Iniciativa: Teatre-se: Teatro e Protagonismo Juvenil Feminino no PPG
Contato: Facebook | Email
Ano de Fundação: 2014
Comunidade: Pavão-Pavãozinho e Cantagalo (conhecidas coletivamente como PPG) (Zona Sul)
Missão: Teatre-se é um grupo que promove conversas e ações em torno de questões enfrentadas por jovens mulheres nas favelas do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo através do teatro e da arte.
Eventos Públicos: O grupo regularmente promove espetáculos teatrais e ações de impacto territorial para a juventude do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, e pela cidade do Rio de Janeiro. Visite sua página no Facebook para maiores informações.
Como Contribuir: O Teatre-se está buscando financiamento para manter instrutores (que atualmente trabalham como voluntários), oferecer transporte a eventos culturais na cidade e auxiliar nas produções teatrais do grupo.
O Teatre-se foi fundado nas favelas do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, no início de 2014, por Tatiana Bastos de Sousa. Depois de trabalhar na comunidade por quase três anos como parte de um programa governamental que alocou servidores públicos para trabalhar na área de direitos humanos em favelas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) ativas, Tatiana se tornou agudamente consciente da deficiência significativa em relação a atividades recreativas e acesso a oportunidades culturais no Pavão-Pavãozinho e Cantagalo—especificamente, oportunidades para jovens mulheres.
Partindo de suas interações com jovens através de seu trabalho em direitos humanos, estava claro para Tatiana que as jovens mulheres da comunidade tinham extrema necessidade de um espaço no qual pudessem processar as adversidades cotidianas—desde a desigualdade socioeconômica e a violência policial até o racismo e o sexismo. Devido a sua formação em teatro e de sua participação anteriormente no grupo de teatro Nós do Morro, na favela do Vidigal, e através de conversas com jovens na comunidade, Tatiana reconheceu que ela tinha uma solução possível em suas mãos: o teatro. “Eu percebi que eu tinha essa ferramenta capaz de mobilizar essas meninas e trazê-las para um espaço seguro, no qual elas pudessem participar em diálogos e elaborar a respeito dessas questões.” Em semanas, Tatiana começou a oferecer aulas de atuação teatral e círculos de conversa em uma sala de aula abandonada no Cantagalo.
Desde o princípio, a trajetória da iniciativa tem sido impulsionada por suas jovens participantes femininas. Enquanto Tatiana serviu como organizadora inicial, o objetivo sempre foi que as alunas fossem responsáveis por decidir sobre tópicos do círculo de discussão e roteiros. Esse tipo de conversa aberta e de oportunidade criativa ofereceu uma estrutura para membros do grupo começarem a confiar umas nas outras e se abrirem de novas formas. O processo exigiu paciência, relembra Tatiana: “Em uma sociedade racista e patriarcal, a juventude é impossibilitada de se expressar facilmente. Você tem que ganhar a confiança delas. Levou tempo, mas no final, nós tivemos êxito em estimular o debate”.
Facilitar discussões focadas em questões enfrentadas pelas mulheres na favela e experimentar com a atuação teatral comprovou-se como algo transformador para muitas das garotas—mas a visão do Teatre-se se estendeu para além dos muros da sala de aula. Tatiana sentiu que havia um potencial para que o trabalho do grupo impactasse uma audiência muito maior. “Nós trabalhamos com questões que são pertinentes para o mundo de mulheres jovens da periferia, mas nós sabíamos que esse projeto tinha que reverberar por toda a favela.” A peça de estreia do Teatre-se foi uma história e celebração das favelas do Cantagalo e do Pavão-Pavãozinho e de mulheres que foram cruciais para a construção e a defesa de suas comunidades.
Para as garotas, reconhecer a incrível motivação e profundidade de liderança incorporada por essas mulheres foi uma grande inspiração. Depois de promoverem conversas com essas líderes comunitárias, o Teatre-se recriou as cenas em que essas mulheres responderam às necessidades da favela. Apesar de ser sua primeira peça como um grupo, a performance foi um tremendo sucesso.
Desde 2015 surgiu no grupo a necessidade de ampliação das ações de impacto territorial e de uma transformação no modo de comunicação com a juventude local. Foi quando o Teatre-se passou a organizar eventos de base comunitária e de interesse da juventude periférica. Desde então, o grupo realizou o “Fala Sério: evento para debater a evasão escolar” e, em 2017, o festival “Favela Mulher: Feminismo, cultura negra e favelada.”
O Festival durou um dia inteiro, dedicado a cada um dos seguintes temas: mulheres na política, mulheres na religião e feministas de sucesso na internet. O grupo promoveu uma série de discussões com mulheres atuando na política, de diferentes favelas do Rio de Janeiro, com lideranças de religiões afro-brasileiras e evangélicas e com feministas que são referência na internet. Entre esses diálogos, o grupo continuou a coordenar performances de teatro e de passinho para entreter os participantes do festival.
Em seguida ao sucesso do festival, o Teatre-se entrou em um curto hiato. Além de precisar dar um tempo de descanso depois de mais de três meses de organização e promoção do festival, o grupo estava aguardando as reformas da sala de aula. A construção de uma nova sala de aula foi completada no início de março de 2018, mas antes que o grupo pudesse se reunir novamente, a dura realidade da violência bateu na porta, quando uma das colegas das garotas foi assassinada em um tiroteio.
Hoje, Tatiana e seus companheiros permanecem comprometidas com o projeto. Abordando esses constrangimentos físicos e morais diários e as formas de assédio sofridas por mulheres e garotas, o grupo apresentou uma peça provocativa e empoderadora intitulada “Nós, Sementes” no festival Virada Sustentável, em junho de 2018. Após a performance, o grupo publicou a seguinte nota no Facebook: “Aguardem a nova agenda de apresentações. ‘Nós, Sementes’ vai voltar ainda maior, mais forte, com nova integrante, com mais poesia, mais música, mais reflexão e muito mais emoção”.
Para muitas, o Teatre-se é o único lugar onde elas podem processar suas experiências e se expressar inteiramente. Para Tatiana, o teatro é uma ferramenta para defender essas garotas e prepará-las para o futuro. “A arma que temos para lutar contra essa ideologia—dos jovens como inimigos da sociedade—é a arte. E essa é a arma que iremos usar.”
*Teatre-se é um dos mais de 100 projetos comunitários mapeados pela Comunidades Catalisadoras (ComCat)—a organização que publica o RioOnWatch—como parte do nosso programa paralelo ‘Rede Favela Sustentável‘ lançado em 2017 para reconhecer, apoiar, fortalecer e expandir as qualidades sustentáveis e movimentos comunitários inerentes às favelas do Rio de Janeiro. Siga a Rede Favela Sustentável no Facebook. Leia outros perfis dos projetos da Rede Favela Sustentável aqui.