Domingo, 11 de junho, durante a Virada Sustentável Rio de Janeiro, foi realizada uma oficina de introdução à permacultura e compostagem organizada pela Horta Inteligente no pé do Morro da Providência, na Região Portuária do Rio. O projeto teve seu início a partir de uma inquietação pessoal da fundadora Elisangela Cielo, moradora da comunidade e originária da Bahia, devido a falta de modelo positivo de preocupação ambiental para crianças da região e a ociosidade das crianças nos períodos fora da escola. Junto com alguns colaboradores como Lorena Portela, engenheira ambiental, ela fundou a ONG Horta Inteligente, com sede no Instituto Central do Povo (ICP), centro metodista de apoio à Providência e seus jovens desde 1906.
A Creche Tia Dora localizada no ICP e foco das ações da Horta Inteligente, abriga crianças de 2 a 5 anos, uma idade muito importante para receber estímulos positivos de criatividade e informação sobre práticas ecológicas. “As crianças são muito espertas, já sabem muito sobre horta e ensinam os amigos e família em casa, são multiplicadores do projeto”, diz Elisangela. Além das atividades na creche, a Horta Inteligente realiza mutirões de limpeza e manutenção do espaço verde, e participa de eventos públicos e privados mostrando práticas de permacultura e arrecadando recursos para o projeto–que antigamente recebia auxílio da prefeitura, mas que por falta de verba parou de financiar.
A oficina teve como objetivo agregar pessoas que querem se afastar de práticas convencionais danosas ao meio ambiente, incentivando-as em contribuir com diálogos, troca de experiências e conhecimentos. “Ainda é difícil aderir, participar. Quero me dedicar mais e fazer uma horta em casa”, disse o participante Marcos, da Providência.
O evento contou com a participação de integrantes diversos em idade, etnia, formações pessoais e profissionais que agregaram muito valor ao debate e experiência. Todos foram convidados a apresentar um pouco de si e dizer como podem contribuir para o projeto e para o meio ambiente, além de apresentarem outros projetos nos quais participam, assim aumentando a rede de conhecimento–foi um grande intercâmbio colaborativo que informou aos participantes como atuar melhor em suas comunidades. “Não acredito mais na política, precisamos fazer nós por nós mesmos, passar o conhecimento adiante, isso sim é política. Falta ainda informação e comunicação, precisamos de trocas e fazer coisas boas sem se preocupar em sermos grandes para aprendermos a nos relacionar bem com o planeta”, disse Mariana, geógrafa e fotógrafa do evento.
A oficina procurou mostrar que projetar espaços harmoniosos com a natureza é uma filosofia de vida, e porque é preciso estabelecer sistemas baseados em padrões de natureza para criar comunidades humanas sustentáveis. Foram citados exemplos de moradias construídas a partir de materiais locais, naturais e renováveis considerados muitas vezes como residuais ou sem valor. Também foi reforçado o princípio de voltar às origens, observar como índios faziam, como moradores rurais com poucos recursos fazem suas moradias. Lorena disse: “A casa de pau-a-pique funciona muito bem, mas infelizmente é associada ao subdesenvolvimento, à doença de Chagas, quando na verdade, se for feita corretamente e com manutenção constante, funciona muito bem”.
Genaro Martins, morador de Santo Cristo, disse aos participantes: “Acredito que eu seja o mais velho, então acho bom dividir: vim da Bahia para o Rio com 23 anos, até então nunca tinha tomado remédio, vivia com medicina natural. Minha família é muito grande, tenho irmãs que tiveram 15 filhos e estão todos bem. No meu prédio, junto com a minha família, cultivo mais de 200 espécies de plantas, vivo do meu cultivo”.
A roda de conversa, integração e debate girou em torno dos três pilares da permacultura: o cuidado com o meio ambiente (solo, floresta, água), economia colaborativa (partilhando do excedente) e o cuidado pelas pessoas. “Pequenos agricultores são incentivados a cultivar com uso de fertilizantes e outros produtos tóxicos na plantação. Botam veneno. Mas já perceberam que esses agentes trazem doenças, há pessoas morrendo no campo. Precisamos nos reintegrar à natureza, conhecer de fato o meio em que vivemos”, complementou Lorena. O projeto incentivou os participantes a adquirirem mudas vendidas na sede que foram cultivadas no projeto para arrecadar fundos e complementar ou dar início a sua horta caseira.
Para finalizar a oficina, foi realizada uma aula prática de compostagem, conscientizando os participantes sobre a importância socioambiental em separar o lixo orgânico, pois mesmo que os indivíduos não realizem compostagem em casa, facilita o trabalho dos catadores que realizam reciclagem, diminuindo a necessidade de aterros e depósitos de lixo. Todos os restos orgânicos utilizados na aula prática foram provenientes do café da manhã oferecido na sede. “Podemos reutilizar muitos do que consideramos resíduos, como bagaço, fibra, e sementes de frutas, e complementar a alimentação. Se não, pôr na composteira mesmo”, disse Elisangela.
A composteira pode ser feita com o reaproveitamento de baldes de cloro ou margarina (3,5L) por serem feitos de plástico resistente e terem boas dimensões para o aproveitamento. Recomenda-se utilizar três baldes empilhados para uma família de três a quatro pessoas em média. Para famílias numerosas ou comunidades, recomenda-se adquirir caixotes de plástico específicos. Foi explicado que qualquer objeto de origem natural, como papéis em geral, filtro de café, e folhas de planta, podem ser agregadas de acordo com a proporção correta de resíduos úmidos. Com o manejo correto, a composteira fornece em alguns meses, húmus riquíssimo em nutrientes para ser introduzido na horta caseira como biofertilizante, uma prática gratuita e sustentável que pode ser realizada dentro de casa.