Estudantes Ocupantes São Ameaçados de Violência Enquanto Negociam com o Estado

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Os estudantes que ocupam as escolas públicas secundaristas em todo o Estado do Rio de Janeiro enfrentaram níveis crescentes de violência e abusos desde o dia 6 de maio, por parte de grupos de estudantes que se opõem ao movimento.

A ocupação no Colégio Mendes de Moraes na Ilha do Governador, a primeira escola ocupada na atual onda de protestos de estudantes por todo o Brasil, foi forçada a se dissolver, pois os estudantes sofreram ataques consecutivos que começaram no dia 6 de maio e ocorreram diariamente entre 9 e 13 de maio.

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Alan, 18 anos, antigo aluno do Mendes de Moraes, declarou que os estudantes ocupantes do edifício da escola vinham se sentindo cada vez mais intimidados pelas tentativas de entrada do grupo “desocupa”. Ao descrever os ataques ocorridos no dia 10 de maio, Alan contou que os estudantes “pularam muros e quebraram os cadeados”.

“Nós decidimos nos recolher na sala de segurança, mas os alunos contra a ocupação estavam muito fortes e eles queriam tirar a gente a qualquer custo”, disse ele. “Eles quebraram uma parte da porta e um pedaço de alumínio da porta cortou um estudante. Nesse cenário de confusão, o pessoal só sabia chorar e proteger a porta”.

“Tiveram pessoas que tomaram socos, a gente não sabia o que ia acontecer. Decidimos desocupar para nossa própria segurança. Nós não sabíamos se eles iriam linchar a gente.”

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Professores e estudantes relataram ataques mais prolongados e violentos no dia 13 de maio, afirmando que o grupo “desocupa” jogou tijolos, garrafas de vidro e bombas para dentro da escola.

“Depois de reocupar nós fomos de novo ameaçados, e a tendência é da violência ser cada vez maior”, disse Alan. Os estudantes do Colégio Mendes de Moraes decidiram desocupar e passar a apoiar outras escolas ameaçadas na noite de 16 de maio.

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Os estudantes contaram que a Polícia Militar ficou do lado de fora durante os ataques e em vez de proteger os estudantes, a polícia se aproveitou de sua presença para impedir que eles entrassem novamente na escola. Os professores do Colégio Mendes de Moraes ficaram chocados com a falta de intervenção da polícia na defesa da integridade física dos estudantes.

“A situação ficou insustentável aqui no Mendes”, disse Adno Soares Ferreira Jr, um professor da escola, presente durante os ataques de 13 de maio.

“A Secretaria de Educação aterrorizou pais e estudantes com mentiras, dizendo que eles perderiam o ano e também orientou a polícia a não intervir nas incursões cada vez mais violentas dos ‘desocupa’”, disse ele.

Ameaças de grupos de “desocupação”

A Mendes de Moraes é uma das várias escolas recentemente ameaçadas por grupos de desocupação. Entre 9 e 13 de maio, surgiram nas redes sociais pedidos de apoio às escolas ocupadas em Bangu na Zona Oeste e no Centro que vêm sofrendo ameaças de grupos de desocupação.

Leonardo, estudante do Colégio Amaro Cavalcanti no Largo do Machado na Zona Sul, disse que não se surpreendia que escolas fora da Zona Sul sofressem com maiores ameaças que a sua.

“O Mendes de Moraes está sendo mais ameaçado pelo fato de ser o primeiro colégio que iniciou a ideia de ocupação”, disse Leonardo. “Este é um colégio que estava em condições muito precárias e com muita falta de materiais. É um colégio de subúrbio que fica no Ilha do Governador e tem pouca visibilidade. É mais fácil atacar um colégio com pouca visibilidade, do que atacar um colégio na Zona Sul que tem muita visibilidade”.

Amaro Cavalcanti é outra das várias escolas que enfrentam oposição, com grupos contra a ocupação organizados no Facebook. Os grupos de desocupação começaram a se organizar formalmente e ganharam fôlego quando algumas semanas atrás, a Secretaria de Educação do Estado do Rio (SEEDUC) enviou um tweet encorajando os estudantes a praticarem suas próprias ações.

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Tweets enviados pelo SEEDUC encorajadores protestos anti-ocupação, que foram eliminados no início de maio.

O movimento de desocupação é menos popular: A página do Facebook Desocupa Mendes tem 2,500 “curtidas” enquanto a Ocupa Mendes tem 14,000. Apesar disso, alguns estudantes acreditam que o agora deletado tweet da SEEDUC (imagem acima) está na origem do aumento das ameaças e da violência.

Estudantes que ocupam o Colégio Amaro Cavalcanti iniciaram o diálogo com os oponentes das ocupações, que defendem que as condições protestadas não se aplicam à sua escola.

“A ocupação não é só para mim”, diz Leonardo, que está no ultimo ano no Amaro Cavalcanti. “Cada vez que nos encontramos aqui com os alunos do grupo contra a ocupação, eles saem daqui do mesmo lado que nós. Eles entendem que todo mundo aqui luta pelas mesmas coisas que eles, por uma educação melhor.”

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Negociações com o Estado

Apesar da ruptura de diálogo entre estudantes pró e contra as ocupações, o governo do Estado do Rio anunciou que as primeiras negociações, com estudantes pró ocupações, foram bem sucedidas.

Os estudantes do ensino médio irão receber um Enem simulado, e pais e professores poderão participar mais no processo de eleição dos diretores da escola. O sistema de avaliação introduzido recentemente, (SAERJ), será extinto no final do ano escolar para conciliar com os cortes de orçamento, e os estudantes poderão recarregar seus passes livres mensalmente em vez semanalmente.

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Leonardo expressou ceticismo perante a declaração, dizendo que o SAERJ é “uma medida fictícia utilizada para produzir estatísticas e não uma educação de qualidade”. Ele acha que as alterações feitas aos passes livres fazem pouca diferença na vida dos estudantes e questiona como um governo de Estado pode produzir uma réplica do exame nacional, o Enem.

Ele também disse que os diretores escolhidos e imposto pelos governos, frequentemente, estão ausentes. “Nunca vi o cara”, disse. “Não posso dizer se ele é negro, se ele é branco, não sei quem ele é, porém ele é o diretor da escola. É uma pauta nossa conhecer o diretor, e queremos que ele esteja na escola”.

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As negociações ainda não tocaram nas questões iniciais levantadas pelos primeiros estudantes das ocupações: a falta de infraestrutura e de reformas, cortes na infraestrutura existente, a falta de acesso a recursos, e demissões arbitrárias de pessoal que dificultam o funcionamento da escola.

“Se eles pensam que resolvendo pequenos probleminhas a gente desocupa, saibam então que a desocupação não vai acontecer”, diz Leonardo, ironicamente. “A ocupação existe porque têm muitas coisas que precisam mudar. Nós queremos que o governo fique muito ciente disso”.