A Diretora Executiva da Comunidades Catalisadoras e Editora do RioOnWatch, urbanista Theresa Williamson, foi convidada a participar na série openMovements do openDemocracy. Leia a matéria original publicada em inglês no dia de inauguração dos Jogos Olímpicos no Rio, no site da openDemocracy aqui.
A série openMovements convida importantes cientistas sociais para compartilhar os resultados de suas pesquisas e perspectivas sobre as lutas sociais contemporâneas.
A cidade altamente corporativa, que a prefeitura do Rio tentou criar, resultou na exacerbação de problemas urbanos espaciais, econômicos e das desigualdades sociais. No entanto, isso está criando condições para o Rio se tornar uma Cidade Singular. – Theresa Williamson
De Nova Iorque a Berlim, de Hong Kong a Londres, cada vez mais se registra conflitos entre duas concepções urbanas, nos últimos anos. Primeiro, há aqueles que veem a cidade como fundamentalmente comercial, baseando a sua origem como um lugar de troca possível graças à produção agrícola–um lugar de economias de escala e de aglomerações econômicas, mais dramaticamente representado no conceito de cidade global. Em seu extremo, os defensores dessa visão insistem que cidades são ligações essenciais em um sistema econômico global, e que é isso que as torna importantes.
Em segundo, há aqueles que vivenciam a cidade como preenchedora de uma necessidade humana por conexão e interação social. “A cidade… é uma manifestação natural do instinto social que temos. As cidades nos definem. É onde nascemos, somos educados, crescemos, casamos, onde rezamos e nos divertimos, onde envelhecemos e onde morremos”, explica o cientista político Benjamin Barber. Essa perspectiva sobre a cidade está mais claramente representada por aqueles que lutam pelo reconhecimento e implementação do Direito à Cidade, como explicado por David Harvey: “O direito à cidade é muito mais do que a liberdade individual de acessar recursos urbanos: é um direito de mudarmos a nós mesmos mudando a cidade. É… um direito público mais do que um direito individual, uma vez que essa transformação inevitavelmente depende do exercício de um poder coletivo para remodelar o processo de urbanização. A liberdade de criar e recriar nossas cidades e a nós mesmos é… um dos mais preciosos, mas também o mais negligenciado, dos nossos direitos humanos”.
Aqueles que são inflexíveis a respeito dessa visão irão argumentar que não há compatibilidade com a primeira visão, e que a localização econômica é o caminho para o futuro. E pode-se argumentar que seja uma solução central para muitos dos atuais dilemas do mundo, se quisermos acreditar, como Barber insiste, que as cidades–e não as nações–hoje são os lugares onde as decisões mais importantes que afetam as vidas das pessoas são tomadas.
No Rio de Janeiro, durante o período pré-Olímpico (2009-2016), a gangorra pendeu com força para o lado da abordagem altamente comercial. Uma enorme injeção de 20 bilhões de dólares nas Olimpíadas foi aplicada, de uma só vez, quase que exclusivamente para investimentos que apoiam a visão número 1. Como resultado, a natureza subjacente dessa abordagem e o conflito inerente entre essas visões se tornou palpável.
Os supostos legados olímpicos
Possibilitados pelo estado de exceção ocasionado pela realização de megaeventos no Rio, vimos investimentos em massa em construção–de campo de golfe a moradias públicas, de infraestrutura de transportes diversificada a empreendimentos de luxo, sem mencionar a infraestrutura Olímpica– juntamente com a promoção galopante da especulação imobiliária desenfreada, supressão de vozes discordantes e exclusão de grupos de baixa renda, a construção de museus como o Museu da Imagem e do Som e o Museu do Amanhã, e o uso de princípios de marketing para justificar a crescente segregação, que, por sua vez, alimenta a desigualdade e o crime.
Apesar de alguns desses investimentos parecerem, superficialmente, apoiar a segunda visão apresentada (como os BRTs, moradias públicas e clínicas de família), mediante uma observação mais atenta, nota-se que cada um deles veio com custos significativos para os supostos beneficiários, e a falta de consulta e avaliação não permitiram uma conclusão positiva decisiva a respeito dos impactos a serem alcançados. Por outro lado, tudo isso tem beneficiado fortemente os interesses corporativos por trás desses investimentos.
