Um retrato de Valnei Succo, por Samuel Lima, ambos participantes do curso de Jornalismo da ComCat e novos autores do favela.info.
Grafiteiro, Mc e correndo atrás de um curso de catalão, o Mc Succo é um flamenguista de 23 anos, nascido e criado no morro do Faz Quem Quer, em Rocha Miranda, Zona Norte do Rio de Janeiro. Seu nome de batismo é Valnei dos Santos da Silva por uma invenção de sua mãe, que juntou o nome do seu pai, Valdir, com o de seu tio, Lucinei. “A minha irmã também recebeu um nome assim, misturado: o da minha mãe, que é Lucilene, com o do pai dela, Josemir. Ela se chama Josilene”, conta ele, que é irmão do famoso MC Kelson.
A história do apelido começou com um parceiro mecânico, que passou a chamá-lo de Suco de Pneu, por causa da cor de sua pele, quando tinha apenas 11 anos. “Como as pessoas gostam de abreviar tudo, ficou só Suco”, conta ele, para depois lamentar a morte desse amigo, que gostava de “mexer com a mulher dos outros”. A morte desse amigo o remete ao que ele chama de faroeste urbano carioca, que terminou com “pneu e tudo”. Quatro dias depois, o assassino do seu amigo morreria em frente a sua casa. “Porque o cara era considerado, e não poderiam ter feito isso com ele.”
Apesar das ligações históricas com o Faz Quem Quer, cujas primeiras casas foram construídas pelos seus avós há cerca de 40 anos, ele no momento só vai a sua comunidade pegar o dinheiro do aluguel da casa que herdou dos pais. “Mas agora estou morando com a minha avó, na pista (asfalto), em Rocha Miranda mesmo”.
O morro do Faz quem Quer foi ocupado pela Polícia Militar há cerca de um mês, depois de uma intensa troca de tiros durante um baile funk que se estendeu além do horário e começou a incomodar os moradores. “A polícia chegou agredindo geral, inclusive os moradores e os que fizeram a denúncia. Daí a polícia começou a andar com os ‘X’ para identificar os moradores que participavam do comércio de drogas. “
MC Succo está acostumado com as trocas de tiros entre bandidos e policiais. Não foi à toa que seu irmão compôs Notícia triste, baseado em uma chacina ocorrida no fim de 2002. “Foi uma chacina de 14 jovens, entre 16 e 27 anos”, lembra MC Succo, que naquele dia ficou horas trancado na escola. “E os corpos ficaram por lá mesmo, durante duas semanas. Um deles chegou a partir ao meio.” Aqueles jovens eram amigos tanto de Mc Succo quanto de Mc Kelson. “Eram envolvidos com o tráfico de drogas sim, mas não teve rendição, nem troca de tiro.” As vítimas de chacina de 2002 não foram as únicas pessoas ligadas ao tráfico de drogas das relações de Succo, que tem inclusive familiares ocupando posições de mando no crime organizado. “Um dos meus primos é gerente e um outro é dono. Também tenho um primo preso.”
O MC atribui a forte presença do tráfico na comunidade batizada pelos seus avós à quase total ausência do estado no Faz Quem Quer, reduzido a uma escola municipal, uma creche e um espaço para a prática esportiva de crianças de cinco a 10 anos. Desde a chegada da polícia, o baile ‘pagofunk’ e umas festas populares organizadas na própria rua por um de seus tios foram proibidos. Uma das poucas ações do poder público que o músico comemorou foi a chegada do asfalto. “Fazia sete anos que os ônibus não passavam lá em cima, mas agora, tranquilo.”
Admirador do rap de Marechal e dos Inumanos e do samba de Arlindo Cruz e Bezerra da Silva, Mc Succo está juntando esses dois ritmos ao funk em um projeto que está escrevendo escrevendo para o edital da Secretaria Estadual de Cultura. “O nome do projeto é ‘Dois Elementos’, que seria uma aula de composição e de Deejay (de software)”, diz o jovem morador de Rocha Miranda, que começou a fazer rima graças a uma guerra de equipe de som em sua comunidade.
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