográficos, Yasmin Thayná desenvolvia em sua escola, João Luis do Nascimento, uma série de atividades que viriam a estimular as práticas artísticas pouco valorizadas na instituição. “O grêmio estudantil, percebendo a minha inserção no cenário cultural de Nova Iguaçu, me convidou para ser diretora de políticas educacionais, onde meu trabalho era mediar relações entre os alunos e os professores, orientadores pedagógicos, coordenadores”.

E foi nesse pique que “Yayá Sagaz”, como seus amigos a chamam, criou em sua escola a Feira Brasil, evento onde cada classe ficaria responsável por uma região do país. “Eu fiquei na banca de avaliação e foi muito difícil dar o troféu à melhor turma, porque todas foram muito caprichosas. ‘Santa Catarina’ que ganhou. Foi lindo! Eles fizeram o ‘Oktuber Fest’”, conta, lembrando em seguida o quanto foi difícil convencer os professores a reconhecerem o esforço dos alunos, dando-lhes notas pelos trabalhos.

A feira chamou a atenção do Cultura NI, um projeto de comunicação da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo da sua cidade, coordenado pelo escritor e jornalista Julio Ludemir. Depois da entrevista concedida aos jovens repórteres Marcelle Abreu e Jefferson Loyola, ela foi convidada para participar do projeto.

Com sede de viver, a jovem Yasmin cursou oito cursos diferentes de cinema no curto período de um ano e já tem no currículo aulas com Marina Santonieri, Celso Athayde, Cacá Diegues, Thaís Araújo e Caetano Veloso, dentre outros nomes renomados que teve o prazer de conhecer em seu curso no Cine Tela Brasil. Tudo isso sem mencionar a criação do Cineclube João Luis do Nascimento.

“Contei com o Apoio da Ivone Landin (presidente do Conselho Municipal de Cultura de Nova Iguaçu), que também ajudou a criar o Grupo da Diversidade Cultural dentro da escola, onde fazíamos debates e intervenções”, ressalta. “Também não posso deixar de falar dos “certos” Saulo Martins, Jhonny Rocha, Natália Magalhaes e Carlos Camacho, que eu conheci no Tela Brasil e que formam a ‘Sagaz Filmes’”.

Uma rede de amores

Para Yasmin, o cinema é mais que um instrumento de comunicação social, mas um meio de mostrar ao mundo o que sente: Para mim, cinema é quase a minha avó Zilda – Machado, 73 -, que me criou e é a pessoa que eu mais amo nesse mundo. O cinema é uma maneira de projetar esse carinho pro mundo e eu descobri que se eu ficasse estudando eletrotécnica, eu nunca iria dizer pra minha avó o quanto eu a amo. Eu digo com o cinema o que eu não conseguiria dizer com uma rede elétrica”, brinca.

Hoje, a menina que aprendeu a se expressar através das palavras escritas no segundo ano do ensino médio, através de e-mails trocados com o professor de língua portuguesa Fernando Vieira, sonha em ser jornalista e fazer mestrado em cinema. Mas se depender de toda sua sagacidade e amor pelas imagens se movimentando nas telas, esse será um objetivo fácil de ser alcançado.

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