Veja a matéria original por Simon Jenkins em inglês no The Guardian aqui.
O Rio de Janeiro está, neste momento, desesperadamente atrasado para os Jogos Olímpicos de 2016. Mega-eventos esportivos não deveriam ser permitidos a traumatizar esta magnífica e complexa cidade.
O Rio de Janeiro tem mesmo a garra? A cidade está, neste momento, desesperadamente atrasada para os seus Jogos Olímpicos de 2016–uma testemunha envolvida com o processo de organização sugere que 10% da infraestrutura está pronta, quando Londres tinha 60% no mesmo estágio de organização do evento. Mas uma visita à cidade no início deste mês deixou-me com uma pergunta intrigante: poderiam os planejadores caóticos do Rio de Janeiro criar virtude a partir da necessidade? Poderia ser o Rio de Janeiro a primeira cidade a restaurar as Olimpíadas de sua fixação com o dinheiro e edifícios e traze-la de volta para o esporte? Poderia o Rio criar sensação a partir de um desastre?
O principal Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, estava, até recentemente, com seus trabalhadores em greve. O segundo deles, em Deodoro, é uma base militar e nem sequer começou a ser construído. Neste mês, na Turquia, o Comitê Olímpico Internacional (COI) declarou que “a situação está crítica” e exigiu que o governo brasileiro faça alguma coisa. O COI criou uma comissão. O porta-voz do COI, Mark Adams, teve de negar rumores de um plano B, de tirar os jogos do Rio por completo, mas não o suficiente para descartar essa possibilidade, apenas dizendo que “neste momento isso seria muito prematuro”.
Ninguém de visita ao Rio neste momento pode imaginar o cancelamento como algo menos do que devastador. Neste mundo fantasioso de prestígio, orçamentos multimilionários e elefantes brancos, até mesmo o caos é melhor do que o cancelamento. Mas a cidade ainda pode tomar a iniciativa. Com as eleições nacionais em outubro e o apoio aos Jogos despencando, os políticos do Brasil poderiam alegar problemas de força maior, desmascarar o blefe do COI e sediar uma versão enxuta e de austeridade dos Jogos, como o fez a Grã-Bretanha em 1948.
Eles poderiam abandonar o proposto, mas ainda não edificado, Parque Olímpico em Deodoro, destinado a eventos como rugby, canoagem e mountain bike. Eles poderiam cancelar alguns dos esportes de elite do COI, como o tênis, golfe, vela e hipismo, assim como o absurdo de sediar uma segunda competição de futebol apenas dois anos após a Copa do Mundo deste ano.Eles poderiam reduzir a capacidade de todas as arenas e estádios para o que já podem oferecer e dizer para os milhares de funcionários dourados do COI, seus patrocinadores e VIPs que não haverá apartamentos de luxo, limosines e faixas de tráfego particulares, mas apenas acampamentos na praia de Copacabana.
O catalisador pode ser até as Olimpíadas-light de junho deste ano, também conhecida como Copa do Mundo. Ela está custando ao Brasil, apenas em estádios, R$4 bilhões (£$ 2.4 bilhões) por 64 partidas de futebol–incríveis R$62 milhões por jogo–além de cerca de R$7 bilhões em infra-estrutura associada. Somente generais em guerra e autoridades esportivas suíças conseguem contemplar gastos tão obscenos. O secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, que veio inspecionar os preparativos no mês passado, se declarou chocado. Dois anos atrás, ele tinha sugerido que o Brasil se desse “tapa no traseiro”. Seu chefe, Joseph Blatter, disse que o país era a sede “mais atrasada desde que estou na Fifa”. Eles trataram o Brasil como uma criança mal educada.
Na verdade a FIFA foi tola. Ela tinha sediado a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul no limite; o país recuperou apenas 10% do seu gasto de US$3 bilhões. Estudos sobre tais megaeventos, normalmente financiados por seus patrocinadores, invariavelmente estimam lucros astronômicos, mais tarde reportando pouco mais do que “ganho moral e de reputação”. Os gastos com a Copa do Mundo do Brasil eram absurdos desde o início. A política interna do país fez aumentar o requisito da FIFA de oito sedes para 12, incluindo novos e desnecessários estádios em Manaus e Brasília, que possivelmente nunca sediarão mais do que quatro partidas de futebol.