De acordo com o prefeito, o Rio ganhou muito com o período pré-Olímpico. Essas afirmações são feitas com base em projeções econômicas gerais e às vezes mal conduzidas, e expressas através de declarações como esta, feita em 2011: “O impacto econômico bruto esperado dos Jogos de 2016 na economia brasileira é de US$51,1 bilhões”, em vez de olhar para a distribuição desses mesmos recursos (US$1 bilhão, sozinho, vai para um único homem) ou esperar por resultados reais (como as projeções atuais que colocam a receita em US$4,5 bilhões).
Uma vez que o legado público primário que pode ser apresentado gira em torno do transporte (para onde 55% dos investimentos públicos nas Olimpíadas do Rio foram direcionados), os números são publicados refletindo o crescimento em ciclovias, corredores de ônibus, expansão do metrô e a disponibilidade de um novo modal, o VLT. Contudo, ainda que um aumento dos modais seja fácil de propagandear como um legado, o foco deveria ser sobre o impacto real que, como resumido pelo Observatório das Metrópoles, não é tão brilhante assim: “A distribuição territorial dos investimentos em mobilidade previstos e realizadas até agora no contexto dos megaeventos parecem reproduzir essa mesma lógica de organização do espaço… não há elementos que nos permitiria aferir que os enormes investimentos em mobilidade produziriam uma melhor distribuição das pessoas e dos empregos no território metropolitano e, muito menos, que atenderia as necessidades da metrópole”.
Todas as Olimpíadas recentes vieram com promessas de legados a serem deixados para as cidades anfitriãs e seus cidadãos. As promessas de legado do Rio, inicialmente, incluíam compromissos importantes como a urbanização de todas as favelas de acordo com o bem elaborado Programa Morar Carioca (em sua palestra para o TED, o prefeito Paes afirmou que o “Rio tem o objetivo de deixar todas as suas favelas completamente urbanizadas até 2020”); o plantio de 24 milhões de árvores tropicais endêmicas (depois modificado para 34 milhões) para contrabalançar as emissões de carbono das Olimpíadas; e a limpeza da Baía de Guanabara e da Lagoa de Jacarepaguá.
Essa lista posteriormente mudou. Em agosto de 2015, a administração Paes havia feito 27 promessas de legados ao COI, sob os títulos de Mobilidade, Infraestrutura, Legado Esportivo e Meio Ambiente. Moradia, nesta ocasião, passou a estar fora da lista. Isso foi a partir de uma série diferente de 17 promessas, em 2009, que incluía aquelas mencionadas no parágrafo anterior. Baseada na nova lista, publicamente, a administração Paes reconhece apenas um legado não cumprido: a limpeza da Baía de Guanabara.
Os verdadeiros (e não planejados) legados Olímpicos
Uma vez que essas promessas oficiais de legados altamente questionáveis ou não cumpridas são agora bem conhecidas, vamos olhar para o que pode ser considerada a lista “verdadeira” de legados–sim, os positivos–desses jogos para os cidadãos comuns e de baixa renda do Rio. Esses não são os legados que a prefeitura da cidade vai propagandear como tal, mas os resultados positivos reais experimentados no Rio como resultado de sediar os Jogos.
– Legado Verdadeiro No. 1: Crescente quantidade e qualidade de atenção da mídia internacional
Felizmente, as Olimpíadas trouxeram mais do que um estado de exceção para o Rio. Os jogos também trouxeram um grande enxame de atenção e investigação da mídia internacional. Tradicionalmente, a cobertura do Rio pela mídia global era superficial. Entrevistas eram realizadas por telefone de São Paulo, Cidade do México ou Nova Iorque, já que a mídia internacional raramente tinha escritórios no Rio e não era familiarizada com o funcionamento interno da cidade e de seu governo. Artigos eram publicados graças a comunicados de imprensa ou relatórios policiais. Raramente os repórteres pesquisavam a fundo, e, mais raro ainda, era ter cariocas comuns, particularmente das favelas, citados. As favelas eram vistas como zonas proibidas, estereotipadas, estigmatizadas e retratadas de forma sensacionalista, a partir de uma distância segura, por décadas, pelos jornalistas.
