Era uma tarde nublada de sábado, e Andressa, minha entrevistada, já estava me aguardando no local marcado. No museu. Um lugar de memórias e lembranças, bem apropriado para o encontro. Andressa, apesar de pouca idade, tem muita história pra contar.
Moradora da comunidade do Fogueteiro, no Rio Comprido, Andressa Luna Santos tem apenas 17 anos e mora com a mãe, a avó, irmãos e um tio. Estudante do ensino médio, ela é bastante determinada. Sonha em conseguir estabilidade financeira trabalhando na área de comunicação. “Vou ter minha própria casa”, afirma.
Seu hobbie preferido é ir ao cinema com namorado. “Gosto de ver documentários, principalmente os que falam sobre animais.” Andressa é extremamente vaidosa. Gosta de andar sempre arrumada e bonita. Tem um cuidado todo especial com o corpo, unhas e cabelo. “Eu adoro um espelho!”
Na família, tem como principal exemplo de caráter e determinação sua mãe, a líder comunitária Cíntia. “Ela fala inglês e espanhol e está sempre envolvida com projetos sociais na comunidade”, diz, orgulhosa. Andressa tem um bom relacionamento com o pai, embora ela e a irmã mais velha tenham sido criadas pelo avô materno, desde a separação de seus pais. Em 2008, o avô de Andressa faleceu depois de um infarto. Ela diz ter pressentido a morte do avô dias antes dele falecer e, por isso, não chorou no dia do ocorrido. Mas para ela a missão do avô na terra era cuidar dela e da irmã. “Tenho certeza que ele está em um lugar melhor”, diz ela, que, embora seja evangélica, já flertou com as religiões católica e a espírita.
Andressa concorda com a implantação das UPPs nas favelas do Rio de Janeiro, e dá motivos bem práticas para seu apoio ao principal projeto de segurança pública do governador Sérgio Cabral. “Hoje me sinto mais segura ao ir à escola, e não acordo mais com os tiroteios que ocorriam quase todos os dias na comunidade.”
Poder circular tranquilamente por sua comunidade não é uma questão abstrata para Andressa, que pensou que morreria no meio de um tiroteio quando se deparou com uma operação policial quando retornava da escola. “Naquele momento pensei que iria morrer, e só pensava nos meus familiares”, diz ela.
No entanto, nem tudo são flores na relação entre a comunidade e os policiais que expulsaram o tráfico no início deste ano. “Continuamos com o direito de ir e vir limitados”, desabafa ela, que não entende o motivo para os policiais a proibirem de ela e suas amigas ficarem até mais tarde na rua. “Sempre somos abordados pela polícia e isso constrange muito”, afirma. Ela também reclama da demora dos projetos sociais, que ainda não chegaram ao Fogueteiro. “Os moradores precisam disso.”
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