Em junho do ano passado, o que nunca se esperou aconteceu: protestos em todo o país contra até sediar a Copa. O apoio público caiu de 80%, quando o Brasil foi anunciado como sede da Copa em 2007, para menos de 50%. Na última contagem, 55% dos brasileiros acham que a Copa irá prejudicar a economia do país, ao invés de beneficiá-la. Enquanto tarifas de ônibus urbanos foram sendo aumentadas, milhões de dólares foram desaparecendo em contratos corruptos de construção de estádios e infraestrutura. Os manifestantes gritavam “Não vai ter Copa” ao tempo em que lutavam contra a polícia. Os protestos continuaram esporadicamente e no mês passado o exército teve que invadir algumas das favelas da cidade para restaurar alguma aparência de controle antes do prazo de junho.
Mais preocupante para o Rio é a rebarba política da Copa do Mundo para os Jogos Olímpicos. Neste momento, a conversa é que se o Brasil ganha a taça (é sexto no ranking da FIFA), o público pode até tolerar as Olimpíadas, mas se não, “os jogos estão mortos”. Como o Prefeito da cidade, Eduardo Paes, famoso por seu temperamento explosivo, disse recentemente à imprensa: “Nunca em sua vida queira sediar uma Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos ao mesmo tempo… Eu não fui feito para ser masoquista”.
Estes megaeventos traumatizam uma cidade moderna complexa. Eles perturbam os ritmos da sua política e de investimento em infraestrutura. Eles removem milhares de pessoas de suas casas e praticamente fecham cidades inteiras por um mês. Plutocratas do COI chegam como príncipes em visita, acostumados, de longa data, a viver à custa dos outros. Em Londres, eles exigiram e tiveram pistas exclusivas para suas limosines e semáforos mudavam para verde quando passavam. Eles bloquearam, em massa, hotéis de luxo e descartaram quartos de volta no mercado quando já era tarde demais para novas reservas. Seus patrocinadores exigiram a remoção de anúncios de empresas rivais em qualquer lugar perto dos locais do evento (até mesmo nos banheiros). Eles requisitaram que 40.000 funcionários de segurança estivessem disponíveis, ou quatro vezes o número de atletas, para proteger a “família olímpica”.
Mesmo depois de passar por cima dos escândalos de corrupção do passado, o COI continua viciado em extravagância. Os Jogos de hoje em dia flutuam em hipérboles nacionalistas e rivalidades cívicas, festivais não de esporte, mas de competições de mega-estruturas. O COI exige que cada sede atenda à especificações minuciosas a qualquer custo. O número de esportes aumenta a cada nova edição (atualmente 26, cobrindo cerca de 400 eventos), todos buscando seu momento sob os holofotes da televisão.
Cerca de 95% do orçamento de uma Olimpíada moderna não vai para o esporte, mas para aço, concreto, tijolos e argamassa, mesmo em cidades como Londres, com instalações já perfeitamente adequadas. Arquitetos-estrelas propõe arenas cada vez mais ousadas que todos sabem que custarão o dobro ou triplo de suas estimativas. Eles absorvem trabalho, energia, materiais, terra e esforço que não estarão disponíveis para investimento urbano em outro lugar. A escala global de tais despesas fugais ao longo das décadas deve ser impressionante.
Sob o comando do novo presidente do COI, Thomas Bach, alguns sinais de preocupação, se não de remorso, parecem surgir ao meio desta extravagância. Bach declarou seu compromisso com o “desenvolvimento sustentável”, o que quer que isso signifique. Isto tem se mostrado principalmente na preferência por anfitriões ricos e governos estáveis capazes de lidar com os orçamentos crescentes sem protesto significativo de locais, como foi o caso de Pequim e Sochi (e, na verdade, de Londres também).
