A resistência emerge em inúmeras expressões, e essa diversidade foi destacada no evento “Circulando–Diálogo e Comunicação na Favela”, no Complexo do Alemão, na Zona Norte, no último sábado, 1º de dezembro.
O evento procurou promover discussões produtivas entre comunidades tradicionalmente marginalizadas através de uma série de apresentações e atividades. O festival anual de um dia ocupou a Avenida Central, a estrada principal do Morro do Alemão, das 10-21h, com música, teatro, dança, grafite, comida, moda e muito mais.
O tema deste ano, que comemora a 14ª edição do Circulando, foi “Diversidades”, o que estimulou conversas em torno dos temas: diversidade, raça, etnia, gênero, sexualidade e classe. Juntamente com outros parceiros locais, o evento foi organizado pelo Instituto Raízes em Movimento, uma organização comunitária focada no desenvolvimento cultural e social do Complexo do Alemão e outras favelas.
Desde o início da manhã, adultos e crianças pintavam mensagens inspiradoras em papéis coloridos. Acontecendo ao lado da oficina de arte, uma das primeiras atividades do dia foi uma roda de discussão centrada na juventude e nos direitos humanos. Em sua sede, o Instituto Raízes em Movimento realizou uma aula sobre memórias vivas com os educadores comunitários Gizele Martins e Fransérgio Goulart, explorando memórias da ditadura e de opressão. Mais tarde, os colaboradores organizaram atividades artísticas para crianças.
Após o almoço, as atividades da tarde começaram com dois palestrantes indígenas, Yracema Sussuarana Tupinambá e Taquari, membros da comunidade indígena Tupinambá de Olivença, da Vila de Itapuã, em Ilhéus, na Bahia. Eles falaram no intercâmbio FavelAldeia, uma iniciativa para reunir os moradores das favelas do Alemão com os povos indígenas de suas aldeias, e descreverem suas experiências e formas de resistência. Depois, os palestrantes convidaram o público a se juntarem a eles para celebrar um ritual Tupinambá conhecido como “Porancy”, que reconecta as pessoas à terra e aos seus ancestrais.
Em seguida veio um comunicado do Ocupa Alemão, convocando todos os participantes a se tornarem aliados na luta pela liberdade de Rafael Braga—um jovem negro da Vila Cruzeiro que foi injustamente encarcerado duas vezes e contraiu tuberculose na prisão. Ele está atualmente em prisão domiciliar enquanto recebe tratamento, mas o grupo está lutando para exigir anistia completa para Rafael.
A primeira de uma série de performances, Bloco d’Águas trouxe para a platéia prazerosas canções de samba e maracatu, seguidas de outras apresentações artísticas, incluindo uma performance teatral de Quitta Pinheiro e a exibição do filme Nosso Sagrado. Simultaneamente, uma oficina de turbante atraiu mulheres e crianças para aprenderem sobre este item de moda, que possui significado simbólico para as comunidades negras, enquanto uma tenda de relaxamento oferecia massagens. Por fim, o coletivo de poesia Slam Laje e o grupo teatral Teatro da Laje ocuparam o palco, trazendo risos e reflexões profundas aos espectadores.
As horas finais do evento foram preenchidas com forró e uma pista de dança cheia, trazendo um final feliz para esta celebração da diversidade e identidade.