No dia 23 de junho, o jornalista ambiental Emanuel Alencar lançou o livro Baía de Guanabara: Descaso e Resistência em um evento aberto ao público no Instituto de Arquitetos do Brasil, localizado no Flamengo, Zona Sul do Rio. Emanuel estava acompanhado do ambientalista Sérgio Ricardo, e juntos eles realizaram um debate com o público sobre a poluição da Baía de Guanabara.
Para escrever o livro, Emanuel Alencar sintetizou cerca de 30 publicações, artigos científicos e relatórios oficiais e também incluiu entrevistas com pesquisadores, pescadores, funcionários públicos e outros ativistas ambientais. O debate com o público teve como moderadora a jornalista Flávia Oliveira, do jornal O Globo. O evento foi organizado pela Fundação Heinrich Böll, que foi uma das idealizadoras do projeto, juntamente com a Mórula Editorial. O evento teve a presença do presidente da Fundação Heirinch no Brasil, Dawid Bartlet. A fala introdutória de Dawid apresentou a experiência profissional de cada palestrante e explicou a importância de dar uma resposta à poluição da Baía de Guanabara.
A condição da baía tem sido parte oficial das agendas políticas da cidade desde a Eco 92. Atualmente já foram gastos cerca de R$2,5 bilhões na gestão da despoluição da baía. Estudos demonstram que R$15 bilhões seria o custo mínimo para evitar completamente os fluxos dos esgotos que vêm dos municípios vizinhos. Declarações públicas feitas por políticos, no passado, sobre a limpeza da baía se tornaram promessas vazias ao longo dos tempos, várias vezes houveram garantias de que a baía seria limpa, porém ainda nem existe um estudo cientifico para apoiar as reivindicações sobre o custo ou o tempo necessário.
O fracasso da Prefeitura e a necessidade de transparência foram os principais pontos destacados no argumento de Emanuel Alencar. Ele afirma que mesmo que as leis produtivas obtenham aprovação, que é de igual importância melhorar a consciência pública sobre questões ambientais. “Ainda há um longo caminho a percorrer para ser capaz de aplicar a lei de uma forma abrangente”, afirma Alencar. “Além disso ainda tem todo o interior do Norte Fluminense, que é uma das regiões mais pobres, com muita dificuldade de infraestrutura para o descarte adequado. Há ainda um longo caminho a percorrer no que diz respeito à participação da população”, concluiu ele.
Outra grande preocupação são os Jogos Olímpicos e a possibilidade de que resíduos flutuantes possam obstruir veleiros durante uma regata. 15 ecobarreiras–a expectativa são de 17–já foram construídas em torno da baía, e até agora a iniciativa conseguiu eliminar a entrada mensal de cerca de 280 toneladas de resíduos na baía. No entanto, a baía não está ameaçada apenas pelo esgoto. A maioria do lixo das ruas de toda a cidade acaba sendo levado para dentro da baía também. Para Emanuel Alencar, resolver este problema é muito mais fácil quando se confronta com a fonte da poluição. Ele afirma que é necessário mudar o comportamento dos cidadãos. A revitalização da Baía de Guanabara vai exigir não só melhorias nos sistemas de esgoto, mas campanhas de educação mais amplas que possam ensinar a importância da responsabilidade ambiental individual.
O ecologista Sérgio Ricardo, líder do movimento Baía Viva, que se dedica ao combate a degradação da Baía de Guanabara, foi um dos membros da mesa de debate. Ele afirmou que cerca de 90 toneladas de lixo fluem para dentro da baía todos os dias e argumentou de forma contundente contra a situação atual.
Uma das maiores preocupações de Sérgio é o impacto que a poluição está tendo sobre o pescador local. “Áreas fundamentais para a sobrevivência da pesca estão completamente dizimadas”, observou ele, descrevendo o árduo trabalho dos pescadores ao longo do dia. “Há tantos pescadores com dificuldades. Quero manifestar meu apreço a todos os pescadores”, disse ele, sendo ovacionado pelo público.
Uma apresentação de slides ao fundo mostrou imagens dos danos ambientais já causados na Baía de Guanabara. Uma das imagens mais memoráveis foi de um manifestante em uma praia cheia de lixo. Ele vestia uma camiseta com a seguinte frase: “Não quero só um cartão postal”. O debate foi finalizado com o argumento de que o progresso lento e permanente será melhor do que mudanças temporárias superficiais implementadas para criar uma “imagem de cartão postal” do Rio para turistas olímpicos e visitantes.