Iniciativa: Museu do Graffiti e Projeto Verde Vale na Região de Oficina Nacional de Grafite Organizado (RONGO)
Contato: Facebook da RONGO | Facebook do Museu do Graffiti | Email
Ano de Fundação: 2011/2013
Comunidade: Pavuna (Zona Norte)
Missão: Cultivar a cultura da arte de rua para jovens artistas no Rio e abordar questões ambientais na comunidade e em seus arredores.
Eventos Públicos: A RONGO organiza uma caminhada anual e participa do Dia da Consciência Negra, 20 de novembro.
Como Contribuir: A RONGO está em busca de recursos financeiros para realizar e expandir os projetos do grupo e apoiar atividades de geração de renda para os participantes. As necessidades específicas incluem financiamento para compra de equipamentos (como tinta spray e materiais de arte) e para transporte para eventos culturais na cidade.
Em apenas uma curta caminhada da estação de metrô Engenheiro Rubens Paiva, na Pavuna, Zona Norte do Rio, um pequeno campo de futebol recebe os visitantes no caminho para o florescente centro cultural comunitário, a Região de Oficina Nacional de Grafite Organizado (RONGO). Carlos André do Nascimento, fundador e diretor da RONGO, explica que a organização comunitária, sem fins lucrativos, depende de voluntários locais para coordenar seus múltiplos projetos. Como uma organização com foco cultural e ambiental, os principais projetos da RONGO incluem Verde Vale—uma iniciativa de reciclagem e reaproveitamento adaptativo do lixo—e o Museu do Graffiti, um museu comunitário com exposições de artistas locais e aulas de arte para jovens. Além desses projetos, a organização organiza atividades recreativas e culturais regulares para crianças e adultos.
Verde Vale: Trabalhando para Um Futuro Sustentável
Centenas de sacolas de lixo pretas e brancas enchem um pequeno terreno fechado próximo à sede da RONGO, onde Rodrigo Ribeiro—um dos coordenados junto com João Correa do sistema de reciclagem da Verde Vale—começa a transformar um pneu gasto em uma obra de arte, pintando o pneu com spray vermelho brilhante.
Iniciada em junho de 2013, a Verde Vale trabalha com lixo e materiais recicláveis que se acumulam mensalmente na Pavuna e em áreas próximas. Por meio da iniciativa, os voluntários coletam materiais descartados de casas, escolas, empresas locais e ruas do bairro. Os materiais são classificados na sede da organização, os itens utilizáveis separados e alguns deles transformados pela Verde Vale em obras de arte recicladas, outros sendo manipulados pela cooperativa de reciclagem do grupo, gerando renda para os membros participantes. A COMLURB coleta o lixo inutilizável. “É importante mostrar às pessoas que é possível reutilizar o lixo, gerar renda e preservar o meio ambiente”, descreve Carlos André. “Nós tentamos fazer uso do que as pessoas jogam fora para criar obras artísticas e todo tipo de coisas”.
Recentemente, o foco na gestão de resíduos e reciclagem cresceu, demonstrado não apenas pelo aumento na quantidade de materiais coletados e vendidos—de 20 toneladas por mês no início de 2018 para 40 toneladas por mês hoje—mas também nas formas criativas em que a RONGO optou por lidar com o problema. A ideia do sistema Verde Vale é que os moradores da comunidade ou das comunidades vizinhas tragam materiais recicláveis para a cooperativa e, em troca, recebam um Vale Verde—chamado “gentileza” por unidade—que denota o valor monetário deste material. O Vale Verde pode então ser usado como pagamento em restaurantes locais, para serviços como transporte dentro da comunidade, ou em outras empresas locais que participam do sistema Verde Vale. As empresas, por sua vez, podem resgatar os vales em dinheiro nas instalações da organização.
No entanto, na perspectiva de Carlos André, para realizar mudanças duradouras não é apenas necessário transformar resíduos em recursos com valor; também é necessário mudar o que as pessoas consideram como “resíduos” ou “recursos”. Todas as terças, quintas e sábados, a RONGO, em parceria com o Metrô Rio e Musiva, convida crianças, adolescentes e pais para participar de uma oficina onde eles podem usar os resíduos coletados pela organização para criar bijuterias, estojos, carteiras, bolsas e outros produtos para levar para casa ou vender. Embora a ideia principal seja fazer com que os participantes vejam o desperdício sob uma nova luz, a oficina também se tornou um espaço importante para crianças e jovens se socializarem e ficarem em um local seguro.
