Há mais de um mês que as crianças do Rio oficialmente voltaram às aulas após as férias de verão, mas com a falta de professores assolando a cidade milhares de alunos foram forçados a faltar às aulas. Durante o ano letivo de 2017, a cidade do Rio perdeu mais de 2.200 professores. Famílias por toda a cidade estão sofrendo com a escassez, com o direito à educação sendo negado a seus filhos. “Desde o começo das aulas, está sem professor. Estava faltando 16, e agora só 13”, falou a mãe, Célia Duarte, moradora de Rio das Pedras, sobre a escola da sua filha. “E ela [Minha filha] está querendo estudar. A maioria das escolas de Rio das Pedras está sem professor. Toda semana, mandam a gente passar aqui. A gente passa, não tem professor. A gente está muito triste com esse prefeito”.
De acordo com um diretor de uma escola pública de Rio das Pedras, que não quis ser identificado, o secretário de educação do Prefeito Marcelo Crivella contratou 500 novos professores para o ano letivo de 2018. As escolas do Rio ainda precisariam de mais de 1.700 professores, apenas para voltar aos níveis do início de 2017, porém um estudo de 2015 revelou que 70% das escolas com a pior classificação no estado já sofriam com a falta de pessoal naquele ano. Em lugares como Rio das Pedras, uma comunidade com milhares de crianças em idade escolar, a falta as atinge seriamente. O diretor informou que cada professor é responsável por uma classe de, em média, 35 alunos e nesta escola faltam 13 professores, então o efeito é que apenas nesta escola, em Rio das Pedras, cerca de 455 alunos não têm garantido o seu direito constitucional de frequentar a escola pública. E como o diretor lembrou, há muitas escolas públicas em Rio das Pedras todas com falta de professores.
Ao entrar numa escola típica, algo claramente não-escolar chama a nossa atenção: o silêncio. Livros e papeis estão empilhados no corredor para uso das crianças, mas ninguém está usando-os. Infelizmente, a falta de professores não está somente impedindo que alguns alunos frequentem a escola, mas também está afetando os alunos que podem frequentar as aulas. Uma aluna disse que apesar de poder ir à escola, não há professores de arte, música ou educação física. Outro aluno afirmou, “a gente veio na última aula, não teve aula. Na sexta-feira, não teve aula. E nesta semana é só sexta-feira”.
Enquanto a falta de professores está tendo um impacto negativo sobre todo o Rio, é especialmente difícil para comunidades como Rio das Pedras onde os pais ou tutores frequentemente trabalham longe e não têm condições financeiras para pagar escolas particulares. “Meu filho já está matriculado [na escola pública] e há um mês ele está sem aula. E o Crivella falou que tinha contratado 500 professores, e até agora o colégio não tem professor. Estou pagando por um colégio particular, eu não tenho condições financeiras e eu tenho todo direito que meu filho estude em colégio público”, lamentou o morador e pai, Leandro Batista Barbosa.
Rio das Pedras já teve falta de professores no passado, mas agora a situação é diferente. Depois que a comunidade foi mencionada no Plano Estratégico de Crivella com previsão de extensas remoções para dar lugar a altos prédios de apartamentos, os moradores montaram um maciça campanha de resistência e derrotaram o plano original. No entanto, a prefeitura continua pressionando os moradores para que concordem com um plano de ‘modernização’ para o qual os mobilizadores locais acreditam que serão necessárias remoções na comunidade, algo que a recém-formada Comissão de Moradores é firmemente contra. No contexto das propostas dispendiosas da prefeitura para o bairro e a ameaça associada de remoção, o subinvestimento na educação é mais um tapa na cara. Andréia Ferreira, membro da Comissão, refletiu:
“Em questão de escolas, estamos abandonados. Não é uma escola, todas as escolas estão com falta de professores. São muitas turmas sem professores. Tem a Escola do Amanhã, que desde o início da gestão dele [do Crivella] está parada. Essa obra é muito importante para a comunidade, porque temos alunos aqui que estão sem estudar porque não têm vagas nas escolas. Ou quando [uma escola] têm vagas, é distante, e não tem condições da mãe ou do pai levar e buscar as crianças.”
Nos últimos meses, moradores de Rio das Pedras enfrentaram uma série de adversidades que, aos olhos dos membros da comissão, somam aos esforços concentrados da prefeitura para pressionar moradores da favela ao ponto de escolherem se mudar devido à falta de serviços públicos de qualidade. Seja devido às contas astronômicas de luz ou aulas canceladas na escola, as famílias de Rio das Pedras estão sentindo a pressão. Como Ferreira continuou:
“A gente ainda não conseguiu se livrar do medo, desse terror, da remoção. Por que esse desejo louco de fazer obras em Rio das Pedras? Por que dá prioridade a isso nesse momento? A cidade passa por uma crise forte. O que está por trás desse interesse de fazer urbanização em Rio das Pedras? Se tem dinheiro sobrando, eu acho que a prefeitura deveria priorizar as coisas. Nós temos outras prioridades. Nós ficamos atentos, temerosos para que essa covardia não venha acontecer na comunidade. Pelo que têm acontecido, pelos últimos acontecimentos, eles não desistiram, de fato, de remover a comunidade. Ao ver da comissão, eles estão obrigando as pessoas a sairem da mesma forma.”
Uma mãe, Patricia, ecoou a ideia de que as prioridades do prefeito estão equivocadas: “O que a gente queria desse prefeito era saúde, educação, porque a educação está péssima e a saúde nem se fala. A gente queria que nossos filhos estudassem. É isso que a gente queria, por ele [Crivella] ser um homem de Deus. Ele quer fazer um Rio das Pedras novo, mas não paga nem médico, nem professor. Eu não voto nele, eu não voto”.
Os moradores de Rio das Pedras e as famílias por toda a cidade estão sentindo a crise com as medidas de austeridade econômica da prefeitura e está claro que muitos já se cansaram. O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (SEPE), realizou, em 27 de março, um dia de ação para protestar contra as condições das escolas do Rio, entre outras questões que afetam os professores e os alunos. Como outra mãe de Rio das Pedras colocou: “Uma criança de sete anos fica em casa, sem estudar. Isso é um absurdo. Já chegou no limite. Ninguém está aguentando mais isso. A gente só quer que ele [Crivella] resolva o problema, que ele mande professores porque as crianças precisam de estudar”.