Quase um ano depois de manifestar sua preocupação à Defensoria Pública e ao governo estadual do Rio de Janeiro quanto ao cenário precário que se seguiu ao processo de remoção, a comunidade da Favela da Skol, localizada no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, reuniu-se novamente para chamar atenção para a situação após crises orçamentais do governo do estado que reduziu os repasses do aluguel social aos moradores removidos que o recebiam.
A comunidade foi nomeada em referência à fábrica da Skol, habitada pelos moradores, que ficava no local. A área onde se encontra a favela foi alvo de remoção após ser designada como “área de risco”, sendo completamente desocupada após a saída dos últimos moradores do local em setembro de 2010. Originalmente, o governo prometeu que os desabrigados seriam levados para apartamentos do programa Minha Casa Minha Vida; contudo, em junho de 2015, um ano após a comunidade ter se reunido para expor a situação e cobrar as autoridades, essa promessa ainda não tinha sido cumprida e as moradias ainda não haviam sido disponibilizadas.
Nessa época, os moradores recebiam aluguel social com validade de um ano, prazo final do reassentamento. Contudo, segundo eles, a situação atual tem se tornado urgente em virtude da drástica redução nos fundos públicos, a qual reflete uma tendência crescente do governo do estado afetado por uma crise financeira.
“A situação no momento é desesperadora. Estamos sem o aluguel social e as chances de ficarmos sem moradia só aumentam”, declara Camila Santos, membro ativo na luta por moradia e integrante do Coletivo Papo Reto do Complexo do Alemão.
“Nosso maior desafio é que estamos nas mãos do estado. E o mesmo está falido. Eles nos informam que o aluguel social não acabou, mas não há verba para fazer os pagamentos ou dar início as obras. O aluguel não foi suspenso ainda. Só não tem verba.”
Até o momento já são 523 famílias afetadas por essa situação. Elas trabalham duro organizando-se para conscientizar o público e garantir que o governo cumpra suas promessas. Na sexta-feira, 3 de junho, moradores manifestaram-se em frente ao Palácio Guanabara e encontraram-se com o Secretário do Desenvolvimento Murilo Leal. A resposta do secretário não satisfez os manifestantes ao dizer vagamente que buscaria maneiras de ajudá-los. Até agora a comunidade espera uma resposta.
Os moradores enfatizam que não escolheram viver em uma área de risco, mas nasceram nela. Eles se mostraram envergonhados e zangados com a quebra da promessa do Governador.
“É uma vergonha a cidade olímpica ter investido tanto dinheiro em obras para ‘gringo’ ver e não cumprir o compromisso com 12 mil famílias que dependem do aluguel social”, observou Santos.
No domingo, dia 12 de junho, por meio das plataformas de mídia da comunidade, moradores convocaram aqueles que foram afetados a se reunirem e criarem um vídeo documentário para expressar sua luta. Cerca de 80 pessoas compareceram ao evento para discutir possíveis ações a serem tomadas pelos moradores removidos. Nos vídeos postados na página do Facebook do Coletivo Papo Reto é possível ver viaturas policiais passando pelos organizadores, fato que, segundo os moradores que aparecem no vídeo, ocorreu pelo menos duas vezes e acredita-se ter sido uma tentativa de intimidação.
Os moradores, que há cinco anos esperam pelos apartamentos prometidos pelo Governador Luiz Pezão, agora se perguntam o que acontecerá com eles sem o aluguel social, que, para começo de conversa, nunca deveria ser considerado como uma solução de longo prazo.