O ambiente estava tenso na noite de segunda-feira 18 de janeiro, quando cerca de 30 pessoas se reuniram em círculo num hotel abandonado no bairro do Santo Cristo, na Região do Porto do Rio. Este grupo se autodenomina Ocupação Vito Gianotti, nome do famoso líder do movimento social no Rio que lutou por causas populistas e direitos para os trabalhadores. O grupo escolheu este nome porque 15 de janeiro, dia em que o grupo assumiu a ocupação do hotel, era o aniversário de Gianotti.
Os ocupantes, que consistem em pessoas que necessitam de habitação, quatro ativistas de movimentos sociais de todo o país e estudantes de universidades locais, entraram no prédio as 3 da manhã em 15 de janeiro com pouca oposição. Os movimentos envolvidos eram a Central de Movimentos Populares (CMP), o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e a União Nacional por Moradia Popular (UNMP).
A ocupação do hotel abandonado veio após uma longa deliberação entre os movimentos sociais. O hotel, agora vago há mais de dez anos, é de propriedade do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O Ministério das Cidades está em deliberação com o INSS há muitos anos para vender o hotel para que ele possa ser convertido em apartamentos de habitação a preços acessíveis. Uma vez que não se verifique progresso nas negociações entre o INSS e o Ministério das Cidades, movimentos sociais decidiram avançar com a ocupação.
Os líderes que participam nesta ocupação acham absurdo que um edifício tão estruturalmente sólido poderia ser deixado vago por tanto tempo quando há tanta falta de moradia adequada na área do Porto. Como um dos ocupantes disse: “Isso se encaixa com um provérbio que temos aqui no Brasil: ‘Muitas pessoas sem casas, muitas casas sem gente'”.
Após investigarem agora de perto o edifício, os líderes descobriram que a estrutura é forte, mas que ainda será necessário fazer grandes reformas para garantir acesso à água, energia elétrica e Internet.
Enquanto apoiar ocupações urbanas individualmente não é novidade para nenhum dos quatro movimentos sociais participando, a abordagem de ocupar em conjunto é uma novidade notável. Cada uma destas organizações nacionais pode alavancar suas amplas redes para divulgar a situação e pressionar funcionários do governo. Eles estão usando amplamente a mídia social para enviar informações para o maior número de pessoas, fazendo a ocupação muito visível desde o começo, o que é raro entre as ocupações urbanas. Tais ocupações tradicionalmente trabalham fora do radar, sob medo constante, se mantendo muito vulneráveis, até que eles estejam mais estabelecidos.
Aqueles que ocupam o hotel estão tanto ansiosos quanto otimistas. Eles falam em voz baixa durante as reuniões de modo que aqueles no lado de fora não possam ouvir. Apesar de não terem enfrentado anteriormente extrema força pelo governo, há o medo constante de que a polícia possa aparecer em frente ao hotel a qualquer momento.
No entanto, os moradores estão esperançosos pelos seus planos de transformarem o hotel em cerca de 28 apartamentos de um e dois quartos. Uma liderança da CMP falou animadamente sobre planos para estabelecer um centro comunitário nas grandes salas do hotel para as comunidades do Santo Cristo que não possuem um local de encontro. Houve também discussões sobre a utilização de parte do edifício convertido para um lugar onde os próprios líderes do movimento pudessem viver. Os ocupantes estão trabalhando atualmente com uma equipe de advogados para continuar as negociações em curso com os órgãos do governo federal sobre o futuro do edifício.
Ocupantes do hotel estão convencidos da necessidade de conquistar moradia popular de qualidade, a preços acessíveis na cidade. Com a proximidade das Olimpíadas, muitas comunidades sofreram remoções e outras pressões que estão os arrancando dos seus lares. Os ocupantes estão indignados de como o poder público não tem respeitado as vidas e casas que os moradores levaram anos para construir.
Desde 21 de janeiro, o grupo conseguiu ocupar o hotel por seis dias.