Antes de começar o texto, desde já, digo que todas as informações abaixo, são de uma opinião pessoal, sem generalizações.
Desde a entrada dos policiais e militarização da favela do Jacarezinho, no dia 14 de outubro de 2012, que o governo batizou de Unidades de Policia Pacificadora – mais conhecida como UPP – pouca coisa mudou na favela onde nasci e cresci.
Sou um ativista, fotógrafo da Agência Imagens do Povo e educador de fotografia. Com meus 25 anos de vida, vejo parte da cidade do Rio de Janeiro entrando num processo de elitização e como bem disse o deputado Marcelo Freixo, uma verdadeira cidade-negócio. O mapa das UPPs se mostra de maneira bem clara quais são os interesses do atual governo.
Simplesmente, as UPPs estão instaladas nos grandes centros da cidade, próximas onde se concentrarão os jogos e onde os turistas passarão na Copa do Mundo e as Olimpíadas (2014 – 2016).
As UPPs tem tudo para ser um projeto inovador, desde que ele seja implantado no Grande Rio, como um todo, sem escolhas compulsivas, arbitrárias ou por interesses econômicos se atribuindo a especulação imobiliária em algumas favelas como as da Zona Sul, próximas as praias.
A UPP precisa ser um projeto de cidade, não a militarização do espaço. Não é a UPP que precisa existir, é a policia como um todo que precisa mudar. Não existe pacificação sem diálogo com os moradores, atuantes locais. Não existe pacificação sem um projeto inteligente onde integre o morador e a escola, principalmente. Não existirá jamais a pacificação se a UPP for gerida pela PM e não pelos agentes culturais das localidades. Os rótulos, favela com UPP e favela sem UPP, não devem existir. O que o governo precisa articular é o diálogo com a sociedade organizada para que essa informação chegue aos demais moradores dos lugares. Porque não se faz Paz com armas, sem projeto. Não se faz Paz só em alguns lugares, se não é só projeto de marketing pessoal do governo, uma espécie de portfólio.
No Jacarezinho não está diferente. As maiores mudanças foram: a troca das caçambas da coleta de lixo, que ainda são pouquíssimas, devido a demanda da favela; todos os mototaxistas que agora circulam de capacetes; a Light trocou parte da iluminação nas entradas da favela; e o desarmamento provisório dos traficante locais; e a retirada dos ferros que atrapalhavam a entrada de carros e caminhões e a retirada dos usuários de crack do local. Porém, esta ultima que não adianta muita coisa, porque esses usuários não estão em tratamento, estão em outra favela, no caso, a Maré.
A esperança é de que nós moradores sejamos os condutores desse projeto, que o governo confie e atribua essa responsabilidade a quem de fato quer fazer pela favela. É preciso discutir a questão do uso de drogas, dos dependentes, dos bailes funk e certamente reuniões constantes com os comandantes e policiais que no momento estão instalados na favela. É importante conversarmos e agirmos, cobrar e propor para que não haja fatos como o da ultima semana, onde o jovem Patric, 14 anos, foi atropelado andando de bicicleta. A favela sem iluminação elétrica, os policiais foram chamados e disseram que não podiam fazer nada e não fizeram. Ligaram uma vez para os bombeiros, estava ocupado e não tentaram mais. Os moradores tiveram que dar o jeito, como sempre foi. E depois de uma hora e vinte minutos chegaram os bombeiros no local e os policiais em seguida, sem saber o que fazer num caso como aquele. Ou seja, esses profissionais se mostraram despreparados. Sorte ter sido somente “uma fratura exposta”. Se o caso fosse mais grave, certamente Patric morreria esperando o socorro ou faríamos algo equivocado ao tentar salvá-lo.
No mais, é preciso diálogo do governo com a população. Falta um planejamento de cidade pensado junto a sociedade que chamamos de organizada. O atual governo não enganará ninguém, dizendo que o Rio de Janeiro está em Paz, porque em nenhum lugar está.