Além disso, moradores das comunidades envolvidos na iniciativa já trabalharam em vários projetos, desde limpezas de praia até projetos de plantio. Alguns dos mais recentes empreendimentos do projeto incluem a restauração da paisagem natural na fronteira dos municípios de São João de Meriti e Rio de Janeiro, perto da “Barreira Ecológica” do Rio Pavuna—implementada pelo governo do estado em um esforço para conter o fluxo de lixo para a Baía de Guanabara. No local, os voluntários coletaram lixo acumulado no Dia Mundial da Água e prepararam um sistema de compostagem para um projeto de jardim escolar na pré-escola Regina Céli.
O próximo passo na agenda da Verde Vale é o desenvolvimento de um projeto de biodigestor para a Feirinha da Pavuna—que concentra lixo do comércio de rua, localizado entre as estações de metrô Pavuna e Maria das Graças, em colaboração com engenheiros que ajudaram a implementar o sistema de esgoto com biodigestor na comunidade do Vale Encantado, no Alto da Boa Vista. O objetivo é construir um biodigestor de pequena escala que usará resíduos orgânicos da Feirinha da Pavuna para produzir biogás, que, por sua vez, acionará um gerador para produzir eletricidade para as bancas da Feirinha da Pavuna. No entanto, a visão de Carlos André não para por aí. Ele descreve que quer criar uma troca de reciclagem na qual as pessoas trocam lixo orgânico ou materiais recicláveis para comer ou beber na Feirinha da Pavuna.
Próximo à Feirinha da Pavuna está o Rio Pavuna, que em 2017 e 2018 foi classificado como estando na segunda pior condição em um índice de qualidade de água de cinco escalas desenvolvido pela Fundação Nacional de Saneamento dos Estados Unidos. A RONGO, em parceria com o projeto Observando Rios da SOS Mata Atlântica, faz a análise das águas do Rio Pavuna mensalmente. Carlos explica que isso torna o rio um dos mais poluídos da cidade do Rio de Janeiro e que parte da poluição se origina da Feirinha da Pavuna. Além do projeto do biodigestor, os moradores planejam ajudar a limpar o rio implementando um sistema de tratamento natural usando plantas flutuantes, que usa os processos biológicos naturais das plantas para capturar nutrientes e decompor os poluentes na água.
A RONGO também desenvolveu parcerias com outras organizações sem fins lucrativos nos últimos anos, ganhando reconhecimento da Secretaria Municipal de Cultura através de seu prêmio por ações locais Rio 450, pelos esforços ambientais do grupo. Uma parceria significativa se deu através do programa Coletivo de Reciclagem do Instituto Coca Cola, concebido para capacitar os esforços de reciclagem da comunidade. Através do programa, as organizações participantes estabeleceram uma série de três metas de reciclagem para alcançar ao longo de seis meses. Depois de cumprir todos os seus objetivos, a RONGO recebeu uma doação de R$5.500, que foi usada em grande parte para construir o teto do Museu do Graffiti, também da organização. Infelizmente, a RONGO foi uma das quase 100 organizações que deixaram de participar do programa devido a cortes no financiamento do programa no Brasil. Apesar dos desafios, a Verde Vale continua a reformular criativamente as paisagens locais.
O Museu do Graffiti: Vendo Graffiti Através de uma Lente Cultural
Outro componente importante e único que contribui para a visão comunitária da RONGO é o seu evolutivo Museu do Graffiti—o primeiro museu do gênero no Brasil, de acordo com Carlos André, e um importante espaço cultural no Rio de Janeiro. Todas as terças-feiras, as aulas de graffiti são realizadas para crianças das 18:00 às 20:ooh, oferecendo um espaço de reuniões para os jovens desenharem e falarem sobre arte e hip-hop. Embora os suprimentos sejam limitados, caneta hidrocor, giz de cera, lápis de cor e papéis de rascunho disponíveis no museu fornecem às crianças apaixonadas pela arte de rua a possibilidade de mergulharem em sua paixão—oferecendo uma fuga de algumas influências negativas presentes em seus ambientes sociais.
Em 2017, a RONGO teve a oportunidade de criar uma exposição coletiva chamada “Grafiti Diálogo”, com o graffiteiro e rapper Fael Tujaviu, que também dava aulas no projeto, e o apoio da prefeitura. A ex-Secretária Municipal de Cultura Nilcemar Nogueira visitou a oficina de arte que aconteceu durante o evento—crianças, voluntários e famílias ficaram empolgadas com a possibilidade de futuros investimentos no museu. Mais recentemente, Nilcemar voltou a visitar o Museu do Graffiti em setembro de 2018—desta vez, juntamente com o prefeito Marcelo Crivella—para celebrar o lançamento da 12ª Primavera dos Museus.