Neste sentido, o Brasil foi sempre uma aposta. No início deste mês, um dos organizadores das Olimpíadas de Londres, Lord Dyson, visitou o Rio para informar a equipe organizadora dos Jogos sobre “lições de Londres”. Ele trouxe duas mensagens: a necessidade de “envolvimento total” de todo o país nos jogos e a necessidade de um legado palpável. Foi um bom conselho. A vaidade do Rio é muito ressentida em outros lugares no Brasil, e uma cidade-sede em crise precisará de todo o país dando suporte. O Rio aceitou um conselho da equipe de Londres e contratou a empreiteira americana, Aecom, para “entregar” os jogos.
Enquanto isso, legados tornaram-se uma obsessão das relações públicas Olímpicas. Como um oficial da Rio 2016 declarou: “Sem legado, não há nenhuma maneira de justificar tais gastos em duas semanas de esporte”. Mas o que é legado? O que se sabe é que os montantes gastos com novas construções são gigantescos. A Copa do Mundo do Brasil foi originalmente projetada a um custo de 1 bilhão para construção de novos estádios e melhorias em outros já construídos. Este valor rapidamente aumentou com a inclusão da infraestrutura associada, chegando a mais de $8 bilhões, com apenas um vago conceito de auditoria.Quando o Rio ganhou o direito de sediar os Jogos em 2009, para o êxtase de milhares de pessoas na praia de Copacabana, o discurso era o de manter os custos baixos através da reutilização de instalações construídas para os Jogos Pan-Americanos de 2007. A última contagem oficial calcula o gasto a $15 bilhões, mais do que os Jogos de Londres. Mas estimativas dos prometidos “legados dos Jogos Olímpicos” levam essa soma a $90 bilhões ao longo da década atual. Isso, sem dúvida, significa uma distorção grave do planejamento normal de infra-estrutura do Brasil.
Sobre os Jogos em si, 52 projetos de construção seriam localizados em quatro centros. A chamada “Arquitetura Nômade ” seria utilizada, segundo a qual estádios poderiam ser desmontados e reconstruídos como escolas. Além disso, haveria um novo corredor de tráfego urbano chamado “Transcarioca”, com pista de trânsito rápido para ônibus, duas outras faixas, 57 novos hotéis e a renovação da área portuária da cidade, até então semi-abandonada. Os destroços boiando sobre a Baía de Guanabara seriam limpos assim como a poluição jorrando das favelas que a cercam seria controlada–atividades essenciais para os eventos de vela.
Mas a proposta mais interessante de todas foi a apresentação do primeiro plano coerente de investimento na “urbanização” das favelas da cidade, o chamado Morar Carioca. Criado em parceria com o Instituto de Arquitetos do Brasil, destinou $4,5 bilhões para “infra-estrutura, paisagismo, lazer e qualidade de vida… gerando conforto e dignidade para mais de 200.000 pessoas”. Esta proposta deveria acontecer paralelamente ao programa de “pacificação” das favelas instituído pelo governador do estado, Sérgio Cabral, e o secretário de Segurança Pública, José Beltrame. Iniciado em 2008, o programa tinha como objetivo libertar um quinto dos habitantes da cidade, que vivem principalmente nos morros da cidade, fora do Estado de Direito, em um contexto repleto de anarquia, tráfico de drogas, violência e escassos serviços públicos. Esse plano seria o verdadeiro legado Olímpico, um dos mais criativos projetos de renovação urbana que eu já vi em qualquer lugar do mundo.
Mas o legado do legado é pura decepção. A auto-estrada cortando a cidade foi construída e a área do porto está sendo renovada. Mas a Baía continua poluída. Muitas batalhas foram travadas para impedir a remoção de favelas para abrir caminho para infraestrutura dos jogos, notavelmente a favela da Vila Autódromo, ao lado do principal Parque Olímpico. Ativistas do Comitê Popular Rio Copa do Mundo e Olimpíadas acusam que mais de 170.000 pessoas estão sendo expulsas de suas casas para fins relacionados aos Jogos. O Rio pode não igualar o recorde de Pequim na questão do “despejo Olímpico”, onde relatórios apontam que 1,5 milhões de pessoas foram removidas para o evento de 2008, mas seus números estão crescendo rápido.
