Matéria da série #OQueDizemAsRedes que traz pontos de vista publicados nas redes sociais, de moradores e ativistas de favela sobre eventos e temas que surgem na sociedade.
Após a morte de um delegado da Polícia Civil no dia 12 de janeiro no Jacarezinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro, a Polícia Civil, que mobilizou equipes de 31 delegacias, juntamente com agentes das polícias Militar e Federal, vem realizando operações diariamente na favela e nas comunidades vizinhas em busca dos suspeitos. Helicópteros da Polícia Civil dispararam em movimento, com altas chances de errar o alvo. 15 pessoas foram presas na quinta-feira, dia 18, pelo Exército, por suspeita de envolvimento no assassinato, após as forças conjuntas conseguirem um mandato coletivo de busca e apreensão.
A página do Facebook do aplicativo DefeZap relatou o recebimento de materiais que denunciavam a operação, incluindo o emprego dos helicópteros de forma questionável, e o seu encaminhamento como denúncia às instâncias responsáveis. “Dezenas de cidadãos têm relatado tal prática, a maioria mulheres, mães preocupadas com seus filhos brincando nas ruas, correndo sério risco de se tornarem vítimas de tais disparos,” disse. Como eles colocam, não se trata de um fato isolado, e mais preocupante ainda por se dar em uma área densamente povoada.
Michel Silva, um comunicador comunitário da Rocinha, destacou a dimensão do investimento feito nas políticas de segurança pública, sugerindo que o impacto seria muito maior se o valor fosse repassado para programas de cultura protagonizado por moradores. Lembrando as operações militares na Rocinha em setembro, Michel escreveu:
“Quando as Forças Armadas cercaram a Rocinha em setembro do ano passado foi um alvoroço. Depois de sete dias ocupada, eles foram embora e retornaram em outubro. Ficaram mais dois dias. E quanto custou todas essas operações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) na Rocinha? R$7.086.389,75. Teve algum resultado efetivo? Não. Desse montante, a Marinha do Brasil recebeu: R$2.335.997,32; Exército Brasileiro: R$3.473.000,00; e Força Aérea Brasileira: R$1.277.392,43. Imagina toda essa grana na mão dos favelados fazedores de cultura? Isso me deixa muito indignado.”
Integrante do Coletivo Papo Reto, Thainã de Medeiros, ao refletir sobre o post de Michel, questiona quem está lucrando com todo esse dinheiro. “Se o investimento continua sendo feito, alguém está lucrando. Se toda essa grana está sendo investida, quem vende arma deve estar sorrindo.”
A página da campanha “Caveirão Não – Favelas Pela Vida e Contra a Operação” questiona a guerra às drogas erroneamente empreendida contra os moradores de favelas, que por consequência não podem viver em paz. “Quem paga pela falsa ‘guerra as drogas‘ é sempre a população. Farsa! Sabemos que os verdadeiros traficantes estão nas grandes mansões da Zona Sul! São políticos e megaempresários, que compram o silêncio das autoridades, dos juízes etc.”
O jornal Fala Manguinhos fez sucessivas postagens atualizando os moradores de Manguinhos, vizinha do Jacarezinho, sobre o andamento das operações, que abarca ainda as comunidades de Arará e Mandela.
Além do perigo das balas perdidas e da arbitrariedade e potencial violência protagonizada por policiais, a Agência de Notícias das Favelas destaca os prejuízos que incluem danos à rede elétrica, que segundo a Light só poderá ser consertado quando uma situação de segurança for reestabelecida.
Fotógrafo do Jacarezinho, Léo Lima, contrastou a imagem dominante da violência na favela na grande mídia com um vídeo de crianças rindo e curtindo o cinema na rua na própria favela (abaixo). Léo refletiu: “JACAREZINHO, LUGAR MAIS VIOLENTO DO RJ. Assim diz os jornais e a televisão. A gente sem espelho acredita e compartilha muitas vezes que acaba se tornando a única verdade.” Em contraste, o vídeo mostra um outro lado. O videoclipe é da página ‘Favela que me viu Crescer‘, filme produzido por Cafuné na Laje que se trata da favela e a história dela do ponto de vista dos moradores.