Nesta Sexta, 26ª Edição da Via Sacra da Rocinha: A Crucificação Social do Favelado

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A Via Sacra da Rocinha foi idealizada por Aurélio Mesquita–ex-diretor da encenação–que ao ter contato com o livro O homem de Nazaré – a Via Sacra de Hojede José Maria Rodrigues, imaginou a possibilidade de realizar a encenação nas ruas da Rocinha em um espetáculo que atendesse a proposta do autor de contextualizar a história da paixão e morte de Cristo com temas comum à nossa sociedade. Para colocar em prática essa ideia, Aurélio convidou amigos e atores amadores da própria comunidade que, junto a ele, montaram e encenaram a primeira edição da Via Sacra no ano de 1992.

Assim surgiu um espetáculo no formato de teatro de rua, que, a partir de então, passou a ser encenado toda sexta-feira santa na favela da Rocinha, pelos próprios moradores da comunidade.

No decorrer dos anos, essa ideia que surgiu de forma despretensiosa foi crescendo e tornou-se um projeto artístico-cultural expressivo da Rocinha. O espetáculo, que acontece apenas uma vez por ano, passou a reunir muitos espectadores conforme foi virando uma tradição para a comunidade. Ao mesmo tempo, a montagem da peça mobilizava diferentes pessoas e grupos de teatro, atuantes na Rocinha, para sua realização em cada edição.

No ano 2015, um projeto de lei do vereador Paulo Pinheiro foi promulgado, declarando a Via Sacra da Rocinha como Patrimônio Cultural Imaterial da Cidade do Rio de Janeiro–reconhecimento que coloca em evidência sua importância como teatro de rua e manifestação cultural de favela.

Um dos elementos importantes da Via Sacra é a Companhia de Teatro Roça Caçacultura. Sua história se confunde um pouco com a da Via Sacra, pois é outro movimento cultural que surgiu por influência do Aurélio Mesquita.

Em 1997 Aurélio deu uma oficina de teatro no CIEP Ayrton Senna, escola que atende majoritariamente pessoas da Rocinha. Dessa oficina foi criada uma peça chamada Fragmentos da Roça, que foi construída a partir da pesquisa feita pelos jovens e adolescentes que participavam das oficinas, sobre a história e costumes da Rocinha.

Essa peça deu origem ao Roça Caçacultura, que entre outras atividades passou a integrar o elenco da Via Sacra da Rocinha.

Aurélio Mesquita ficou a frente da direção artística da Via Sacra até o ano de 2016, quando se mudou da Rocinha. Assumiu em seu lugar Robson Melo, que teve a difícil missão de preparar o elenco, em pouco mais de uma semana, para a edição comemorativa de 25 anos da Via Sacra da Rocinha, no ano de 2017.

Robson iniciou sua trajetória no teatro através da Cia Roça Caçacultura, vindo, posteriormente, participar da Via Sacra como ator, produtor e, desde o ano passado, diretor artístico.

Via Sacra da Rocinha – 2018

Responsável por promover o maior espetáculo teatral a céu aberto da cidade do Rio de Janeiro, a Cia de Teatro Roça Caçacultura anuncia a realização da 26ª edição da Via Sacra da Rocinha, que acontecerá no dia 30 de março.

Com o protagonismo dos moradores da comunidade–que integram produção, elenco, direção artística e executiva, a Via Sacra mais uma vez tomará as ruas da Rocinha como cenário, para contextualizar a paixão e morte de Jesus Cristo com temas que refletem, principalmente, os casos de crucificação social que acontecem em nossa sociedade.

Para o diretor artístico, Robson Melo, o recorte temático do espetáculo em 2018 não tem como fugir aos recentes episódios de violência que assolam a Rocinha e que ganharam os noticiários nacionais e internacionais.

“A ideia era homenagear a Rocinha e a sua identidade tipicamente nordestina. Fazer uma montagem com referências à cultura que construiu a vida do local. Porém, mais uma vez, a violência tornou-se foco principal da cidade e a favela volta a ser palco de um triste espetáculo de guerra entre facções e da truculência do Estado pelas ações da polícia”, disse ele.

Celebrando mais um ano de resistência cultural em prol da arte, da vida e do estado de direito na favela, a encenação também denunciará outras formas de violência que afetam o cotidiano do favelado por conta da ausência de políticas públicas.

“A Via Sacra esse ano vem denunciar o descaso com as favelas. A própria montagem do espetáculo sofre a violência do descaso. Mais um ano de luta para se manter viva, sem patrocínio e sem apoio do poder público. Falaremos de tiro, fome, desemprego e muitas outras formas de violência”, concluiu Robson.

A 26ª edição da Via Sacra da Rocinha será realizada nesta sexta-feira santa, dia 30 de março às 20:00h no Largo do Boiadeiro, Rocinha. O evento é gratuito.

Realização: Cia de Teatro Roça Caçacultura
Direção executiva: Monique Silva e Camila Perez
Direção artística: Robson Melo
Texto: José Maria Rodrigues
Parceria: TV Tagarela
Promoção: FavelaDaRocinha.com