O grafite é um elemento particular do trabalho da RONGO que está enraizado na experiência pessoal e na visão de mundo de Carlos André: “Sou um ex-pichador”, ele descreve. “Pichadores… são excluídos da sociedade. Mas, se tivessem a oportunidade de fazer trabalhos artísticos no museu, poderiam modernizar a arte de rua… e ser reconhecidos em suas viagens”. Aludindo às percepções negativas das pichações que inibem seu reconhecimento como forma de arte, Carlos André reflete: “As pessoas dizem que o veneno da cobra não vale nada, mas é o próprio veneno que ajuda a criar a cura”.
Carlos espera que o Museu do Graffiti sirva de base para a pesquisa sobre a pichação no Rio de Janeiro, a fim de analisar a lógica, o significado e a simbologia deste estilo de grafite que marcou as construções locais por décadas.
Enquanto a organização atualmente carece de recursos financeiros necessários para comprar materiais de arte adicionais e tinta spray, Carlos pretende decorar os espaços interiores do museu com murais de grafite adicionais nos próximos anos.
Atividades Recreativas
Além do Museu do Graffiti da RONGO e dos esforços de sustentabilidade do grupo através da iniciativa Verde Vale, Carlos André e Rodrigo procuram dar vida à missão da organização para todos os membros da comunidade por meio de atividades esportivas e recreativas para crianças e adultos.
No Dia da Consciência Negra, no dia 20 de novembro, o grupo prepara uma Corrida e Caminhada Anual Martin Luther King Jr., ao longo da via com o mesmo nome que corta vários bairros na Zona Norte. Além disso, a RONGO organiza treinos de futebol liderados por um treinador voluntário quatro dias por semana, com a participação de aproximadamente quarenta jovens jogadores. Durante todo o ano, o grupo treina para competir na Taça das Favelas, torneio que reúne jovens de favelas de todo o Rio.
Promovendo um Impacto Duradouro
O objetivo principal da RONGO é incentivar as crianças a interagir com questões de justiça ambiental e arte, a fim de criar sua própria imagem de boa cidadania. Quando os projetos que oferecem essas oportunidades passam despercebidos e sem apoio, os jovens perdem experiências cruciais que possuem potencial para desenvolver seus interesses e aliviar as preocupações dos pais.
Embora a RONGO tenha recebido grandes elogios e reconhecimento por suas iniciativas culturais e ambientais, a organização continua a enfrentar desafios comuns enfrentados por organizações de base comunitária ambiciosas. “As pessoas lutam para vir à nossa organização para ajudar a desenvolver projetos… Às vezes, eles têm dois empregos, então fica realmente difícil tentar ajudar os outros quando eles precisam se sustentar”, reconhece Carlos André. “Hoje, é difícil encontrar apoio para a organização e dar conta das questões que são mais importantes para nós”. Carlos André e Rodrigo são muito ativos na direção da organização, mas, como Carlos André descreve, “uma instituição é como um corpo composto de diferentes partes—uma cabeça, um braço, uma perna”. No futuro, ele espera aumentar o número de voluntários que participam da iniciativa e ampliar seus esforços de reciclagem com o apoio de um patrocinador.
Quando perguntado sobre o impacto de seus vários projetos, Rodrigo compartilhou preocupações que espelham aquelas que motivaram Carlos André a criar a organização colocando em primeiro lugar, a importância da RONGO no cotidiano da juventude. “O que me traz mais alegria é a possibilidade de dar aos jovens—que estão direta e indiretamente ligados a todos os nossos projetos—oportunidades de crescer, coisas que eu nunca tive”, descreve Rodrigo. “Porque Carlos e eu sabemos que, se tivéssemos essas oportunidades quando crianças, seríamos pessoas diferentes. Não quer dizer que nos arrependemos de quem somos e de nossas infâncias, mas seríamos pessoas melhores porque nossas comunidades não têm muitas oportunidades para orientar os jovens”.
A missão da RONGO de inspirar jovens adultos a se envolverem mais em questões sociais, juntamente com a motivação de seus principais voluntários, são os fatores que se combinam para tornar essa organização pioneira.
*RONGO é um dos mais de 100 projetos comunitários mapeados pela Comunidades Catalisadoras (ComCat)—a organização que publica o RioOnWatch—como parte do nosso programa paralelo ‘Rede Favela Sustentável‘ lançado em 2017 para reconhecer, apoiar, fortalecer e expandir as qualidades sustentáveis e movimentos comunitários inerentes às favelas do Rio de Janeiro. Siga a Rede Favela Sustentável no Facebook. Leia outros perfis dos projetos da Rede Favela Sustentável aqui.