No dia 9 de maio, jornalistas foram convidados para o pré-lançamento do documentário “A Baixada Nunca Se Rende”. O filme, dirigido pelo italiano Christian Tragni e a brasileira Juliana Spinola, apresenta ao mundo o Baixada Nunca Se Rende (ou BXD), que vem a ser o primeiro coletivo de artistas e músicos da Baixada Fluminense, patrocinado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Composta por produtores culturais de toda a Baixada Fluminense, o coletivo é baseado em Belford Roxo e reúne-se no Centro Cultural Donana, um importante local de expressão artística na Baixada desde os anos 80.
A estreia pública do filme será amanhã, quarta-feira, 17 de maio, no Cine Odeon no Centro do Rio com apresentações ao vivo dos membros da BXD.
Na mídia local e internacional, a Baixada Fluminense tem sido sensacionalizada e estigmatizada há muito tempo como uma região dominada pela violência–Belford Roxo foi considerada pela ONU uma das cidades mais perigosas do mundo nos anos 80. Abrigando quase 4 milhões de pessoas, os 13 municípios da Baixada são uma parte integrante do passado, presente e futuro cultural, econômico e social da Região Metropolitana do Rio. No entanto as taxas de homicídio que em muito ultrapassam o próprio Rio–com uma população de 6 milhões–juntamente com serviços públicos deficientes e formuladores de políticas negligentes, deixaram os moradores em uma situação precária quanto aos seus direitos humanos durante décadas. A parceria entre o PNUD, através do Centro Rio+, almeja ressaltar o potencial cultural das periferias urbanas abordando as preocupações mais graves dos moradores, incluindo a violência, o acesso aos serviços públicos como saúde e educação, o investimento em programas culturais, oportunidades econômicas locais e a transparência e prestação de contas do governo.
“São músicas que denunciam ou que mostram alguns problemas que existem aqui”, explica o vocalista da banda Rota Spiral e professor de literatura da escola pública, Renato Aranha, “mas que são comuns a qualquer lugar do mundo porque a periferia é sempre uma periferia”.
A parceria ressalta o espírito de “não deixar ninguém para trás” dos 17 objetivos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas–a sucessora dos Objetivos de Desenvolvimento das Nações Unidas que foram acordadas por todos os 193 Estados Membros e entraram em vigor em 1 de janeiro de 2016–que almeja tornar o desenvolvimento sustentável uma realidade para todos independentemente da raça, religião, gênero ou localização.
Layla Raad, Vice-Diretora do Centro Mundial Rio+ para Desenvolvimento Sustentável, cita o Rio como o berço da Agenda de 2030 para o Desenvolvimento Sustentável na sequência da Conferência Rio+20 em 2012, e fala no filme sobre o orgulho que a ONU sente ao lançar uma iniciativa global na Baixada. A parceria com Baixada Nunca Se Rende é um programa piloto que será replicado nos escritórios do PNUD em 166 países em desenvolvimento, com o objetivo de usar a música e a arte “para trabalhar mais estreitamente com os cidadãos dos subúrbios na implementação da agenda do desenvolvimento sustentável e para acionar maior prestação de contas e transparência do governo”.
Através da música, os artistas abordam as questões do racismo, da estigmatização, da violência policial, da conservação ambiental, e o papel das mulheres para criar regiões metropolitanas mais justas e sustentáveis.
Ao lhe perguntarem como era ver o filme pela primeira vez, Wallace Cruz, da banda baseada em Mesquita, Gente, cuja canção Rede sobre violência policial aparece no filme, disse, “é muito para processar, mas me sinto de certa forma representado”.