Mas tudo isso estava prestes a mudar. Pouco depois do Rio ter sido escolhido para sediar as Olimpíadas, jornalistas freelancers de vários países começaram a se instalar e a procurar entender a cidade, para que pudessem estar na melhor posição possível para reportar. Outros começaram a visitar o Rio regularmente, para desenvolverem uma boa compreensão, a fim de que pudessem vir e ir rapidamente quando necessário.
Eles foram rapidamente seguidos por correspondentes de vários canais internacionais, que estariam daqui cobrindo a America Latina como um todo. Estes se mudaram de outros lugares das Américas para o Rio, para que estivessem bem posicionados para reportar, na medida em que o interesse crescesse ao longo dos anos. E houve também publicações que moveram alguns de seus principais repórteres globais para o Rio. Finalmente, em alguns casos, escritórios regionais inteiros mudaram-se ou abriram filiais na cidade. Esses milhares de jornalistas não estavam apenas visitando o Rio por alguns dias ou semanas. Eles estavam se mudando, fazendo do Rio seu lar por mais de meia década. Muitos deles vieram com as famílias, e todos seriam impactadas pela cidade e sua vivência.
Conforme esses canais começaram a informar com mais frequência, com nuances, contextos e entendimento maiores, uma sub-tensão como a do filme Crash podia ser sentida. Teve início um salto significativo em notícias globais sobre favelas, com um crescimento significativo do número de moradores de favelas citados. A mídia local, por décadas, tem publicado uma narrativa sem criatividade, sensacionalista e contraproducente sobre essas comunidades, que foi sendo perpetuada pela mídia global: eram criminosas por natureza, feias, uma mancha, não havia nada de bom sobre elas, eram uma lembrança persistente da falha do Brasil em se desenvolver e de sua falta de controle.
Raramente a mídia discutia sobre os direitos conquistados duramente pelos posseiros, sobre as conclusões do Instituto de Arquitetos do Brasil de que urbanizar as favelas havia se tornado a melhor solução para comunidades consolidadas, sobre o desenvolvimento histórico de suas moradias graças à mutirão e outras tradições criativas, ou mesmo sobre a importância das favelas para a cultura carioca dominante. E nunca a grande mídia brasileira discutiu as heranças sistêmicas e históricas, com base na sociedade escravocrata e colonial, que nos levaram aonde nós estamos agora.
De súbito, a mídia internacional estava fazendo tudo isso, começando com a questão das remoções na Favela do Metrô em 2011, devido a Copa do Mundo–com coberturas realizadas pelo The Guardian e pelo Al Jazeera. Quando o New York Times cobriu as remoções na Vila Autódromo em março de 2012, seguido pelo interesse global em torno do caso do desaparecimento do Amarildo e da violência policial em resposta aos protestos de 2013, até os dias de hoje, em que já existem repórteres comunitários reportando diretamente através de plataformas globais–a mudança ficou palpável. O tema das remoções, por si só, tem sido intensamente documentado–sendo uma das consequências negativas dos Jogos mais comentadas–dado que cerca de 80 mil pessoas foram removidas de suas casas no mais marcante período de remoções da história do Rio.
Uma profunda ferida de séculos foi exposta. Grupos comunitários das favelas no Facebook regularmente celebram reportagens internacionais com muitas “curtidas” como na postagem do Coletivo Papo Reto do Complexo do Alemão: “Mais um exemplo de nossa participação na mídia internacional. Tudo isso enquanto nossa própria mídia continua a ignorar a favela”.
– Legado Verdadeiro No. 2: Questionamento aprofundado e catarse social
Os Jogos Olímpicos trouxeram de presente um legado inesperado ao Rio: a perspectiva externa que ofereceu a centelha essencial para a catarse social local, que é inevitável e necessária. Exemplos incluem o grande debate sobre raça no Brasil que vem ganhando lugar na mídia internacional, enquanto a mídia local permanece ambivalente. Histórias que vão desde uma pesquisa de vários meses pelo The Globe and Mail, até textos menores no NPR e Global Post, foram traduzidas e amplamente compartilhadas no Brasil.
