
Esta matéria faz parte da série #OQueDizemAsRedes que traz pontos de vista publicados nas redes sociais, de moradores e ativistas de favela sobre eventos e temas que surgem na sociedade.
Entra ano, sai ano e o problema continua: a falta de resiliência climática das favelas e periferias frente às fortes chuvas que, anualmente no verão e início do outono, assolam a cidade. As tempestades que atingiram o Rio de Janeiro no fim de semana dos dias 4 e 5 de abril, geraram, mais uma vez, graves impactos no Grande Rio. Passagens obstruídas por alagamentos, moradias inundadas, quedas de árvores, perdas materiais e noites sem dormir foram alguns dos danos relatados por mídias comunitárias e moradores. Pelo menos desta vez nenhuma vida foi ceifada pela negligência do Estado.
Na Zona Norte da cidade do Rio, o alto risco de deslizamento na Formiga, no Borel e um deslizamento no Morro do Andaraí levaram a Defesa Civil carioca a acionar dez sirenes de evacuação em diversas localidades destas favelas.
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Apesar do acionamento de sirenes e da transmissão de alertas de emergência para celulares com o fim de prevenir mortes e mitigar danos causados pelos temporais, a ação do poder público ainda passa ao largo de soluções efetivas para a falta de resiliência climática de favelas e territórios periféricos. O problema é crônico e, segundo estudos, aflige desproporcionalmente as favelas: 15 vezes mais que o asfalto. Questão que só deve se intensificar nos próximos anos já que, com as mudanças do clima e os eventos extremos causados por elas, a vulnerabilidade climática das favelas só tende a piorar, o que já é uma preocupação de grande parte dos cariocas.
As redes informaram que, na noite de sexta-feira, 4 de abril, o temporal provocou alagamentos intensos na Avenida Brás de Pina, em Vista Alegre, bairro da Zona Norte. Carros parcialmente submersos e a força da correnteza da água causaram desespero entre moradores e transeuntes: “Como que eu vou embora, meu Deus?!”, comenta em um vídeo mulher que ficou ilhada.
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A madrugada de sábado foi de enorme apreensão na Favela do Acari, na Zona Norte. Moradores registraram o transbordamento do Rio Acari em diversas áreas do território, alagando ruas e becos da comunidade e impossibilitando o deslocamento das pessoas. Segundo a Rádio Tupi, o alagamento atingiu também ruas de Fazenda Botafogo e do Parque Colúmbia.
Ainda em Acari, a comunidade Terra Nostra registrou diversos pontos de alagamento, inclusive, dentro de uma escola. Esse evento, segundo mobilizadores comunitários, colocou por volta de 250 famílias em situação de risco.
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Ainda na Zona Norte, no Complexo do Alemão, a tempestade da manhã de sábado, 5 de abril, provocou a queda de uma árvore em frente a uma casa localizada no Largo dos Metralhas e bloqueou o acesso à casa. Felizmente, o acidente não deixou feridos. No entanto, segundo a moradora, ao tombar, a árvore rompeu os fios de energia de sua residência. Então, além do susto, a moradora ficou sem energia elétrica.
Partes da Zona Oeste também amanheceram debaixo d’água. Na Vila Kennedy, a Rua U já estava inundada por volta das 5:20 da manhã. “Repare no lixinho passeando procurando o próximo bueiro para entupir e deixar a piscina mais cheia ainda”, diz a postagem da Voz da Vila Kennedy.
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No Jardim Maravilha, na Zona Oeste, o pavor de perder tudo por conta das enchentes tirou o sono de Maria das Neves Fernandes na noite de sexta-feira. A água tomou conta de seu quintal e, por muito pouco, não invadiu o interior de sua casa. Em entrevista ao G1, ela desabafou: “[Passei] a noite inteira acordada, como em todos os verões. A gente sabia que isso podia acontecer”. Este é um dos efeitos mais insidiosos da ansiedade climática: privar os moradores de favela do sono, da tranquilidade e do sentimento de segurança dentro de suas próprias casas.
Na Baixada Fluminense, os municípios de São João de Meriti, que entrou em estado de alerta máximo da Defesa Civil do Estado, e de Duque de Caxias estão entre os mais atingidos pelas chuvas. Apesar da precipitação intensa em diversos pontos da cidade, registrando mais de 80 mm de chuva em 24 horas, São João de Meriti não apresentou danos maiores. Por outro lado, Caxias registrou alagamentos no bairro do Pantanal, na Vila Rosário, na Rodovia Washinton Luís e no bairro Jardim Primavera, onde moradores e comerciantes perderam móveis, eletrodomésticos e mercadorias, contabilizando, em alguns casos, um prejuízo de R$6.000.
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