Após um mês do último temporal do dia 8 de abril, o maior em 22 anos, moradores da Rocinha ainda estão aflitos por conta de um deslizamento ocorrido no Laboriaux, a região localizada na parte alta da favela. Segundo a população do local, a área onde houve o deslizamento ainda corre risco.
Na temporal do dia 10 de abril, dois dias após a chuva inicial, outra parte de uma casa que estava para desabar ruiu. Atualmente, os moradores relatam que ainda não se sentem seguros em ficar, mesmo com a liberação da Defesa Civil em alguns pontos. “Eles disseram que aqui não tem perigo. Mas não dá para ficar tranquila, porque se a casa da frente cair, leva esse pedaço junto, inclusive minha casa”, disse a manicure Helena Lopes, de 58 anos.
A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação (SMIH) informa que a Geo-Rio atua, com vistorias e obras de contenção na Rocinha, desde a madrugada do dia 7 de fevereiro e que as encostas da comunidade são monitoradas constantemente e já sofreram intervenções de engenharia.
Mas de acordo com moradores, desde 2010, após um temporal que matou duas pessoas, aquela área oferece perigo. Na época, o lugar foi interditado e algumas pessoas retiradas. No entanto, depois disso nenhuma obra foi feita. Paula Santos, que mora no local há 28 anos, teve a sua casa interditada por conta da chuva. Ela irá para a casa do filho, que mora atrás. “Não tenho condições de sair desse lugar e pagar um aluguel. Essa casa é minha, eu construí e ter que deixar assim é muito triste. Ao mesmo tempo eu preciso sair porque se a casa do vizinho, que está desabando, terminar de cair, leva a minha”, disse ela, que não consegue dormir por conta da preocupação. “Estamos todos assustados. Qualquer barulho é motivo de medo”, comentou.
Os moradores também reclamam sobre a falta de informação da prefeitura. Segundo eles, famílias estão em situação de vulnerabilidade, e técnicos da Defesa Civil informaram que só irão inspecionar e emitir laudo de interdição caso o morador entre em contato. “Estão transferindo a responsabilidade para nós. Não precisamos ligar, pois é visível o risco de deslizamento por falta de contenções. O local crítico no Laboriaux onde ocorreram dois desabamentos de casas e um deslizamento é exatamente onde estão reivindicando obras desde as chuvas fortes de abril de 2010. Até agora a Geo-Rio não foi no Laboriaux apresentar projeto de contenções“, disse uma moradora que não quis se identificar.
Estragos pela Estrada da Gávea
A Estrada da Gávea, a principal via da Rocinha, também sofre com as consequências dos últimos temporais. As dificuldades já existentes como lixo, ocupação da rua com lixeiras grandes, calçadas irregulares, buracos, carros e a falta de sinalização, pioraram depois das chuvas. Além de atrapalhar os pedestres que tentam circular pelas calçadas, motoristas também reclamam da falta de manutenção e consertos da rua.
Há quase um ano, o RioOnWatch publicou uma matéria sobre os principais problemas da via, porém de lá para cá não mudou muita coisa. Na Estrada da Gávea, há uma disputa por espaço, que vai desde quem atravessa entre um veículo e outro, até o motorista de ônibus que passa “tirando um fino” de carros estacionados na rua. Além disso, a falta de sinalização ainda é preocupante, pois com a carência do serviço os engarrafamentos formam-se com mais facilidade atrasando quem precisa se locomover.
Ainda com uma alta movimentação, sobretudo em horários de pico, a via possui problemas como a ausência de espaço suficiente para comportar um alto fluxo de pessoas e veículos, a falta de sinalização e muitos buracos. Luana Santos precisa dirigir diariamente e comenta que a via poderia ter agentes de trânsito. “Essa rua é uma via de mão dupla, onde existe muito buraco para dificultar nossa vida e ainda têm muitos carros estacionados indevidamente. Acho que deveriam existir equipes de trânsito para dar suporte onde precisa, porque têm horários que se tornam um verdadeiro caos. A população aumenta e o serviço que ajuda no horário de pico, é visto poucas vezes.”
Em entrevista cedida no dia 22 de maio de 2018 para o FavelaDaRocinha.com, a XXVII Região Administrativa da Rocinha afirmou que a solicitação para a manutenção do asfalto estava já prevista. “A Rocinha possui uma demanda muito grande e entendo que há reclamações, mas existem outras localidades para serem atendidas além da Rocinha, por isso há um atraso. O serviço para o asfalto já foi solicitado e durante a semana as obras serão iniciadas. Assim como a sinalização também já foi pedida”.
No entanto, durante esse período, de um ano, foram poucas intervenções, principalmente de sinalizações e consertos de buracos na rua que se agravaram com as chuvas. Procurados, os órgãos Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente (Seconserma) e Cet-Rio, que são responsáveis pelos consertos e sinalização, respectivamente, não se pronunciaram.