Além de dar início a uma era de reportagens sobre favelas com nuances e de debates públicos sobre a profunda divisão histórica do Rio, a presença da mídia global no Rio fez com que um número de promessas de legados Olímpicos e impactos fossem publicamente questionados. A investigação que levou à descoberta do nível extremo de poluição na Baía de Guanabara no Rio, onde as regatas Olímpicas aconteceram, foi conduzida pela Associated Press. A água que cariocas têm usado para recreação por décadas e que é de certa forma aceita do jeito que está, de repente se tornou uma questão pública no Rio, graças à mídia global.
– Legado Verdadeiro No. 3: Questionamento em nível global sobre o valor dos Jogos
Um dos legados principais, advindo do Rio sediar os Jogos Olímpicos 2016, foi aquilo que a experiência do Rio ensinou ao mundo sobre urbanismo, desigualdade, poder mau aplicado e sobre o Comitê Olímpico Internacional (COI) e os impactos de megaeventos em cidades. O Rio não foi a primeira cidade a experienciar esses custos do desenvolvimento Olímpico, mas foi a primeira cidade a experienciar os custos tão publicamente, que torno-os de conhecimento público global. Como resultado da experiência do Rio e do acúmulo de experiências passadas, muito poucas cidades democráticas hoje estão se candidatando pelos Jogos futuros.
Os investimentos maciços para os Jogos e a presença da imprensa mundial no Rio aconteceu num contexto de grande crescimento das mídias sociais. Apesar de o crescimento dessas redes sociais no Brasil não ter relação direta com os Jogos Olímpicos de 2016, o fato de o ciclo de implementação dos Jogos ter ocorrido simultaneamente à expansão dessas mídias no país–agora o segundo no mundo tanto no Facebook quanto no Twitter—significa que pela primeira vez na história Olímpica os impactos do dia a dia foram documentados por aqueles que os experienciavam in loco.
Foram precisos vários anos para a grande mídia fazer isso, mas hoje se pode dizer que notícias em tempo real das favelas podem alcançar o mundo em questão de minutos.
Como relatado em outubro de 2015: “Enquanto o assassinato do menino de 11 anos de idade no Caju, pela Polícia Militar, uma semana antes, foi minimamente noticiado na imprensa nacional, e o caso da remoção devastadora da Favela do Metrô só ter sido reportada pela grande mídia internacional cinco meses depois de seu início em 2010, a execução de Eduardo Santos recebeu atenção generalizada, tanto da mídia nacional quanto internacional imediatamente. A evidência filmada por uma testemunha da comunidade rapidamente enviada para as mídias sociais provocou reportagens locais em massa que incluíram as perspectivas de moradores e desafiaram as reações das autoridades, como também gerou cobertura pela BBC e The Telegraph, mostrando uma mudança revolucionária na capacidade da comunidade reportar situações, quebrar barreiras e atingir a massa em determinados momentos.” Pouco depois, o papel crítico da mídia social nesse caso foi destacado em uma reportagem do The Guardian.
– Legado Verdadeiro No. 4: Crescimento mais organizado e colaborativo da sociedade civil
O acesso às redes sociais, combinados com a força bruta e o volume de recursos que deram forma ao Rio pré-Olímpico, desempenharam um papel-chave no fortalecimento e união de movimentos sociais e facilitaram a mobilização, incluindo a que conduziu ao maior levante público no Rio desde o início da década de 90, o protesto de junho de 2013, em que pelo menos 300 mil cariocas tomaram as ruas. Dezenas de eventos podem ser identificados em qualquer dia determinado, e a interconectividade entre cariocas frustrados está crescendo dramaticamente a cada dia.
A combinação de uma regeneração urbana rápida, de cima para baixo, em um contexto altamente social e democrático, no momento do boom do acesso às mídias sociais e seu uso por comunidades tradicionalmente marginalizadas, criaram um legado inesperado dos Jogos, oferecendo aos moradores da favela a chance de alcançar audiências em massa com sua própria mensagem de indignação, por um lado, e de mostrar as qualidades, resiliência e força das comunidades, por outro.
