Projetos sustentáveis são um componente integral da rica história do Morro da Formiga. Na Zona Norte do Rio de Janeiro, o Morro da Formiga faz fronteira com a vasta Floresta da Tijuca. Enquanto o censo de 2010 relatou 4.312 moradores vivendo na favela, membros da comunidade dizem que a população chega a quase 6.000. Unindo-se a outras comunidades cariocas como o Vale Encantado e Vila Laboriaux, a Formiga está desenvolvendo iniciativas ambientais para garantir um futuro sustentável para a favela.
Em setembro deste ano, o recentemente criado coletivo educacional e ambiental Haveté Sustentabilidade conduziu um tour da infraestrutura de água, história cultural e iniciativas ambientais do Morro da Formiga. O tour foi o segundo na série de eventos de “Introdução à Sustentabilidade” organizado pelo Haveté Sustentabilidade. Com uma estrutura horizontal e abordagem interdisciplinar, o coletivo trabalha para engajar o público em discussões, workshops e eventos com intuito de facilitar e desenvolver um discurso público voltado para a sustentabilidade. Seu primeiro evento foi focado na relação entre as favelas e o meio ambiente, provocando conversas sobre justiça ambiental, racismo ambiental e sustentabilidade. O evento do Haveté Sustentabilidade no Morro da Formiga proporcionou uma oportunidade para aprender mais e se envolver com as práticas sustentáveis já existentes na comunidade.
Apesar de o Morro da Formiga ter sido fundado no início do século 20, a população aumentou durante a década de 40 quando os migrantes dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo se estabeleceram na favela, trazendo culturas e conhecimentos regionais dessas e de mais áreas rurais para o compartilhamento e mistura de técnicas que beneficiaram a comunidade. Notavelmente, o valor dado ao espaço verde e as práticas de vida rurais foram adotadas pela comunidade. Como resultado, Formiga atualmente tem vários projetos sustentáveis sendo trabalhados, simultaneamente, na comunidade.
Um dos projetos mais antigos é do manejo comunitário dos recursos hídricos, através das sociedades de água. Estabelecidos por moradores muito antes da prefeitura prover um sistema para a comunidade, as sociedades de água geriam as nascentes encontradas em vários locais no morro. Apesar de a CEDAE agora abastecer água na comunidade, os moradores não estão satisfeitos com sua qualidade. A água da CEDAE é encanada das ruas até uma cisterna localizada dentro da floresta e acima da favela. Lá, a água é tratada com cloro para remover bactérias, mas os moradores do Morro da Formiga preferem a água natural e cada uma das sociedades de gestão de água gera uma nascente.
As sociedades de água da comunidade estabeleceram cisternas para que a água de cada nascente fosse enviada diretamente para a casa dos membros por meio do seu próprio encanamento. Os membros são proibidos de encanar suas águas para outras casas. Sistemas de água como a unidade Boa Vista, construída em 1949, e a unidade de São Jorge, 1964, vem provendo água para a comunidade por mais de meio século. As unidades ainda funcionam hoje e cada uma fornece água para aproximadamente 20 casas.
O morador de longa data, Seu Francisco, é membro de uma das sociedades. Sua sociedade específica é constituída de pessoas mais antigas e, como a maioria das sociedades, é estruturada democraticamente. Os membros se encontram todo segundo domingo do mês às 9 da manhã para discutir e resolver quaisquer problemas com o funcionamento do sistema. Aqueles que se atrasam não são admitidos na reunião e aqueles que não vão são multados. Entretanto, Seu Francisco se preocupa com a falta de pessoas jovens na sociedade. A participação de diferentes gerações é importante para a continuação dessas valiosas sociedades.
Além das sociedades de água, os moradores do Morro da Formiga organizam e implementam projetos sustentáveis como grupos de coletores de livros e equipes de reflorestação para melhorar o bem estar social e ambiental de sua comunidade.
Amadeu Palmares da Silveira cresceu em uma fazenda no Espírito Santo e mais tarde se mudou para o Morro da Formiga. Além de participar das sociedades de água, ele contribui para a comunidade oferecendo aulas de horticultura nos sábados. O robusto jardim na sua casa tem diversas plantas, muitas delas crescem em contêineres feitos de garrafas PET recicladas. Caixas trabalhadas da mesma forma também são usadas no jardim da igreja da comunidade.
“Quando você vive dentro de uma cooperativa, não é só uma pessoa que é o chefe, todo mundo é”, disse Amadeu, refletindo sobre os esforços coletivos da comunidade.
Com iniciativas criativas, o Morro da Formiga é um forte exemplo de como práticas conscientes de sustentabilidade e meio ambiente podem ser fluidamente incorporadas no funcionamento diário de uma comunidade. No Morro da Formiga, organização e colaboração entre os moradores continuam sendo marcos da autossuficiência de uma comunidade sustentável.