“Você nunca viu o ballet clássico assim…” é o slogan da exposição do Ballet Urbano Manguinhos (BUM), uma exposição de fotos em locais múltiplos inaugurada no dia 23 de setembro na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A exposição apresenta fotos dos bailarinos na sua comunidade Manguinhos, na Zona Norte do Rio. As imagens evocativas, capturadas pelos fotógrafos e moradores de Manguinhos, Eric Cardoso e Ana Maria Silva, motivam os espectadores a questionar os conceitos pré-concebidos sobre o ballet clássico e a favela de Manguinhos.
O Ballet Manguinhos começou há quatro anos como um projeto social concebido por Daiana Ferreira dos Santos de Oliveira. Naquela época, o Ballet Manguinhos era apenas uma aula de ballet grátis duas vezes por semana dada por Daiana numa igreja em Manguinhos. Desde então tornou-se uma trupe mista de dança de 200 alunos, com duas companhias formais de dança (companhia jovem e companhia infantil), cinco professores profissionais e 20 apoiadores e patrocinadores.
“A gente nunca ia pensar que haveria uma coisa desse tamanho em Manguinhos, porque Manguinhos nunca teve nada. Se você for buscar notícias de Manguinhos, você nunca vai ver notícias sobre trabalhos culturais, só vai ver as questões das guerras, das milícias, do tráfico. Mas a gente está em um novo tempo, Manguinhos está em um novo tempo”, disse Daiana.
O Ballet Manguinhos tornou-se reconhecido não somente devido ao seu sucesso como projeto social, mas também pela qualidade dos seus dançarinos que recebem um treinamento multidisciplinar rigoroso no método Vaganova ou russo. Em abril de 2016, o Ballet Manguinhos tornou-se o primeiro projeto social a apresentar-se no Teatro Miguel Falabella no Norte Shopping.
A fotógrafa Ana Maria Silva, que cresceu em e ao redor das favelas no Rio, foi imediatamente atraída para o projeto. Ela descreve a sua primeira visita ao Ballet Manguinhos como “amor à primeira vista”.
Não é preciso ir para a Zona Sul ou para um local turístico do Rio para enxergar o que é bonito. A exposição é sobre apropriação de um território que precisa e merece ser visto, merece investimento e merece ser reconhecido. A exposição mostra o que já está sendo produzido ali dentro de Manguinhos, que é uma forma de mudança através da arte”, disse Ana Maria Silva.
Nos últimos quatro anos, o Ballet Manguinhos produziu inúmeras histórias de sucesso com bailarinos indo profissionalizar-se em centros como o Centro de Dança Rio e outros juntando-se à pré-equipe de nado sincronizado do Flamengo, que recruta ativamente membros do grupo de dança. Para Daiana Oliveira, são as mudanças individuais dos bailarinos, tanto físicas como psicológicas, que demonstram o maior impacto do projeto. A principal delas é o orgulho recém-encontrado dos dançarinos em chamar Manguinhos de seu lar, documentado com a hashtag #IssoAquiÉBalletManguinhos que o grupo usa para espalhar a mensagem do fortalecimento da comunidade.
O fato, diz Daiana, é que o Ballet Manguinhos é mais do que somente dança. Em agosto, o grupo lançou Dançando e Lendo, um projeto de alfabetização que é a inspiração para o espetáculo anual de dança para este ano. No mesmo mês, o Ballet Manguinhos foi reconhecido como uma inciativa de desenvolvimento sustentável pelo Centro Rio+.
À medida que os bailarinos se preparam para a sua exibição anual em dezembro, Daiana diz que eles precisam do apoio da comunidade. O grupo, que depende de doações e patrocínio, atualmente está lutando para pagar os seus cinco professores de dança, que também vieram de projetos sociais.
“Eles estão aqui com vontade, com amor, com desejo. Basicamente, o que a gente precisa é ter o pagamento dos professores garantido”, disse Daiana. “A gente pode sobreviver sem fazer o espetáculo, mas a gente não pode sobreviver sem os professores”.
E depois de quatro anos sem parar, Daiana está decidida a manter o projeto: “Enquanto a gente tiver vida, enquanto a gente quiser, a gente vai continuar. Principalmente porque o trabalho tem efeito”.
Para saber mais sobre a exposição do Ballet Urbano Manguinhos e ver as fotos, visite a página do Facebook. A exposição será apresentada em seguida na Biblioteca Parque de Manguinhos de 18 a 26 de novembro.
Para fazer uma contribuição ao Ballet Manguinhos, siga o link para a sua página de financiamento colaborativo Kickante.