Iniciativa: Cooperativa Transvida
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Ano de Fundação: 2011
Comunidade: Vila Cruzeiro, Complexo da Penha
Missão: Produção de uma renda para catadores e suas famílias. Promoção da consciência ambiental, principalmente entorno do tratamento do lixo dentro da comunidade.
Como Contribuir: Doações de materiais recicláveisIniciativa: Instituto Nacional Lar dos Sonhos
Contato: Facebook
Ano de Fundação: 2014
Comunidade: Vila Cruzeiro, Complexo da Penha
Missão: Proporcionar atividades lúdicas e educativas para as crianças e adolescente da comunidade depois do período escolar. Sensibilizar sobre a importância da escola.
Como Contribuir: Doações e apadrinhamento (apoio financeiro destinado à criança escolhida pelo apoiador)
Ao atravessar as ruas da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, Zona Norte, Ilaci Oliveira Luiz não passa desapercebida. Conhecida de todos, ela nunca perde a oportunidade de cumprimentar e pedir notícias de moradores da comunidade. “Antes mesmo de saber o que é uma educadora social, eu já estava em busca de algo melhor para minha comunidade”, relata Ilaci sobre a origem do seu engajamento. Originária do Complexo da Penha a educadora social, Ilaci trabalha há mais de 25 anos com diferentes projetos sociais, todos dedicados às população “mais pobres e mais carentes da Penha”.
Cooperativa Transvida Promove Reciclagem e Consciência Ambiental
Em 2011, até então engajada em vários projetos através da sua igreja, Ilaci viu um grupo de moradores catando lixo na comunidade a procura de materiais recicláveis. Procurando uma maneira de ajudá-los, ela acabou propondo: “Gente, vocês não querem formar uma cooperativa?” Foi assim que ela conheceu Ana Lucia Rozeno da Paz.
Originária da Rocinha, ao se casar há 25 anos, Ana se mudou para o Complexo da Penha. Porém, depois que o seu marido perdeu seu emprego, eles tiveram que trabalhar com coleta de materiais recicláveis para sustentar a família. “No começo, ninguém conhecia nada. Só sabíamos separar o lixo e entender o valor de cada material”, conta Ana. “Na verdade, só faltava organização e administração.” Graças a ajuda voluntária de Ilaci, no desenvolvimento administrativo da organização, a Cooperativa de Reciclagem Transvida pôde iniciar sua jornada, com quatro voluntários e cerca de vinte catadores.
No início os catadores não tinham um local para concentrar o que recolhiam. Porém, em 2014 administradores da empresa de cimento Lagarfe, que possuía uma quadra abandonada e cheia de mato na Rua Moreira de Abreu na Vila Cruzeiro, ao verem os esforços dos catadores locais cederam a quadra para a Cooperativa Transvida. Agora com a capacidade de armazenar os resíduos, os catadores passaram a reunir e separar todos os resíduos recicláveis. No final de cada mês todo o material é recolhido por um catador do grupo, que tem um caminhão, e que leva tudo para ser vendido no Centro de Reciclagem Rio (CRR). Este processo é denominado “venda conjunta” e o valor da venda é dividido entre os catadores da Transvida.
Somente com a força dos braços, os catadores da Transvida realizam “um excelente trabalho”, explica Ana. Apesar de não ser o suficiente para trazer uma base salarial regular para os catadores, a iniciativa ajuda várias famílias que vivem somente do Bolsa Família e das cestas básicas dadas por igrejas. A maior parte do lixo coletado pela Transvida provém da própria comunidade, mas mesmo assim a cooperativa participa regularmente do Projeto Recicla CCS—que faz parte do Programa Recicla da UFRJ—que organiza a cada seis meses um edital para selecionar cooperativas e associações de catadores que receberão os resíduos recicláveis da Ilha do Fundão.
Graças a materiais valiosos, como o cobre—advindo dos resíduos recebidos pelo programa da UFRJ—cada catador da Transvida pode ganhar até R$500 por mês. “Essas são as épocas de engorda, épocas de riqueza”, brincou Ilaci. Mas pela falta de infraestrutura de armazenamento, os materiais como o papelão acabem perdendo valor em épocas de chuvas. “No verão, não é melhor. É muito difícil trabalhar no sol”, relatou Ana.