– Legado Verdadeiro #5: As favelas estão sendo vistas com cada vez mais nuances e reconhecimento por sua luta, seu valor e qualidades
Nós estamos, portanto, vendo uma redução na estigmatização daquelas que devem ser as comunidades urbanas mais estigmatizadas do mundo, devido à combinação do acesso das comunidades às redes sociais e da atenção global. De fato, cada vez mais, as favelas estão sendo reconhecidas por suas qualidades.
Desde a Eco 92, quando a comunidade começou sua longa jornada para reestabelecer uma nova vocação para seus moradores, o Vale Encantado–localizado no meio da Floresta da Tijuca–desenvolveu sua própria culinária local, abriu um restaurante cooperativo, instalou painéis solares de produção local, jardins e, mais recentemente, biodigestores—incluindo um lançamento recente que fará do esgoto da comunidade o mais limpo do Rio.
Se nos basearmos na tradicional visão estigmatizante das favelas, o Vale Encantado soa absolutamente único. E ele é. Mas não porque é um exemplo raro de uma favela que detém qualidades. Antes, porque é exclusivamente autêntico. O que é exatamente aquilo que cada favela no Rio pode reivindicar. O mesmo se aplica à Vila Autódromo, em que os moradores estavam tão comprometidos com sua comunidade e com a memória dela que deram à prefeitura do Rio seu maior embate de marketing pré-Olímpico de todos. Ou o Vidigal na Zona Sul com sua história vital de uma favela de 80 anos, com sua deslumbrante vista para o mar, que recebeu o Papa em 1980 e se organizou com sucesso para dar fim à sequência de remoções de favelas que marcaram o período da ditadura militar no Rio. Hoje o Vidigal é conhecido por sua cultura e afabilidade que o levaram a ser o ponto focal da gentrificação das favelas nos últimos anos. Ou a favela Asa Branca da Zona Oeste, marcada por sua cultura aguçada de auto-planejamento desde os anos 90, que manteve o tráfico de drogas à distância e resultou em um desenho particularmente amigável para pedestre, transitável e funcional da comunidade. Ou a longa história da Maré na Zona Norte, que começou como uma área de moradias precárias sobre palafitas em áreas pantanosas, e se expandiu a ponto de poder se orgulhar por agora ter uma centena de organizações e vários excelentes jornais comunitários, incluindo um museu que guarda artefatos de seu empreendedorismo passado e presente.
– Legado Verdadeiro No. 6: O florescimento da possibilidade de um modelo urbano alternativo de “cidade singular”
Ironicamente, é precisamente o extrapolamento da visão intensamente dominada pelo capital que comandou o fazer político e o desenvolvimento econômico no Rio de Janeiro durante o período pré-Olímpico, que inflamou as visões alternativas do Rio, e que pode um dia abrir caminho para um novo modelo de cidade, aqui chamado a “Cidade Singular”.
O que é uma Cidade Singular? Uma cidade que reconhece seus atributos únicos locais e que, através do cultivo cuidadoso desses atributos, por meio de canais liderados por cidadãos, desenvolve-se de modo singular distribuindo ganhos através da população.
De forma bastante interessante, a cidade altamente corporativa, que a prefeitura do Rio tentou criar, resultou na exacerbação de problemas urbanos espaciais, econômicos e das desigualdades sociais. No entanto, isso está criando condições para o Rio se tornar uma Cidade Singular. A poção especial que resultou da atenção em massa da mídia global sobre o Rio, combinada com o crescimento simultâneo das mídias sociais pelas favelas do Rio que experienciaram algumas das mais brutais consequências do remodelamento da cidade associadas aos Jogos, culminou em um despertar crescente, no qual as profundas divisões da cidade estão aparecendo e criando a demanda para a Cidade Singular.
*Uma versão completa deste artigo está disponível como um capítulo do livro recém-lançado Occupy All Streets: Olympic Urbanism and Contested Futures in Rio de Janeiro (Ocupar Todas As Ruas: Urbanismo Olímpico e Futuro Questionado no Rio de Janeiro).