Favelas nas Notícias: Resumo de Outubro de 2016

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Para ajudar nossos leitores a ter conhecimento das principais notícias e temas do mês passado, fizemos um resumo das histórias que publicamos aqui no RioOnWatch junto com algumas outras leituras importantes que saíram na mídiaVeja todos os nossos resumos mensais aqui.

Destaque de Outubro: Eleições Municipais do Rio

Outubro de 2016 chegou trazendo as eleições municipais, com o primeiro e segundo turno, respectivamente, ocorrendo em 2 de outubro e 30 de outubro. RioOnWatch iniciou o mês analisando as atitudes de moradores de favela em relação as diversas políticas propostas pelos 11 candidatos que competiam no primeiro turno. Em seguida, publicamos, pouco antes da última rodada de votação, uma análise semelhante das atitudes de moradores de três favelas em relação aos dois candidatos finais que participaram do segundo turno.

Os dois últimos candidatos do Rio se opuseram: o bispo conservador e candidato do PRB, Marcelo Crivella, com o apoio da igreja evangélica e da milícia, evitou aparições públicas, atenção da mídia e debates. As propostas políticas de Crivella totalizam oito páginas e sua campanha foi marcada por inúmeros escândalos e acusações de corrupção. Ele propôs combater os efeitos da crise econômica brasileira no Rio através da diminuição do governo local–que pesquisas apontam como podendo prejudicar ainda mais o bem estar dos moradores da cidade. Em contraste, o defensor dos direitos humanos e candidato do PSOL, Marcelo Freixo, mais conhecido por suas investigações sobre as ligações entre a milícia do Rio e o governo, fez campanha em toda a cidade, inclusive nas favelas. O trabalho de Freixo, como a garantia de direitos humanos para os reclusos, levantou à discussão sobre as populares interpretações errôneas das definições de direitos humanos no Brasil. A plataforma de campanha do Freixo continha 70 páginas propondo politicas baseado no feedback obtido em 18 meses de grupos focais e pesquisa sobre as diversas necessidades demográficas e geográficas do Rio.

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A vitória de Crivella com 59,4% dos votos válidos nas eleições no Rio de Janeiro fez parte de uma reação nacional contra os dois maiores partidos políticos do país, o Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula e Dilma e o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), de Eduardo Paes, o atual prefeito da cidade. Apesar da vitória de Crivella, a eleição de 2016 para prefeito apresenta uma vitória questionável: metade das prisões por crime eleitoral ocorridas na eleição deste ano aconteceram no Rio de Janeiro, e 45% da cidade escolheu votar nulo ou em branco, ou simplesmente não apareceram nos postos de votação. O progresso pode não ter vindo tão rápido quanto esperavam os moradores da cidade, pois as análises pós-eleitorais mostram que os resultados são indicativos de desigualdades crescentes na cidade.

Os novos vereadores do Rio também foram eleitos no dia 2 de outubro, com a nomeação de dois candidatos nascidos na favela, Marielle Franco e David Miranda, conhecidos por defender os direitos dos negros, das mulheres, LGBT e das minorias. Indiana Siquiera também se tornou a primeira mulher trans perto de conseguir um cargo público no Rio, ganhando votos suficientes para se tornar vereadora suplente da cidade.

Legado Olímpico e Violações dos Direitos Humanos

As eleições municipais também serviram como uma primeira prova de como os moradores se sentem sobre o legado Olímpico do Rio, já que os eleitores nem sequer elegeram, para o segundo turno de votação, o candidato do partido político responsável pela preparação da cidade para os Jogos. O Observatório de Prostituição também forneceu uma outra perspectiva sobre o legado Olímpico através de sua análise do impacto dos Jogos sobre a indústria do sexo no Rio.

