No domingo, 10 de abril, moradores do Horto, comunidade localizada dentro e em torno do Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio de Janeiro, realizaram um protesto contra a remoção da comunidade de 621 famílias.
O protesto anunciado como “Ato em Defesa da Comunidade do Horto”, iniciou dentro dos portões do Horto onde em torno de 80 a 100 moradores e apoiadores de todas as idades se juntaram vestindo suas camisetas “Horto Fica” e distribuindo adesivos: “Horto: história que tem raiz”.
Às 10h da manhã a comunidade desceu a Rua Pacheco Leão até a Rua Jardim Botânico onde caminharam ao lado das cercas que delimitam o Jardim Botânico, parando para cantar em frente a um dos prédios da Rede Globo. Como aconteceu durante o último protesto, no domingo dia 27 de março, os portões do Jardim Botânico foram trancados para prevenir a entrada do grupo.
Do lado de fora dos portões do jardim, a comunidade afirmava através de um megafone que irão continuar protestando todo domingo até que suas vozes sejam ouvidas. Até agora os representantes do Jardim Botânico não entraram diretamente em contato com a comunidade sobre os motivos das remoções. A presidente da Comissão de Moradores do Horto, Emília Maria de Souza, afirmou que os representantes se recusam a dialogar com a comunidade.
Um morador segurava um cartaz dizendo: “A remoção dos moradores do Horto tem nome: GOLPE. [Prefeito] Eduardo Paes disse: ‘cresci nesta comunidade e estas pessoas já viviam aqui. Vou ajudar vocês.’ Cadê você prefeito?” O morador explicou que Paes nasceu próximo dali e que ele foi filmado prometendo apoiar a comunidade.
A comunidade do Horto tem uma longa história que remonta ao século XV quando a terra era ocupada por plantações de cana. Em 1808, o Rei João VI desapropriou a terra, primeiro para uma fábrica de pólvora e depois para os jardins. Como os trabalhadores do Jardim Botânico estavam espalhados por todo o Estado do Rio, eles foram convidados pelo rei para retornarem e construírem suas casas dentro dos limites do parque.
As gerações nascidas na comunidade após o estabelecimento do Horto têm respeitado e trabalhado como funcionários do Jardim Botânico. Emília Maria de Souza, presidente da Comissão de Moradores do Horto, explicou a forte conexão que os moradores do Horto têm com o jardim: “Nossos antepassados foram trabalhadores do Jardim Botânico, nós não somos invasores“.
O morador Vilmar da Silva Paulo, que vive no Horto há mais de 50 anos, afirmou: “A maioria das pessoas que vivem aqui são descendentes de pessoas que viveram aqui por 70 a 80 anos”. Vilmar recebeu uma notificação de remoção dos representantes do Jardim Botânico no dia 18 de janeiro de 2016, dizendo que ele seria removido em 10 dias. A remoção não aconteceu. No dia 28 de março Vilmar e sua família enfrentaram outra ameaça de remoção e passaram vários dias recebendo notícias de que a Tropa de Choque estava chegando e iria removê-los da casa. O filho de Vilmar, Adílio da Silva Paulo, disse não saber por que a casa de sua família foi o primeiro alvo.
Todas as informações sobre a notificação de remoção foram transmitidas através da Tropa de Choque e da mídia. Não houve nenhuma comunicação oficial. Moradores não têm recebido nenhuma proposta de indenização.
Vilmar acredita que as ameaças de remoção e a desinformação tenham a intenção de aumentar a pressão psicológica para que os moradores saiam, como acontece em favelas por toda a cidade. Contudo, ele se mantém firme e permanece em sua casa onde vive com quatro filhos e quatro netos. Ele afirma fortemente: “Aqui nós somos uma família… todos os moradores do Horto são uma família”.
De acordo com Celia Ravera, advogada e professora de Arquitetura e Urbanismo na UFRJ, o Jardim Botânico alega precisar da área do Horto para conduzir uma pesquisa, mas existem muitas outras áreas das quais o jardim já tem acesso que poderiam ser mais do que suficiente.
Recentes especulações seriam de que a terra será transformada em uma área comercial para as empresas ao redor, tendo a Globo como um dos maiores locatários.
Muitos moradores explicaram que foi só depois da Globo mudar algumas de suas sedes para o bairro do Jardim Botânico que o Horto começou a receber ameaças de remoção.
Atualmente pelo menos 20 moradores trabalham no Jardim Botânico. Nenhum deles participou do protesto no domingo por medo de prejudicarem seus empregos.