Mas ela insiste dizendo que apesar de ser um trabalho muito cansativo, “as pessoas estão aprendendo a fazer a separação do lixo, aprendendo a cuidar do meio ambiente”. Moradores falam uns com outros sobre os resultados do trabalho feito pela cooperativa, e “isso está abrindo mentes na nossa comunidade”, conclui Ana. Então, além de trazer uma renda para os catadores e suas famílias, Transvida promove a consciência ambiental, principalmente em relação ao tratamento do lixo dentro da comunidade.
Lar dos Sonhos Resgata Infâncias
“Eleições me deixaram como presidente [da Cooperativa Transvida]”, disse Ilaci. Hoje, Ilaci não quer mais ser presidente, insistindo que Ana, que é vice-presidente, deveria assumir o cargo junto com as outras voluntárias. “Eu só queria dar um empurrão. Ela não precisa mais de minha ajuda. Agora quero ficar mesmo com as crianças.” “As crianças” são as crianças do projeto Instituto Nacional Lar dos Sonhos. Em 2014,”eu tinha visto cinco, seis crianças trabalhando no lixão junto com os catadores”, relatou Ilaci. Por não se conformar com essa situação, Ilaci acabou chamando algumas crianças para a casa dela, para ensiná-las a ler e escrever.
Hoje, ela acompanha mais de 60 crianças e adolescentes na Vila Cruzeiro, no chamado Instituto Nacional Lar dos Sonhos. “Lar dos Sonhos, é porque muitas crianças aqui não têm casa no sentido de um lar. Muitas estão em um barraco.” A iniciativa funciona de segunda à sexta de 10:00h às 12:30h atendendo crianças de 4 a 6 anos e de 14:30h às 16:30h atendendo crianças de 9 a 14 anos. O turno da manhã conta com o apoio da voluntária Márcia Nogueira e o da tarde da psicopedagoga Renata Correa.
Através desse projeto, Ilaci tenta proporcionar “uma volta a infância que eles não viveram, por causa da vida muito sofrida que eles têm”. Lar dos Sonhos funciona unicamente graças a doações e apadrinhamento (quando um doador escolhe uma criança para dar suporte). As doações e apadrinhamento proporcionam comida, brinquedos e roupas para as crianças.
Todo dia, depois do período escolar, Ilaci propõe alfabetização, reforço escolar, oficinas de leitura e artesanato para crianças e adolescentes. A escola da atividade é de acordo com a vontade e necessidades dos jovens. Ilaci relatou o caso de uma menina de 15 anos que não tinha sido alfabetizada. “Ela achava que nunca ia aprender a ler.” Mas hoje, graças a um trabalho personalizado no Lar dos Sonhos, ela está lendo. “Isso é na verdade um trabalho básico, que qualquer criança deveria acessar”, explica Ilaci.
Além disso, Ilaci incentiva as crianças a irem à escola. “Crianças que fazem parte do projeto têm que ir para escola.” Mas o Instituto não trabalha somente com crianças. Ilaci procura também sensibilizar os pais sobre a importância de mandar as crianças para a escola. “O principal é não deixar as crianças sozinhas na rua, sem ir para escola ou para o Lar dos Sonhos.” De acordo com Ilaci, este acompanhamento permite manter as crianças longe do tráfico.” Eu vou até as escolas da comunidade para seguir o ensino que as crianças estão recebendo e falar com os professores.” Ilaci acolhe também jovens mães, com crianças no colo, para discutir métodos contraceptivos.
Nos últimos tempos, Ilaci criou junto com uma psicóloga um projeto de musicalização dedicado as meninas e adolescentes do Lar dos Sonhos. “Vamos pôr as meninas para tocar bateria, elas têm que colocar toda a raiva delas nas latas.” Motivada e batalhadora, Ilaci está sempre em busca de algo melhor para sua comunidade.
*A Cooperativa Transvida e o Instituto Nacional Lar dos Sonhos são dois de mais de 100 projetos comunitários mapeados pela Comunidades Catalisadoras (ComCat)–a organização que publica o RioOnWatch–como parte do nosso programa paralelo ‘Rede Favela Sustentável‘ lançado em 2017 para reconhecer, apoiar, fortalecer e expandir as qualidades sustentáveis e movimentos comunitários inerentes às favelas do Rio de Janeiro. Siga a Rede Favela Sustentável no Facebook. Leia outros perfis dos projetos da Rede Favela Sustentável aqui.