Mesmo nas favelas, os brasileiros supostamente desfrutam do direito de consulta antes de remoções compulsórias e de serem realojadas perto de suas casas existentes–principal razão pela qual é tão raro [em situações normais] a remoção de favelas. Mas um membro do Comitê Popular, Renato Consentino, afirma: “Quando sua casa está no meio das Olimpíadas, tudo é acelerado”. Algumas ordens de despejo levam, até mesmo, o logotipo Olímpico, o que dificilmente ajuda a melhorar a popularidade dos Jogos. Depois de expectativas tão altas, ser atingido por dois megaeventos em sucessão, diz Consentino, “esvazia qualquer tentativa de democracia”.
Os brasileiros são, habitualmente, céticos quando se trata dos discursos de seus governantes. A deferência instintiva ao governo expressa por russos, chineses ou até mesmo ingleses, não é comum à brasileiros. As promessas vindas do poder público significam pouco, uma vez que são raramente mantidas. No Rio, a maré da opinião parece finalmente estar mudando. Para a Copa do Mundo da Fifa, celebridades do futebol nacional foram escolhidas como “embaixadores”: Pelé e Ronaldo. Ambos têm sido ridicularizados por manifestantes que os chamam de “inimigos do povo”. Enquanto isso, seu ex-colega, Romário, jogador de futebol que virou político, está se candidatando ao senado enquanto vai à público constantemente atacar as extravagâncias da Fifa e ridicularizar Blatter e Valcke como “ladrões e filhos da puta” (e pior). Ele questiona como eles podem exigir que o Brasil pague “estádios de primeiro mundo quando não podem pagar hospitais ou escolas de primeiro mundo”.
O mais triste disso tudo foi o quase total abandono do Morar Carioca. Enquanto o programa de pacificação tem tido algum sucesso, com cerca de metade das favelas “retomadas” dos traficantes pela polícia, pouco ou nada se viu com relação à infraestrutura de esgotos, abastecimento de água, ruas e serviços sociais. Até o final do ano passado, a página da Comunidades Catalisadoras registrou que das 219 favelas inicialmente selecionadas, melhorias não começaram a ser implementadas em nenhuma delas.
No Instituto de Arquitetos do Brasil, o presidente Sérgio Magalhães mexe melancolicamente com os planos e desenhos que tinham sido propostos para a cidade e que agora estão em suspenso. Ele vê o retrocesso como algo “adicionando, imprudentemente, a sensação geral de insatisfação” com os megaeventos como um todo. Os projetos de infraestrutura, como a auto-estrada Transcarioca, meramente “liga uma área rica a outra”. Uma entrevista com ele na revista Veja é entitulada de forma simples: “Os arquitetos estão furiosos”.
Qualquer visitante ao Rio fica perplexo com a ingenuidade com que a cidade acreditou na hipérbole do COI. Não há toque de Midas para grandes eventos desportivos, apenas custo. Cerimônias de abertura e encerramento extravagantes, algumas medalhas de ouro para os anfitriões e boas relações públicas podem gerar um efeito de bem-estar fugaz, como aconteceu em Barcelona e em Londres. Mesmo quando o custo é devastador, como foi em Atenas, os vendedores do COI declaram um “retorno em glória, reputação e turismo futuro”.
Economistas sérios se desesperam com esses eventos . O fundador dos Jogos Olímpicos modernos, Pierre de Coubertin, viu-os como ferramenta para construir a paz entre os povos. Com os Jogos de Berlim de 1936, os Jogos se tornaram-se mais em um festival de chauvinismo, um concurso de beleza entre nações e ideologias, chegando a decadência total nas Olimpíadas de Inverno de Sochi. Um relatório da Bloomberg sugere que o ganho principal não está na criação de paz entre povos, mas nos preços das ações das empresas de construção. Um estudo realizado por Simon Kuper e Stefan Szymanski prevê que a Copa do Mundo deste ano levará a “uma transferência de riqueza do Brasil como um todo para vários grupos de interesse”, principalmente clubes de futebol e empresas privadas. O evento “não será uma bonança econômica”.
