Uma nova série de mapas e infográficos mostra a forte segregação racial na cidade do Rio de Janeiro. Hugo Nicolau Barbosa de Gusmão, estudante de geografia da USP, desenvolveu os mapas depois de ver as ilustrações detalhadas sobre a segregação racial em cidades dos Estados Unidos e não ter encontrado nada equivalente sobre raça e geografia para cidades brasileiras. Usando dados do último censo de 2010, Barbosa primeiro mapeou a distribuição racial na Zona Sul da cidade, o que foi destaque no The Global Post. Semana passada ele publicou mapas que mostram a segregação racial em toda a região metropolitana, demonstrando a divisão racial que caracteriza toda a cidade.
Publicado no seu blog Desigualdades Espaciais, os mapas mostram a distribuição de três categorias raciais: brancos mapeados em azul, pardos exibidos em verde e pretos exibidos em vermelho.
Embora a população branca esteja espalhada pela cidade, há uma concentração intensa na Zona Sul, a área mais nobre da cidade. Barbosa descobriu que 80% da Zona Sul é branca; no bairro mais rico do Rio, a Lagoa, esse número sobe para 90%. Isso forma um contraste com o perfil racial da cidade, onde 50% é de origem parda ou negra.
A distribuição de pessoas de origem negra ou parda está espalhada nas áreas mais pobres da cidade, as Zonas Norte e Oeste.
Pretos estão principalmente concentrados nas Zonas Norte e Oeste, com pontos de concentração espalhados pela cidade que podem ser identificados como favelas:
Na sua postagem sobre os mapas da Zona Sul, Barbosa escreveu: “A partir dos mapas vemos que pretos e pardos estão concentrados em pequenas áreas, em sua maioria favelas, enquanto a distribuição dos brancos é uniforme e ocupa todo o território. A partir disso, podemos entender a política do governo do Rio de Janeiro em impedir os pretos e pardos de chegarem à praia, é para manter a segregação racial já existente no Rio de Janeiro”.
Os mapas oferecem uma representação visual convincente sobre as desigualdades raciais existentes na cidade. A concentração de brancos nas áreas mais ricas e de pretos nas áreas mais pobres, aponta para a longa história de segregação racial que tem suas raízes na brutal história do Rio na época da escravidão. A criminalização de pobres, negros, moradores das favelas, evidenciada na recente política de interromper a ida de jovens negros da Zona Norte para as praias e nas mudanças nas rotas dos ônibus com o intuito de evitar o acesso das Zonas Norte e Oeste à Zona Sul, consolidam a desigualdade espacial e a exclusão vividas pela população negra e parda da cidade. Os mapas da distribuição racial da cidade proporcionam uma clara imagem sobre como raça e geografia estão interligados no Rio de Janeiro.