O projeto Ap do Amanhã: Horta, Cultura e Arte é obra de amor de Alan Pierre, morador do Ap de Bangu, como é popularmente conhecido o Conjunto Residencial Dom Jaime Câmara, que foi durante muito tempo o maior conjunto residencial da America Latina, e onde hoje residem 56 mil habitantes. Alan é voluntário em uma escola municipal do sub-bairro, que fica entre Padre Miguel e Bangu, auxiliando na manutenção do teatro e quadra esportiva.
O seu projeto próprio, do Ap do Amanhã, procura fortalecer os laços comunitários da área por meio da implantação e manutenção de agricultura coletiva estimulando assim o consumo de alimentos orgânicos produzidos localmente. Alan apresenta seu desafio como sendo grande: “disseminar atitudes conscientes para que juntos possamos viver em um lugar mais limpo, organizado e próspero”.
No dia 15 do mês passado, foi realizado o primeiro mutirão para implantação da horta comunitária contando com um grupo inicial de voluntários e profissionais com formação em agroecologia e alimentação. Há um tempo, a culinarista Danielle Oliveira da Cidade de Deus, e outros colaboradores presentes já estavam cultivando mudas em suas residências e aguardando a data oficial de plantio. O local escolhido para o primeiro mutirão foi um canteiro margeando a via residencial e tranquila da comunidade, Rua Emílio Ribas, próximo ao Campo de Futebol Ceres. “Antigamente, havia muitas barracas de vendas que, por pressão política, foram removidas para dar espaço à ciclovia que nunca foi finalizada. Nesse canteiro tinha muito lixo. Limpamos e agora estamos implementando a horta”, disse Ana Cláudia, esposa de Alan.
Alan Pierre expressa sua gratidão pelos colaboradores que ajudam na mobilização do projeto: “eles, muitas vezes, trabalham no comércio local, alguns estão desempregados, e mesmo assim, gostam de trabalhar como voluntários e ajudam de coração aberto porque acreditam”. Quem participa aprende diretamente ecologia contribuindo com a separação de resíduos orgânicos utilizados na compostagem e nutrição do solo. Além de fomentar a boa alimentação e, consequentemente, bons hábitos de vida, Alan encoraja a comunidade a trabalhar em conjunto cuidando dos espaços públicos. “O que temos já é tão pouco, precisamos de cuidar do que é nosso. É muito bom poder juntar pessoas inteligentes e visionárias para levar o projeto adiante”, explica ana Cláudia.
O local do plantio piloto foi designado por Alan Pierre especialmente por ter dimensões menores, compatível com fase de teste, que visa no primeiro mês ver como a comunidade responde à nova iniciativa, “é tudo novo para [as pessoas], eu dou um passo de cada vez”. Após um maior aprendizado com o primeiro cultivo, o objetivo seguinte é estender o plantio para outro local mais abrangente, uma praça próxima localizada entre as ruas Água Branca e Carangola, local que anteriormente abrigava despejo irregular de resíduos sólidos e estacionamento de veículos. Após conversar com um técnico da Comlurb que mora na comunidade, foi solicitado o auxílio na limpeza e organização de uma praça próxima. No local, estão implementando um projeto de paisagismo enquanto a análise de qualidade de solo está sendo feita, para após aprovação, implementar uma horta no novo local.
O projeto visa ainda servir como exemplo para outras comunidades demonstrando como a organização urbanística juntamente à agricultura urbana podem utilizar o espaço público mal aproveitado como um local de produção e encontros. A iniciativa principal do projeto é levar capacitações para moradores da Ap de Bangu voltadas especialmente para áreas de ecologia. O projeto foi selecionado para ser incubado pelo Movimento Ecozen e possui canal para financiamento coletivo através da Benfeitoria para auxiliar no seu desenvolvimento. Contribuições podem ser feitas no canal ou por doação de mudas para o plantio.
Ao final do evento do mutirão, as culinaristas contribuíram com um lanche de alimentos vivos e foi organizado um pequeno debate apresentando as ideias e demais objetivos da iniciativa. Os colaboradores do projeto, assim como a vizinhança, puderam trocar experiências pessoais que auxiliarão futuras empreitadas na comunidade. Exemplos incluem a produção de adubo orgânico através de separação de lixo, e compostagem feita a partir dos resíduos orgânicos. Assim, o Ap do Amanhã vem conscientizando sobre a importância das contribuições de indivíduos no ciclo sócio-ambiental.