O suposto turismo adicional, muito propagado, é uma quimera Olímpica. Para Sydney, em 2000, foi-se vendido que teria um boom no número de turistas e quando isso não ocorreu, a cidade lançou campanhas publicitárias com slogans irritados como: “Então, onde diabos você está?” Atenas e Pequim estavam quase desertas para os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo da África do Sul recebeu apenas dois terços dos visitantes previstos. O turismo britânico foi bombardeado pelos Jogos Olímpicos de 2012 e ainda está 3% inferior ao ano de 2011.
O paralelo mais próximo que se pode fazer aos Jogos Olímpicos de hoje em dia é, provavelmente, uma guerra, uma explosão de fervor patriótico, criada por uma certa falsidade nas despesas públicas. Qualquer crítica é suprimida. Quadros de medalhas aparecem como honras da batalha. Atletas nacionais são “heróis”. Os vencedores são regados com bugigangas públicas e os perdedores perdem qualquer apoio.
Alguns dos cidadãos mais cínicos do Rio de Janeiro até dão a esse paralelo uma espécie de boas-vindas. Eles esperam que os Jogos Olímpicos possam disciplinar a burocracia letárgica da cidade, derrotando os negativistas uma vez que prazos se esgotam e no final são produzidos pelo menos alguns projetos de utilidade mais duradoura. Eles estão satisfeitos que o Rio é agora o foco de atenção do mundo, o que resulta em certa auto-crítica. As favelas estão inundadas de acadêmicos e equipes de filmagem, como nunca antes, como se estivesse esperando que elas explodam na Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.
Isto poderia sugerir um novo fenômeno: o megaevento como um motor crítico em cidades onde a política de renovação urbana está estagnada. Se tal trauma é a melhor maneira de ordenar qualquer sociedade é outra questão. Qualquer cidade que, como o Rio, pode gastar milhares de milhões de dólares em uma festa de quinze dias e não reparar seus serviços públicos tem sua governança seriamente equivocada.
Mesmo antes da festa ter começado, o Rio parece estar sofrendo de uma ressaca. O Prefeito está falando em masoquismo e há muitos outros, inclusive dentro do COI, se perguntando se é tarde demais para parar. O professor de planejamento urbano da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Orlando dos Santos Junior, vê surgir um conflito terrível no momento em que se confronta gastos em elefantes brancos com as necessidades reais de outros setores da cidade–produzindo o que ele chama de “uma agonia dos apoiadores decepcionados”.
Eu acredito que o Rio ainda tem tempo para mostrar a coragem que faltou a Londres em 2005. Londres gabou-se de que sediaria os “Jogos do Povo”, um festival de diversão urbana de baixo custo. Mas se rendeu a grandiosidade do COI, construindo um novo estádio, em vez de usar o de Wembley, e elevando seu orçamento de $4 bilhões para $13 bilhões.
O Rio poderia fazer justamente o oposto. Poderia receber o mundo em qualquer dos estádios e arenas que sobraram dos Jogos Pan-Americanos de 2007, e contar com a televisão para atingir o público. Poderia adequar as Olimpíadas para o Rio, em vez de o Rio para as Olimpíadas. A cidade do carnaval iria oferecer um carnaval de esporte, provando que cidades pobres, bem como as ricas podem, por vezes, sediar esses megaeventos. Faça isso e em vez de ser insultada por atraso e incompetência, esta magnífica cidade teria o mundo aplaudindo sua ousadia e sua coragem. Vá em frente, Rio de Janeiro.
Simon Jenkins é um jornalista e escritor. Ele escreve para o The Guardian, bem como para a radiodifusão da BBC. Editou o Times e o Evening Standard de Londres e é Presidente do The National Trust.