O programa Rio Capital da Bicicleta, que incentiva o ciclismo na cidade, chegou pela primeira vez a um conjunto de favelas: a Maré. Em parceria com a Associação de Moradores do Parque Maré, a Prefeitura garantiu a implantação de uma ciclovia de 22km com faixa compartilhada. Essa é uma das obras divulgadas em meio a um conjunto de promessas pré-olímpicas.
A responsável pela execução do projeto, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMAC) afirma que na Maré já foram realizados 18km de ciclofaixas e faixas compartilhadas e instalados 620 vagas. As obras restantes estão paralisadas desde janeiro de 2016.
Questionada sobre as falhas no programa–como falta de pintura, placas quebradas e pista esburacada–a assessoria de imprensa da SMAC afirmou por e-mail que todas as falhas serão corrigidas antes da aceitação das obras, e o custo total da obra foi reduzido para cerca de R$5 milhões.
Os moradores lembram: as obras começaram em março de 2015. Com o orçamento inicial de R$7 milhões, o objetivo era integrar todas as comunidades da Maré às estações do BRT até o Centro da cidade e também ao Alemão, Fundão e Bonsucesso.
A implantação dos primeiros trechos de rota cicloviária foi um desafio. Nas ruas largas, por exemplo, a ciclovia é compartilhada e os veículos trafegam juntos. Os 6km de faixas exclusivas são para bicicletas e motos. Antes mesmo da sua conclusão, as faixas já precisam de manutenção.
Há meses a pintura não é mais visível em partes do asfalto, pois está gasta ou coberta de cimento por conta de obras do Programa Escolas do Amanhã. Apesar de todo o planejamento ser bem estruturado no que rege as leis, ele não se aplica às ruas da Maré: ambulantes instalados nas calçadas e na lateral da pista, motos, carros e até pequenos caminhões circulam em todo o espaço, inclusive na pista compartilhada com ciclistas.
Para o morador Uesley dos Santos, 23 anos, as prioridades para o uso da bicicleta são a rapidez e facilidade. Quanto à ciclovia, ele não está satisfeito: “O projeto está mal arquitetado. Por exemplo, na favela Nova Holanda, a ciclovia passa pela rua mais movimentada da comunidade que é a Teixeira Ribeiro, uma rua de grande fluxo de veículos e pedestres, a rua do comércio e da feira”, reclama.
Não há prazo para a retomada das obras e as empresas envolvidas não são contratadas pela Prefeitura do Rio, e sim por outra empresa que não foi divulgada. Assim que ocorrer a vistoria final do projeto, as obras têm garantia de cinco anos. A inauguração oficial da via estava prevista para o primeiro semestre deste ano.
A ideia de implantar alternativas de mobilidade urbana em territórios com grande circulação de pessoas, é gerar mais qualidade de vida e reduzir a emissão de C02. Mas quando o trabalho não é concluído e os moradores não recebem nenhuma satisfação a respeito, a divulgação de que o Rio é hoje, a Capital da Bicicleta, com quase 440km de ciclovias, não significa muita coisa.
Thaís Cavalcante tem 21 anos, é comunicadora comunitária desde 2012 no Complexo da Maré, lugar onde foi nascida e criada. Cursa faculdade de Jornalismo e colabora no Jornal O Cidadão e The Guardian.
Carolina Vaz é jornalista por formação, e comunicadora por paixão e vocação. Trabalha como voluntária na ONG Pipa Social e no jornal O Cidadão.