Durante os dias 23 a 30 de agosto, o Rio de Janeiro recebeu um evento internacional, The Global Summit – V Fórum de Inovação Social, realizado no Museu de Ciências da Terra na Urca. O encontro buscou dar voz a uma grande diversidade de pessoas e organizações–em torno de 150–que trabalham pela construção de um mundo mais sustentável. Sua quinta edição, realizada pós-Olimpíadas, chamou atenção para a criação de um novo paradigma para negócios sustentáveis, cidades prósperas, educação para todos, e saúde integral–os quatro temas do evento–com base no impacto social e ações sociais colaborativas.
O evento serviu também como uma capacitação, com as “sete etapas para a sustentabilidade” apresentadas por facilitadores voluntários bem treinados e dedicados, com base na proposta da co-criação, uma forma de conduzir ações práticas otimizando os recursos e conhecimentos compartilhados entre os participantes. O objetivo nesse caso é tornar os territórios lugares sustentáveis em diversos âmbitos, inclusive reconhecendo que cada pessoa é um agente transformador, e quando trabalhamos juntos, muito mais é possível.
Durante as manhãs dos dias 24-26 de agosto haviam plenárias com mesas de debate sobre Habitação no Rio Pós-Olímpico, que contou com a presença de Sandra Maria da Vila Autódromo, Emília Souza do Horto, Theresa Williamson da Comunidades Catalisadoras e Tainá Cardoso do TETO; Transparência nos Meios de Comunicação com David Miranda; e Comunicação Não Violenta com Dominic Barter.
Durante a tarde, quatro grandes grupos se organizaram em torno dos temas: Cidades Prósperas, Saúde Integral, Educação para Todos e Economia do Clima. Cada grupo realizava a capacitação de co-criação e ouviam apresentações de pessoas, “vozes” na nomenclatura do The Global Summit, que já desenvolviam iniciativas em cada área.
O grupo Cidades Prósperas, por exemplo, chegou de forma orgânica à conclusão unânime do objetivo de incentivar uma participação colaborativa cidadã na cidade, como um movimento que contemple a maioria, estimulando as pessoas a interagir com a cidade e ressignificar o espaço urbano. O grupo foi composto de cidadãos que também representam uma grande variedade de iniciativas sócio-ambientais no Rio e além, inclusive o jornal comunitário da Cidade de Deus CDD Acontece, Gaia Jovem, Morada da Floresta, Projeto Ruas, Conectando Territórios, entre outros.
No primeiro dia desse grupo foram ouvidas vozes de líderes locais como a de Otávio Barros, líder comunitário do Vale Encantado que desenvolve iniciativas sustentáveis, como técnicas de tratamento de esgoto através de biodigestores, e painéis solares, estando em comunicação com moradores de dentro e de fora da comunidade.
No segundo dia Adilson Almeida, presidente da Associação Cultural do Quilombo Camorim, localizado dentro do Maciço da Pedra Branca, a maior floresta urbana do mundo, falou sobre desafios que a comunidade enfrenta para manter suas tradições e cultura viva. Os moradores fazem recuperação de áreas degradadas por obras militares, possuem um projeto de guias da natureza formando monitores para trabalharem com turismo, além de desenvolverem artesanato a base de material reciclado e reaproveitamento do óleo de cozinha.
Esse quilombo é um dos mais antigos do Brasil, e foi reconhecido em 2014 pela Fundação Palmares. O território quilombola foi invadido por uma construtora que construiu a Vila da Mídia para as Olimpíadas, degradando um espaço que corresponde a cinco campos de futebol de Mata Atlântica. Nesse espaço seria construído um centro de referência cultural da comunidade.
Irenaldo Honório da Silva, presidente da Associação de Moradores de Pica-Pau, localizada em Cordovil, apresentou os grandes desafios que a comunidade enfrenta pela pouca assistência pública. A favela enfrenta problemas urgentes de infraestrutura como sistema de saneamento, onde muitas casas não estão conectadas com sistema de água. Esse problema afeta a saúde da comunidade, pois a água não é tratada. Irenaldo falou sobre a situação urgente de crianças e jovens da comunidade que ficam abandonados e não estão na escola.
A partir do relato de Irenaldo foi sugerido que ações colaborativas fossem feitas no Pica-Pau como forma de criar uma metodologia que poderá servir para outras comunidades no futuro. Um processo de ações sociais de co-criação junto a comunidade será realizado junto ao grupo Cidades Prósperas.
Durante o final de semana dos dias 27 e 28 de agosto foi realizado um hackathon no Rio Criativo, onde os quatro grupos se reuniram para detalhar os planos para suas ações colaborativas e para criarem um grupo do The Global Summit no Brasil.
Finalmente, o evento terminou no dia 30 com a apresentação no Museu de Ciências da Terra dos projetos desenvolvidos por cada grupo, inclusive o da Cidades Prósperas, cuja primeira ação junto à comunidade do Pica-Pau ficou marcada para o dia 3 de dezembro, com o objetivo de fazer um levantamento das demandas dos moradores, capacitação e engajamento comunitário.