“Nós sempre esperamos pela transformação do nosso mundo, mas o mundo nunca será transformado se não começarmos pela mente dos jovens.” Estas são as palavras que levam Paulo Cesar Avelino, um pastor do Complexo do Alemão, a infundir seus projetos voltados para o desenvolvimento da juventude local com grande amor e cuidado. Paulo, agora com 55 anos de idade, cresceu no Alemão e recorda com grande carinho a “paz e felicidade” que experimentou com a abundância de “espaço livre para correr“. Hoje em dia, no entanto, muitos moradores do Alemão acabam por ficar em casa devido ao aumento da violência e do uso da tecnologia. Muitas vezes, Paulo explica: “Somos reféns em nossas próprias casas“.
Infelizmente, existem poucas atividades e oportunidades para adolescentes atualmente no Alemão. “Não tem quase nada para fazer,” explica Paulo. Esta questão surgiu em parte devido à falta de investimentos governamentais. Há seis anos, o antigo campo de futebol e a região em seu entorno–espaço que era muito utilizado para reunir a vizinhança–foram convertidos pela prefeitura em um parque de ciclismo para as Olimpíadas. Porém, devido à má administração, o parque não foi finalizado, nem é utilizado.
Em contraste, Paulo pessoalmente investiu muito tempo e seus recursos limitados para o desenvolvimento de três projetos separados para beneficiar jovens do Alemão. Os dois primeiros, um pequeno parque e uma piscina, depois de muito uso e manutenção, eventualmente se desgastaram até não ter mais reparo. Mas em 2010, o pastor passou para o “sonho que sempre teve”: fundar uma biblioteca comunitária. “Eu sempre amei ler e sempre fui curioso”, comenta Paulo. De fato, quando criança, Paulo era tão curioso que procurava cada nova palavra em seu próprio dicionário. Agora, com a experiência de uma vida inteira, o pastor entende como a educação e a cultura podem afetar positivamente a dignidade e a motivação dos jovens, especialmente os de classes mais baixas. Com ajuda, estes jovens podem superar barreiras. “Eles são o produto de um processo específico de carência de ensino, consciência e amor“, diz Paulo. Sua solução? Simplificando, “não há nada melhor do que o conhecimento”.
Mas isso não quer dizer que o projeto não tenha um papel de entretenimento também. Quando a biblioteca está aberta, é possível ver crianças brincando com vários brinquedos e jogos que o pastor arrecadou. Enquanto isso, para os jovens adultos, Paulo conta que 50 Tons de Cinza tem sido frequentemente retirado para leitura. O pastor também identifica uma importante relação entre entretenimento e a construção da comunidade. Paulo lembra vividamente quando somente uma casa no Alemão tinha televisão, e como todos se reuniam lá para assistir filmes, como se fosse um cinema. Voltando para o atual Rio de Janeiro, Paulo cita a biblioteca em Manguinhos como um exemplo do poder dos filmes para atrair grandes multidões. Depois da biblioteca do bairro de Manguinhos começar a projetar filmes, “os jovens começaram a frequentá-la, e aqueles que não queriam ver os filmes acabavam lendo os livros”, aumentando ainda mais os frequentadores. Esta união dos membros da comunidade para aprender e aproveitar a companhia um do outro é de crucial importância para um contraponto à cultura de consumo atual no Brasil. De modo geral, o pastor observa que “as pessoas estão mais preocupadas em ter do que em ser”.
No futuro, Paulo espera poder adicionar uma sala de projeção cinematográfica à biblioteca comunitária em um espaço de 35 metros quadrados. Infelizmente, recursos financeiros são atualmente a principal barreira para esta instalação. Assim, as doações são cruciais, e o pastor tem considerado a implementação de um sistema de contribuições mensais para quem puder doar. Da mesma maneira, Paulo precisa de mais apoio para ajudá-lo a manter a biblioteca aberta. Apesar de ter graves problemas na coluna vertebral que o levam à fisioterapia durante toda a semana, ele consegue abrir a biblioteca, a maioria das terças, quintas e sábados a partir das 9:00h até o início da tarde, reabrindo novamente às 17:00h por um período mais curto. No entanto, o pastor sabe que frequentar uma biblioteca, assim como tantas outras atividades, é uma rotina que requer estabilidade e disponibilidade da própria instituição. Para garantir que a biblioteca permaneça aberta pelo maior tempo possível e cumpra seu papel na luta contra a desigualdade educacional, Paulo está pedindo a ajuda de voluntários que possam atuar em turnos para abrir a biblioteca e ajudar as crianças da vizinhança.
Caso você, ou alguém que você conheça possa oferecer livros, recursos financeiros, ou tempo à biblioteca comunitária, por favor entre em contato com Paulo Avelino através deste e-mail.