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No meio da fanfarra eleitoral, outubro viu mais violações ao direito à moradia acontecerem: uma família no Horto se tornou a primeira a receber um aviso de despejo na comunidade pacífica, exuberante e bicentenária. No Complexo do Alemão, dois jornalistas comunitários foram presos enquanto documentavam a remoção e a demolição de cerca de 200 casas na Favela da Skol. Moradores de longa data do Parque Nacional da Floresta da Tijuca, que já estão sem eletricidade em suas casas, receberam notificações por escrito exigindo sua saída, mas ainda não receberam ofertas de moradia alternativa ou compensação. No The New York Times, o fotógrafo Peter Bauza compartilhou imagens na foto-reportagem A Vibrant Life Amid The Ruins of Rio (Uma Vida Vibrante Nas Ruínas do Rio).

A segurança pública no Rio continuou a ser motivo de preocupação, já que o Secretário de Segurança do Estado José Mariano Beltrame, responsável pela introdução e implementação do programa das UPPs nas favelas da cidade, anunciou sua renúncia. A reputação do programa UPP começou a diminuir em 2013, quando a polícia de pacificação da Rocinha torturou o pedreiro Amarildo, tema do novo filme Na Sombra do Morro.

Entretanto, relatórios mostram que o crime continuou a crescer no Rio, mas que as operações policiais continuaram a causar níveis inaceitáveis de danos colaterais, bem como graves danos psicológicos para os moradores que vivem nestas condições como as de guerra. As tentativas de combater a violência policial e a corrupção continuam no Estado do Rio de Janeiro, com dois oficiais acusados do assassinato de um jovem em Paraty.

Nesse momento de reflexão pós-Olímpica, Juliana Barbassa contribuiu com uma reportagem multimídia excelente para o Americas Quarterly What Went Wrong in Rio’s Favelas? (O que Deu Errado Nas Favelas do Rio?):

Urbanismo, Soluções Comunitárias e História da Favela

Outubro deu as boas-vindas à conferência Habitat III da ONU em Quito, oferecendo oportunidades para refletir sobre como as propostas da Nova Agenda Urbana poderiam ser aplicadas ao Rio e suas favelas, bem como a possibilidade de analisar a crítica oficial do Brasil ao Rascunho Zero da Agenda. Enquanto isso, o RioOnWatch publicou (por enquanto ainda só em inglês) os três primeiros artigos de uma série de cinco partes sobre lições das favelas para políticas habitacionais, examinando construção e comunidadeações coletivas e diversas necessidades, e desconfiança, gentrificação e titulação, com um olhar direcionado para o desenvolvimento da habitação nas favelas do Rio. Com a reincorporação no Google Maps de 26 favelas, foram levantadas questões sobre como e porquê as favelas do Rio devem ser mapeadas e as vantagens de fazê-lo.

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A inovação e criatividade de moradores de favela também foi elogiada nos meios de comunicação deste mês, com a mídia comunitária CDD Acontece recebendo atenção internacional. Os meios de comunicação comunitários continuaram a combater os estereótipos e os estigmas das favelas através de perfis de moradores em Boca de Favelauma página no estilo Humans of New York (Humanos de Nova Iorque), e Manguinhos comemorou as representações cinematográficas de favelas com seu próprio festival de cinema. Ao lado, o projeto social Ballet Manguinhos recebeu atenção por percepções desafiadoras da vida urbana através de suas aulas de ballet semanais e performances. Enquanto isso, a ONG Obra Dona Meca, na Zona Oeste da cidade, busca proporcionar reabilitação e apoio a centenas de crianças portadoras de deficiência, e pais dedicados das favelas contemplaram o papel dos pais no sistema educacional do Rio.

Este mês, um documentário da ONU apresentou micronegócios sustentáveis no Rio de Janeiro, o novo guia da cidade, Rio Secreto, revelou pérolas escondidas e atrações de favelas por toda a cidade, enquanto o livro Favelização examina como a estética da favela é culturalmente apropriada para vender itens de luxo.

Finalmente, a história da favela foi exibida neste mês, já que a mais antiga favela do Rio, a Providência, celebrou seu 119º aniversário, fornecendo inspiração para contar histórias inovadoras. Um olhar sobre a história fascinante do Complexo da Maré (matéria que em breve será publicada em português) forneceu uma compreensão vital de como a vibrante comunidade foi moldada por seus arredores, assim como fez Therezinha, voz da Cidade de Deus,  no depoimento abaixo: